Ricardo Lacerda
A retomada da economia brasileira tem sido
lenta e atribulada. Além da instabilidade política interna, inclusive com impactos
persistentes de setores atingidos pela operação Lava Jato, algumas turbulências
no cenário internacional se apresentam como ameaças a um crescimento já
bastante conturbado que, apesar de mostrar sinais de que está começando a
engrenar, demora a atingir velocidade de cruzeiro.
Mais angustiante é que, mesmo com a economia
em aceleração nos últimos meses, o emprego formal demora a retomar.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e
Empregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, informaram a geração de 77.822
empregos celetistas em janeiro de 2018. O último saldo positivo de criação de emprego
em janeiro havia sido em 2014. Se o resultado não chega a ser espetacular é um
bom número para o mês. A marcha recente de geração de emprego tem sido lenta,
insuficiente mesmo para absorver os jovens que ingressam no mercado de
trabalho, sem considerar o amplo estoque de empregos perdidos nos três últimos
anos.
Nos últimos doze meses foram acrescentados apenas
83.539 novos empregos formais, um incremento modesto para um país que perdeu 2,8
milhões de vínculos com carteira de trabalho desde janeiro de 2015. Na média
dos setores, o estoque de empregados com vínculos celetistas registrou nos
últimos doze meses o modesto incremento de 0,22%, frente a incremento do PIB superior a 1%. A demora do mercado de trabalho retomar o crescimento restringe a
recuperação da economia brasileira.
Em doze meses, as atividades de serviço e
comércio geraram os maiores contingentes de novos empregos, seguidas pelo setor
agropecuário e pela indústria de transformação. Mas a atividade da construção continuou
desempregando (foram menos 90,6 mil empregos), ainda que o saldo da contratação
de janeiro tenha sido positivo em cerca de 15 mil empregos.
Perdas acumuladas
O Gráfico a seguir mostra, segundo setor de
atividade, o quanto ainda teremos o que caminhar para recuperar os empregos perdidos
nos últimos três anos. Na comparação com janeiro de 2015, o estoque de emprego
formal em janeiro de 2018 se situava 6,8% abaixo. Se as maiores retrações se
verificavam nos 24 meses entre janeiro de 2015 e janeiro de 2017, quando o
estoque de emprego recuou 7 pontos percentuais, a reposição de emprego nos
últimos doze meses se limitou a 0,2%.
Coincidência ou não, a retrações mais
abruptas no estoque de emprego formal se verificaram nos setores mais
diretamente atingidos pela ação da operação Lava Jato, o setor extrativo
mineral (que inclui a exploração de petróleo e gás) e o segmento da construção
civil, esse último atropelado também pelos impactos do estouro da bolha
imobiliária e pela crise fiscal que fez paralisar as obras públicas.
O estoque de emprego com carteira assinada na
construção civil em janeiro de 2018 se situou 29,9% abaixo do existente em
janeiro de 2015. O emprego na atividade extrativa mineral também sofreu forte
retração e continua em forte retração nos últimos doze meses. No setor
secundário, apenas o emprego na indústria de transformação parou de cair e
sinaliza recuperação nos últimos meses.
A geração de emprego formal no setor
terciário apresentou comportamento um pouco mais favorável, particularmente nas
atividades de comércio e em alguns segmentos de serviços, especificamente nos
subsetores de serviços técnicos e administrativos e no de saúde, mas o único
setor de atividade em que o emprego formal em janeiro de 2018 era superior ao
do mesmo mês de 2018 era a agropecuária.
Especialistas têm se mostrado relativamente
otimistas em relação às perspectivas de geração de empregos formais ao longo de 2018, com as
projeções variando entre 700 mil e um milhão de novas vagas, Já seria um bom
começo, mas há ainda uma longa estrada para compensar as perdas acumuladas.
Gráfico: Índice de emprego formal nos meses
de janeiro entre 2016 e 2018. (Janeiro de 2015=100)
Fonte. MTE. CAGED
Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de março de 2018
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