Ricardo Lacerda*
O IBGE publicou na última quinta-feira o
cálculo oficial do Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre de 2017. O resultado
positivo que interrompeu a série de oito trimestres sucessivos de retração gerou
mais dúvidas do que certezas sobre a evolução do nível de atividade de nossa
economia.
Há suspeita de que o crescimento do PIB
constatado no período seria um típico caso de falso positivo, como sugeriu o
economista Flávio Serrano, em dois sentidos. Para alguns analistas, o nível de
atividade não teria de fato crescido no período ou pela menos não teria
crescido no ritmo estimado e a taxa encontrada seria resultante de problemas
nas pesquisas setoriais de lastreiam o seu cálculo. Para a maioria dos analistas,
o crescimento no 1º trimestre decorreu quase integralmente de um fato
episódico, não recorrente, sem desdobramentos para os trimestres seguintes; a recuperação da produção agropecuária no início do ano,
depois da forte retração em 2016 por conta da estiagem.
A posição dos analistas de mercado pode ser
sintetizada na afirmativa de Serrano que "a alta do PIB no primeiro
trimestre é fator pontual, não uma recuperação”. Refletindo a posição
majoritária, a professora Mônica de Bolle asseverou que o crescimento de 1% do
PIB brasileiro no 1º trimestre de 2017 em relação ao 4º trimestre de 2016 se
deveu inteiramente à agricultura e não seria sustentável diante do agravamento
da crise política que toma conta do país.
O PIB trimestral
O crescimento no PIB do 1º trimestre de 2017 em
relação ao último trimestre de 2016, já com os ajustes sazonais,
interrompeu o decréscimo acumulado de 8,0% desde o início de 2015. Com o
resultado positivo em 1%, acumula-se agora retração de 7,1% em relação ao 4º
trimestre de 2014 (ver linha dupla no Gráfico 1).
Mas um resultado positivo depois de oito edições
com taxas negativas é sempre um fato digno de atenção e quem sabe de
comemoração, caso de fato sinalizasse o fim do período recessivo e o início,
mesmo que gradual, da retomada do crescimento, com potencial de recuperar em
algum momento do segundo semestre parcelas dos empregos perdidos nos últimos
dois anos.
Há, todavia, sintomas relativamente robustos
de que o crescimento de 1,0% do PIB no 1º trimestre foi episódico, não devendo
se repetir nos demais trimestres do ano. Do ponto de vista setorial, a maior
contribuição ao crescimento foi do setor agropecuário que teria crescido 13,4%
em relação ao trimestre imediatamente anterior, mais do recuperando o que havia
perdido com a estiagem de 2015. A questão, todavia, é que a contribuição do
setor para o crescimento do PIB dos próximos trimestres muito dificilmente
poderá se repetir. Há ainda dúvidas também sobre o crescimento de 0,9% na
atividade industrial no 1º trimestre, se não seria mais propriamente um efeito
estatístico do que um dado de realidade que representasse a retomada do crescimento
do setor. As atividade de serviços apresentaram-se
estagnada no 1º trimestre (taxa de 0,0%)
Fonte: IBGE.CNT
Componentes do dispêndio
Do ponto de vista dos componentes da demanda,
a evolução do PIB no 1º trimestre mostrou que o poder de compra interno manteve
a trajetória de declínio. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior,
o consumo das famílias registrou queda residual de 0,1%, enquanto os
investimentos na Formação Bruta de Capital Fixo continuaram despencando (-1,6%)
e o consumo do governo recuou 0,6%.
Dentre os componentes de dispêndio, somente as exportações de bens e
serviços contribuíram para a obtenção da taxa positiva alcançada, porquanto o
incremento das importações de bens e serviços contribui negativamente no
cômputo do PIB (ver Gráfico 2).
Na parte inferior do Gráfico 2, apresenta-se
a taxa de crescimento dos componentes da demanda em relação ao mesmo trimestre
do ano anterior. Nessa comparação, o consumo das famílias se retraiu 1,9%, o
consumo do governo, 1,3%, e a Formação Bruta de Capital Fixa, 3,7%.
O principal sinal emitido pela publicação do
PIB do 1º trimestre de 2017 parece ter sido que será necessário aguardar
publicações de indicadores setoriais de meses seguintes para avaliar a real
situação do nível de atividade da economia brasileira.
Fonte: IBGE.CNT
Publicado no Jornal da Cidade, em 04/06/2017
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