Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 19 de março de 2018

Ascensão e queda do Nordeste


Ricardo Lacerda
As regiões mais pobres do país, Nordeste e Norte, foram relativamente favorecidas no ciclo de crescimento e de inclusão social do período 2004-2014. Ainda que essas regiões tenham permanecido com os piores indicadores em praticamente todas as dimensões do desenvolvimento econômico e social, elas avançaram mais rapidamente do que as regiões mais ricas, Sudeste e Sul, estreitando mesmo que não muito o fosso entre elas. A isso a literatura do desenvolvimento chama de processo de convergência.
As principais forças motrizes das regiões mais pobres no período de crescimento estiveram associadas a ganhos de renda e, portanto, de poder de compra, que geraram efeitos cumulativos na medida em que atraíram investimentos de empresas de outras regiões para participar nos mercados que se expandiam mais rapidamente, no bojo daquilo que ficou conhecido como a ascensão da Classe C. O aumento real do salário mínimo no período potencializou os efeitos do incremento do emprego sobre a expansão do mercado regional. As políticas de transferências de renda foram um capítulo adicional, mais importantes para a inclusão social do que propriamente para a expansão da massa de rendimentos. 
Se o incremento das rendas das famílias foi o principal impulso do crescimento nas regiões mais pobres, não estiveram ausentes investimentos em infraestrutura produtiva, urbana e social, como os investimentos em complexos portuários, em recursos hídricos, nas redes federais de escolas técnicas, entre outros.
Como se sabe, o ciclo de crescimento econômico se exauriu em 2014, após a reversão do cenário internacional. A aterrisagem brasileira na recessão mundial, como se sabe, foi uma das mais devastadoras do mundo, em meio a um turbilhão político do qual ainda não conseguimos emergir.
Depois do crescimento pífio de 0,5%, em 2014, a economia brasileira amargou uma das piores recessões de sua história, com o PIB recuando 3,5% em 2015 e 2016, e apresentou um muito modesto crescimento em 2017, de 1%. A dinâmica do emprego seguiu a evolução do nível de atividade, mas com uma estendida defasagem temporal, registrando-se geração de emprego formal no setor privado de mais de um milhão de pessoas (na média de quatro trimestres), em 2014, quando a economia começava a submergir, e redução de 950 mil empregos formais no setor privado na comparação nos 4 trimestres de 2017 em relação a 2016, mesmo com o nível de atividade econômica em crescimento.
Impactos regionais da crise
Não há ainda avaliações conclusivas sobre os impactos regionais da crise econômica que se seguiu o ciclo expansivo, mas, sobretudo, os indicadores de ocupação, emprego e renda sinalizam que as regiões mais pobres foram afetadas mais do que proporcionalmente.
Desempenhos setoriais têm importante poder explicativo, com setores como agricultura (pela estiagem e pela crise do setor sucroalcooleiro) e construção civil, principalmente, apresentando comportamentos bastante distintos conforme as regiões, mas parece haver um padrão regional comum aos vários setores, tema ao qual voltaremos a tratar em artigo subsequente. Apenas para ilustrar, o emprego formal no comércio e no segmento de outros serviços apresentou retrações de maior intensidade no Nordeste do que na média do país e da maioria das regiões.
Emprego no setor privado
O gráfico a seguir mostra as participações das regiões no total de pessoal ocupado com carteira de trabalho no setor privado na média de quatro trimestres, com base nos dados da Pesquisa Anual de Amostra Domiciliar Contínua (PNADC), entre 2012 e 2017.  Até 2015, na média dos quatro trimestres, a região Nordeste aumentou ano a ano sua participação, passando de  16,1%, em 2012, para 17%, em 2015. A região ganhou peso no total nacional tanto nos anos em que o emprego no setor privado cresceu, até 2014, como em 2015, por conta de a retração do emprego regional ter sido inferior à média nacional.  Os desempenhos do Nordeste em 2016 e 2017, todavia, foram piores do que a média nacional, fazendo com que a participação no emprego formal no setor privado retornasse à porcentagem de 2012, ou seja, de 16,1%.
Ainda que as variações de participação do Nordeste no emprego formal privado não pareçam tão expressivas ao primeiro olhar, elas caracterizam sim um desempenho muito superior do emprego regional no 1º período e muito inferior, no segundo período, como veremos a seguir.
As duas colunas mais à direita no gráfico mostram o peso das regiões na variação do emprego formal privado entre 2012 e 2015 e entre esse último ano e 2017, com a observação que no primeiro período o pessoal ocupado com carteira de trabalho no  privado no Brasil aumentou em 1,4 milhão, e no segundo período verificou-se uma retração de 2,4 milhões, sempre na média de quatro trimestres. Pois bem, entre 2012 e 2015, a região Nordeste, que apresentava pouco mais de 16% do emprego formal privado, participou  com mais do que o dobro dos novos empregos, 37,1%, a maior participação entre todas as regiões brasileiras.
Inversamente, entre 2015 e 2017, a região Nordeste participou com 29,2% dos empregos formais privados que foram eliminados, muito mais do que o peso da região nesse tipo de ocupação. Note-se que apenas as regiões Nordeste e Norte apresentaram perdas de emprego formal privado superiores aos seus pesos nesse tipo de ocupação. Caso se considere que a comparação mais pertinente seria entre as médias de 2017 e 2014, por serem anos de retração, as conclusões não seria diferentes, mesmo considerando que nesse caso as desvantagens do Nordeste seriam um pouco menos pronunciadas. Há também sinais de que a economia do Nordeste (e do Sudeste também) está demorando mais a se recuperar do que a média nacional, enquanto as regiões Centro-Oeste e Sul apresentam desempenhos relativamente mais robustos.




Fonte: IBGE. PNADCT

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