Ricardo Lacerda
Em 1997, as exportações de produtos básicos, farelo
de soja e minério de ferro à frente, responderam por 27,3% da pauta exportadora
brasileira, contra 55,1% das exportações de manufaturados e 16% de
semimanufaturados.
Em 2014, as exportações de básicos alcançaram
48,7% do total e as de manufaturados 35,6%. A reprimarização da pauta
exportadora brasileira é um fato e diz muito do processo de desindustrialização
precoce que atingiu a nossa economia, à semelhança de outras nações ditas de
economia emergente.
Entre 2000 e 2013, impulsionadas pelo
crescimento da demanda da China por commodities alimentares e minerais, as
nossas exportações de produtos básicos se expandiram notáveis 800%, quando o
total das exportações nacionais apresentou crescimento de 339%.
Durante esses treze anos, entre 2001 e 2013,
o valor das exportações brasileiras apresentou média de crescimento anual de
12,1%, resultado da média ponderada de 18,4% de crescimento dos produtos
básicos e de 8,9% dos demais produtos.
O sonho acabou em 2013. As exportações
brasileiras recuaram 23,5% entre 2013 e 2016 e as exportações de produtos
básicos, 30%, ou 35,4% se comparadas com o pico em 2011.
Preço médio
Outra forma de observar a interrupção do
período de bonança do cenário externo depois de 2011 e, particularmente, após
2013, é voltando os olhos para a evolução do preço médio das exportações de
produtos básicos (ver Gráfico 1). Entre 2000 e 2011, o valor médio da tonelada
exportada de produtos básicos saltou de US$ 65 para US$ 274. A eclosão da crise
financeira no final de 2008 provocou apenas um soluço no valor médio em 2009,
que logo veio a retomar o crescimento nos anos seguintes.
Depois de 2011, o preço médio da tonelada
exportada iniciou uma trajetória de declínio que somente se acentuou entre 2013
e 2016. Está então demarcado o principal fator externo no espocar da atual
tragédia nacional. A resposta interna (de governo e antagonistas) a essa
inversão do cenário externo é que dá conta das características e dimensão que
ela vem assumindo.
Fonte: MDIC. Secex
Perspectivas dos exportadores de commodities
Na edição de junho do seu relatório Perspectivas
Econômicas Globais (GEP), o Banco Mundial refere-se a uma frágil recuperação da
economia mundial, com maiores incertezas em relação aos países emergentes
exportadores de commodities, como o Brasil, Rússia, Ucrânia, Nigéria, Argentina,
México entre outros.
O relatório assinala que o crescimento da economia
mundial estaria se firmando nesse início de 2017, registrando certa recuperação
da atividade industrial e expansão do comércio global, depois de dois anos de
desempenhos ruins nas transações comerciais internacionais. Entre os mercados
emergentes e economias em Desenvolvimento (EMDEs), os exportadores de
commodities estariam gradualmente deixando para trás os obstáculos ao
crescimento, enquanto os EMDEs importadores de commodities mantêm ritmo robusto
de expansão (ver Gráfico 2).
Mesmo reconhecendo que estão presentes substantivas
incertezas políticas, desde a escalada das ações terroristas a um novo ciclo de
recrudescimento do populismo xenófobo e protecionista, ainda que essas
expressões não constem do relatório, o Banco Mundial prevê que a economia
global deverá acelerar de 2,4%, em 2016, para 2,7%, em 2017(ver Gráfico 2).
Para 2018 e 2019 projeta-se crescimento global de 2,9%.
Vale observar no Gráfico 2 as diferenças
entre os desempenhos das economia emergentes exportadoras de commodities, que
vêm apresentando dificuldades nos últimos anos, Brasil particular mas não
exclusivamente, e as economias emergentes importadoras de commodities.
Fonte. World Bank. GEP, junho de 2017
O
relatório destaca que as condições financeiras internacionais permanecem
favoráveis e que, apesar das incertezas políticas, a volatilidade nos mercados
financeiros se mantém baixa. Um aspecto favorável às economias exportadoras de
commodities é o de que o preço médio se elevou moderadamente, como pode ser
constatado no preço médio das exportações de produtos primários brasileiros até
maio (Gráfico 1), concorrendo para aumentar a confiança em uma gradual
recuperação dos exportadores de commodities, depois de dois anos de estagnação.
Para o Brasil, o
relatório reviu a projeção de crescimento para 2017 de 0,5% para 0,3%, com o
consumo devendo permanecer estagnado. Para o Banco Mundial, o Brasil poderia
iniciar uma lenta recuperação em 2017, mas destaca que a economia do país ainda
está enredada em uma trajetória de aumento do desemprego e as questões
fiscais ainda não foram suficientemente encaminhadas.
Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de junho de 2017
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