Ricardo Lacerda
A saída da economia brasileira do fundo do
poço ao longo de 2017, depois de dois anos de retração no nível de atividade,
tem sido arrastada e desbalanceada setorialmente. Do ponto de vista setorial, a
supersafra agrícola resultou em incremento de 13% na produção do setor,
recuperando com folga as perdas de 4,3% do ano anterior, causadas pelos efeitos
da estiagem.
O setor industrial apresentou o mesmo volume
de produto do ano anterior, ou seja, crescimento zero, resultante do saldo do incremento
da indústria de transformação, da extrativa mineral e dos serviços industriais
de utilidade pública e da queda acentuada da construção civil (5%). O setor de
serviços apresentou crescimento residual, de 0,3%. O PIB fechou o ano de 2017 com
expansão de 1%.
O incremento do PIB do 4º trimestre, na
comparação com o 3º trimestre, ficou aquém do esperado, mas, quando são
observadas em conjunto as evoluções dos componentes das despesas e dos produtos
setoriais, há sinais robustos de que a economia deverá apresentar taxa de crescimento
moderadamente elevada em 2018. Angustiante é a demora na recuperação do mercado
de trabalho e o fato de que a retomada da construção civil ainda não surgiu no
horizonte.
O Gráfico 1 mostra as taxas de crescimento do
PIB trimestral dos setores e subsetores econômicos em relação aos mesmos
trimestres do ano anterior, em que fica explícita a aceleração do crescimento
na ampla maioria das atividades econômicas.
Com a exceção do setor agrícola, que teve um
desempenho excepcional concentrado no 1º trimestre, os setores e subsetores de
atividade econômica encerraram o 4º trimestre do ano com as taxas de
crescimento em aceleração ou atenuando o ritmo de queda, como é o caso da
atividade da construção civil.
Fonte: IBGE. CNT
Dispêndio
Do ponto de vista do dispêndio, ainda que as
exportações tenham sido importantes no crescimento econômico, a demanda
doméstica apresentou maior relevância, particularmente os gastos das famílias
com consumo.
Como apresentado no Gráfico 2, a taxa de
crescimento do consumo das famílias, na série que compara com os mesmos
trimestres do ano anterior, manteve-se em aceleração ao longo do ano, ainda que
os ganhos de aceleração tenham se atenuado na passagem do 3º para o 4º
trimestre, o que gerou alguma apreensão no sentido de que o estímulo do consumo
poderia ter se exaurido. Ao finalizar 2017,
o consumo trimestral das famílias estava rodando em um patamar 2,6% superior ao
mesmo período do ano anterior.
Ainda que bem menos importante no resultado
do PIB do que o incremento do consumo, o desempenho dos investimentos foi mais
impressivo. Depois de apresentar catorze taxas negativas na comparação com os
mesmos trimestre do ano anterior, a Formação Bruta de capital Fixo (FBCF)
voltou a apresentar incremento no 4º trimestre de 2017, nessa série.
Mesmo com a FBCF se situando em patamar
extremamente baixo e ainda registrando queda no resultado anual, há sinais de
que os investimentos na aquisição de máquinas, equipamentos e veículos estão
sendo retomados a fim de atender necessidades setoriais, como respostas ao incremento
do consumo. Com isso, a Formação Bruta
de Capital Fixo deverá apresentar crescimento em 2018, depois de quatro anos de
retração. A outra perna da FBCF, os investimentos imobiliários e em obras
públicas permaneceram em retração em 2017.
Finalmente, cabe examinar o comportamento do
consumo do governo. Como mostrado no Gráfico 2, esse componente manteve-se
deprimido ao longo de todo o ano. Diante das regras estabelecidas pela Lei do
Teto de Gastos, os dispêndios do governo
central deverão ficar congelados por um longo período, o que significa que esse
componente do dispêndio deverá continuar puxando para baixo a taxa de
crescimento do PIB.
Do ponto de vista dos componentes da demanda
agregada, a retomada FBCF é fundamental para acelerar crescimento do PIB em
2018, somando-se ao componente de consumo das famílias, dado que o saldo das
vendas de bens e serviços com o exterior e os gastos do governo não deverão
apresentar contribuição positiva no período.
Fonte: IBGE. CNT
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