Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Sergipe no Nordeste e no Brasil: PIB per capita e rendimento médio

Ricardo Lacerda
No artigo de hoje e nos das próximas semanas vamos buscar destacar o que é especifico da economia de Sergipe no quadro geral do Nordeste e do Brasil. Focalizaremos nossa atenção na evolução da economia estadual nessas quase duas décadas do século XXI, frente ao comportamento dos demais estados da região e da média do Brasil e, em um segundo momento, procuraremos delinear como a atual crise econômica incide em Sergipe, sempre buscando identificar as especificidades que as distintas dimensões dela assumem em nosso estado. 

Nos primeiros artigos apresentaremos as características mais gerais da economia do estado, antes de começar a tratar propriamente dos efeitos da crise.

Humildade
Entendo que, ao se debruçar sobre uma realidade concreta, o mais importante para o pesquisador ou analista social é buscar o que é especifico daquela realidade em relação ao quadro geral em que ela se insere. 

Entendo ser recomendável que o estudioso exercite a humildade perante situações que são complexas, antes de proferir vaticínios cabais. É fundamental procurar compreender as nuances de um quadro socioeconômico, abrir os dados a níveis mais desagregados, por vezes desconfiar dos dados, e procurar entender o significado deles e suas implicações. Há sempre o risco de tratar a realidade como tábua rasa, com conclusões apressadas que avalizam a ascensão ao céu ou a condenação às profundezas do inferno. Começando com os grandes números. 

Maior PIB per capita
De acordo com os últimos dados disponíveis do IBGE, referentes ao ano de 2014, antes, portanto, da recessão se instalar inteiramente no país, Sergipe mantinha o PIB per capita mais elevado do Nordeste.

Naquele ano o PIB per capita anual de Sergipe alcançou R$ 16.882,71, frente à média regional de R$ 14.329,13 e a média nacional de R$ 28.500,24 (ver Tabela 1).  Depois de Sergipe, os estados de Pernambuco e do Rio Grande do Norte contavam com os maiores PIB per capita do Nordeste, enquanto Maranhão, Piauí e Alagoas apresentavam os piores resultados. Cabe destacar que o PIB per capita do Nordeste é o mais baixo entre as regiões brasileiras, até mesmo inferior ao da região Norte, atingindo apenas cerca da metade (50,3%) do PIB per capita nacional (R$ 28.500,24).

Nenhum estado da região Nordeste alcançava 60% da média nacional do PIB per capita. Esses dados por si mesmo sugerem que relacionar indicadores de estados nordestinos em relação à média nacional resulta na quase totalidade das situações em amplas desvantagens para todos eles.  Em um extremo o PIB per capita de Sergipe se situava 17,8% acima da média da região Nordeste, ainda que bem abaixo da média nacional, 59,2%.  No outro extremo, o estado do Maranhão registrava um PIB per capita 21,7% abaixo da média do Nordeste e  um pouco menos de 40% da média do país.

Tabela 1. PIB per Capita do Brasil, Nordeste e estados da região em 2014
Item
PIB per capita (R$)
Em relação à média do Nordeste (%)
Em relação à média do Brasil (%)
Sergipe
16.882,71
117,82
             59,24
Pernambuco
16.722,05
116,70
             58,67
R G do Norte
15.849,33
110,61
             55,61
Bahia
14.803,95
103,31
             51,94
Nordeste
14.329,13
100,00
             50,28
Ceará
14.255,05
99,48
             50,02
Paraíba
13.422,42
93,67
             47,10
Alagoas
12.335,44
86,09
             43,28
Piauí
11.808,08
82,41
             41,43
Maranhão
11.216,37
78,28
             39,36
Brasil
28.500,24
198,90
           100,00
Fonte: IBGE. Contas regionais

Rendimento médio

Outro indicador da dimensão renda do desenvolvimento é o rendimento médio do pessoal ocupado. Há pelos menos duas possibilidades principais de fazer essa comparação, uma considerando os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD), com resultados anuais, cujos resultados mais recentes são referentes ao ano de 2015, e outra com base na PNAD contínua, com a última edição referindo-se ao 1º trimestre de 2017.

Na tabela 2 apresentamos o rendimento médio nominal do trabalho principal das pessoas ocupadas nos estados da região Nordeste com base nos dados da PNAD contínua. Para minimizar os efeitos sazonais, apresentamos, além dos dados referentes ao 1º trimestre de 2017, uma média simples nominal dos últimos quatro trimestres, reconhecendo que o mais adequado seria calcular a média ponderada e com preços constantes.

Nos dois casos, Sergipe apresentou o maior rendimento médio nominal do trabalho principal entre os estados da região Nordeste.  No 1º trimestre de 2017, o rendimento no trabalho principal das pessoas ocupadas de Sergipe foi de 1.628 reais, contra a média de 1.398 reais da região Nordeste e 2.052 reais da média do país (Ver Tabela 2). Assim, o rendimento médio habitual do trabalhador no Nordeste era equivalente a 68,1% da média do país.

O rendimento médio das pessoas ocupadas em Sergipe se situou 16,5% acima da média da região e equivalia a 79,3% da média nacional. O estado do Maranhão apresentou o pior resultado, com rendimento médio 17,5% abaixo da média do Nordeste e equivalia a 55,5% da média nacional.


Rendimento médio nominal do trabalho principal, habitualmente recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana
Itens
1º trimestre de 2017
Média simples nominal entre o 2º trimestre de 2016 e o 1º trimestre de 2017
Reais
Em relação  à média do Nordeste (%)
Reais
Em relação  à média do Nordeste (%)
Sergipe
1.628
116,5
1.572
117,9
Pernambuco
1.577
112,8
1.517
113,8
Rio Grande do Norte
1.566
112,0
1.495
112,2
Paraíba
1.424
101,9
1.351
101,4
Bahia
1.388
99,3
1.299
97,4
Piauí
1.339
95,8
1.266
94,9
Alagoas
1.332
95,3
1.301
97,6
Ceará
1.318
94,3
1.278
95,8
Maranhão
1.140
81,5
1.089
81,7
Nordeste
1.398
100,0
1.333
100,0
Brasil
2.052
146,8
1.985
148,9
Fonte: IBGE. Pnad Contínua

O outro caminho para fazer esse cálculo é utilizando os dados da PNAD anual de 2015. Nesse caso, Sergipe não se encontra na liderança, mas há fatos curiosos que merecem ser destacados. Na série iniciada em 2001, Sergipe e Rio Grande do Norte, ambos estados produtores de Petróleo, disputam a liderança regional, com o Rio Grande do Norte aparecendo em 1º lugar na maioria dos anos.

Sergipe alcançou o maior diferencial em relação à média do Nordeste em 2011, nessa pesquisa, quando ficou em 21,7% acima do resultado regional. Em todo o período 2001 a 2013, o rendimento médio de Sergipe ficou acima da média do Nordeste. Em 2013, o rendimento médio de Sergipe era 16,9% acima da média regional, mas em 2014 e 2015, os resultados de Sergipe ficaram um pouco abaixo dessa média. Em 2015, o rendimento médio do trabalho principal em Sergipe na PNAD anual era de 98,6% da média regional. Oscilação tão ampla em pouco tempo, em geral, leva o pesquisador a, no mínimo, questionar a qualidade dos dados.

Para comparar, consultamos a PNAD continua para esse período. Considerando os dados da média dos quatro trimestres de 2015 da PNAD continua, o rendimento médio do trabalho principal de Sergipe era 11% acima da média regional, e 9,5% acima da média regional, considerando o último trimestre daquele ano.  Em tais situações é necessária no mínimo alguma cautela antes de concluir sobre a trajetória do estado em relação à media regional, no que diz respeito a esse indicador específico e à dimensão renda do desenvolvimento econômico. Na próxima semana, trataremos de novos indicadores do desenvolvimento de Sergipe, antes de penetrar propriamente no impacto da crise nacional sobre a economia local.
*

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A economia sergipana gerou 634 empregos formais em junho


Ricardo Lacerda
Há sinais de que o ciclo de queda do emprego na economia sergipana pode ter estancado no 2º trimestre de 2017. A prudência recomenda aguardar os próximos resultados mensais, mas é possível que tenha surgido uma luz no fim do túnel que indique uma elevação moderada na geração de empregos na segunda metade do ano.
Depois de um 1º trimestre de forte eliminação de empregos com carteira de trabalho, cortes que refletiram a confluência dos efeitos da recessão com fatores sazonais, como o final da safra da cana-de-açúcar, o emprego formal flutuou em torno da estabilidade em abril (+113) e em maio (-8) e apresentou resultado positivo um pouco mais robusto no mês de junho, com a geração de 634 vagas.
Na série iniciada em dezembro de 2015, como o Gráfico 1 permite visualizar, os resultados do 2º trimestre de 2017 parecem indicar um momento diferenciado do mercado de trabalho formal em relação a períodos anteriores, que poderá ou não ser confirmado nos meses vindouros. É possível que o saldo positivo na geração de emprego no trimestre tenha sido causado por ajuste nos excessos de cortes de vagas em meses anteriores (notadamente no setor sucroalcooleiro), mas há razões para acreditar que a evolução do emprego formal pode ter iniciado um período de estabilização seguido por elevação moderada, em linha com o que deve acontecer na média do país, mesmo que a maioria dos estados da região Nordeste devam apresentar demorar  .
Como em termos sazonais o mercado de trabalho na segunda metade do ano costuma ser melhor do que na primeira metade as próximas edições mensais das movimentações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Previdência Social, devem confirmar a tendência de incremento moderado, mesmo que em meses específicos possa haver cortes de emprego.

Emprego em junho

Fonte: MTPS. CAGED
A geração de emprego em junho foi significativa, entre outras coisas, por ser o melhor resultado para esse mês desde 2012. Em junho de 2013, haviam sido criados 235 empregos formais em Sergipe; em junho de 2014, apenas nove empregos, em junho de 2015, corte de 149 empregos e em junho de 2016 foram -647 empregos (ver Gráfico 2).
Fonte: MTPS. CAGED

Setores
Em termos setoriais, diversas atividades contribuíram para o resultado positivo de junho de 2017. Na indústria de transformação, a fabricação de alimentos e bebidas foi a atividade que mais criou emprego, com a contratação de um grande número de trabalhadores da indústria de açúcar no município de Laranjeiras. Certamente, o regime de chuvas favorável contribuiu para que o setor sucroalcooleiro antecipasse a contratação de parcela de funcionários que haviam sido desligados em março, mas o setor somente atingirá o pico de geração de emprego a partir de outubro.
Outras atividades industriais, menos afetadas por fatores sazonais do que as sucroalcooleiras também voltaram a contratar em junho, como a indústria de material elétrico, tanto para o uso residencial quanto para a indústria automobilística, atividade que ensaia certa recuperação no país, além da indústria mecânica.  Algumas atividades industriais continuaram a reduzir vagas em junho.
O emprego formal na atividade comercial não aumentou em junho, mas é digna de destaque a contratação de cerca de 200 vagas formais no município de Itabaiana, associadas ao início das atividades do shopping center local. No segmento de serviços,  a atividade  de teleatendimento (call center) voltou a contratar, como também algumas atividades de apoio a condomínios residenciais e bares,  restaurantes e lanchonetes.
O setor que ainda não esboçou reação é a construção civil, particularmente a construção de edifícios, atividade que continua cortando emprego massivamente, à medida em alguns prédios são concluídos e que poucos empreendimentos novos estejam iniciando.  A restrição do crédito à construção civil no segmento habitacional somente retarda a estabilização do emprego no setor.

Os analistas estão em geral precavidos em relação às perspectivas de recuperação do emprego na economia brasileira até o final do ano. No segundo trimestre, a agropecuária foi a principal atividade geradora de emprego, seguida pelo setor de serviços. O emprego na indústria tem oscilado entre resultados mensais positivos e negativos, e o comércio e a construção civil continuaram desempregando. A elevação dos preços dos combustíveis por conta dos aumentos dos impostos e os cortes de despesas anunciados pelo governo federal certamente não vão contribuir para a retomada do emprego. A intensificação do ritmo de redução dos juros nominais é uma das poucas alavancas disponíveis.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Uma conquista com gosto de derrota

Ricardo Lacerda

Os preços ao consumidor no mês de junho registraram a primeira deflação em onze anos. A última vez que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia apresentado recuo mensal foi em junho de 2006. Alimentação e bebidas e Habitação foram os dois grupos de preço que mais contribuíram para a queda do índice, mas os demais grupos ou se mantiveram estagnados ou apresentaram incrementos próximos a zero. Com o resultado de junho, o IPCA em doze meses subiu 3,0%, o limite inferior da meta de inflação para 2017. A profunda recessão em que se encontra economia brasileira produziu esse resultado, só aparentemente positivo.
A título de reduzir a inflação e de perseguir o ajuste fiscal, as políticas monetária e fiscal quebraram intencionalmente a espinha dorsal do mercado de trabalho. Entre as alternativas disponíveis para recolocar a inflação em patamar mais bem comportado optou-se por produzir desemprego com o propósito principal de conter os preços dos bens não comercializáveis, aqueles que não sofrem diretamente a competição de produtos importados, muito particularmente nos segmentos de serviços em que a remuneração do trabalho é a referência básica dos preços cobrados.
Pelos menos desde 2015 que alguns experts de forma disfarçada e outros declaradamente, como o professor da FGV Samuel Pessôa, têm argumentado em favor de quebrar o poder de barganha dos prestadores de serviço como um elemento central para conter os preços e ajustar a demanda ao produto potencial. Com os últimos resultados do IPCA vai ser difícil sustentar que a política de juros do Banco Central não errou a dose, causando sofrimentos desnecessários e gerando fortes desequilíbrios nas finanças públicas e privadas. A queda da inflação é a típica vitória de Pirro, uma conquista com gosto de derrota.
Diante do impacto da recessão sobre as receitas públicas e o desemprego causado além do estimado, alguns desses experts deverão ajustar o próprio discurso, propondo acelerar a redução dos juros nominais, mas jamais reconhecerão minimamente o desastre que produziram. É sempre possível atribuir a responsabilidade pela eliminação de mais de dois milhões de empregos formais e de deixar catorze milhões de brasileiros sem ocupação ao desequilíbrio fiscal promovido pelo governo anterior ou aos atuais desarranjos do mundo político; mais difícil será reconhecer as consequências do overshooting da política de juros altos.
Preços represados
Ao final de 2013, a inflação apresentava-se aparentemente comportada, com o IPCA alcançando 5,9%, mas havia muita pressão de preços contida. Os chamados preços monitorados, que inclui tarifas de energia elétrica, de gasolina e botijão de gás, entre outros, acumulavam fortes defasagens e naquele ano haviam subido apenas 1,5% (ver Gráfico 1), com custos fiscais muito elevados para o governo central e causando pressão sobre a rentabilidade da Petrobras. De outra parte, a manutenção do real valorizado funcionava como um subsídio aos preços de produtos importados, à custa da rentabilidade dos setores produtores dos bens comercializados, notadamente os bens industrializados, com efeitos potencialmente desestabilizadores sobre o balanço de pagamentos.
Ao assumir o comando da economia em novembro 2014, o futuro ministro Joaquim Levy implementou um programa de correção dos preços artificialmente contidos, promovendo um choque nos preços monitorados e intensa de desvalorização da moeda nacional. O impacto sobre os preços e sobre o poder de compara da população foi imediato e revelou-se muito maior do que o dimensionado pelo governo, jogando o país na recessão. Ao final de 2015, os preços monitorados que haviam aumentado 5,3% em 2014, se elevaram em 18,1% e os preços dos produtos comercializáveis saltaram de 6% para 8,3%.
Apesar da recessão já muito intensa em 2015, a elevação dos preços dos bens e serviços comercializáveis manteve-se em aceleração, diante de um mercado de trabalho que até então resistia à retração da demanda, e atingiu 8,7% no ano (Gráfico 2). Com a correção dos preços reprimidos e a mudança do patamar do câmbio, o IPCA de 2015 subiu 10,7%, causando apreensão nos mercados.
Desemprego e queda da inflação
Depois do choque de preços intencional, havia o risco dos mecanismos de propagação elevar o patamar do IPCA em relação ao padrão anterior, mas, mesmo na pior hipótese, o resultado de 2015 não seria repetido nos anos seguintes, posto que parte dos aumentos se dissiparia, não sendo incorporado pelos mecanismos de indexação, em um mercado fortemente recessivo e marcado pela contenção do poder de compra da população.
Dissipados progressivamente os efeitos dos choques de preço e frente à intensa deterioração do mercado de trabalho, todos os grupos de preços passaram a apresentar desaceleração no segundo semestre de 2016. Ao final do ano, o incremento do IPCA caiu para 6,3 e chegamos em junho de 2017 com índice de doze meses em 3,0%.  A queda da inflação para o limite inferior da meta de inflação reflete a intensidade da recessão no mercado de trabalho. Não é um resultado a ser comemorado. Cabe agora correr contra o prejuízo.

Fonte: IBGE e BCB



Fonte: IBGE e BCB

Publicado no Jornal da