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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Perspectivas para os países exportadores de commodities

Ricardo Lacerda

Em 1997, as exportações de produtos básicos, farelo de soja e minério de ferro à frente, responderam por 27,3% da pauta exportadora brasileira, contra 55,1% das exportações de manufaturados e 16% de semimanufaturados.
Em 2014, as exportações de básicos alcançaram 48,7% do total e as de manufaturados 35,6%. A reprimarização da pauta exportadora brasileira é um fato e diz muito do processo de desindustrialização precoce que atingiu a nossa economia, à semelhança de outras nações ditas de economia emergente.
Entre 2000 e 2013, impulsionadas pelo crescimento da demanda da China por commodities alimentares e minerais, as nossas exportações de produtos básicos se expandiram notáveis 800%, quando o total das exportações nacionais apresentou crescimento de 339%.
Durante esses treze anos, entre 2001 e 2013, o valor das exportações brasileiras apresentou média de crescimento anual de 12,1%, resultado da média ponderada de 18,4% de crescimento dos produtos básicos e de 8,9% dos demais produtos.  
O sonho acabou em 2013. As exportações brasileiras recuaram 23,5% entre 2013 e 2016 e as exportações de produtos básicos, 30%, ou 35,4% se comparadas com o pico em 2011.
Preço médio
Outra forma de observar a interrupção do período de bonança do cenário externo depois de 2011 e, particularmente, após 2013, é voltando os olhos para a evolução do preço médio das exportações de produtos básicos (ver Gráfico 1). Entre 2000 e 2011, o valor médio da tonelada exportada de produtos básicos saltou de US$ 65 para US$ 274. A eclosão da crise financeira no final de 2008 provocou apenas um soluço no valor médio em 2009, que logo veio a retomar o crescimento nos anos seguintes.
Depois de 2011, o preço médio da tonelada exportada iniciou uma trajetória de declínio que somente se acentuou entre 2013 e 2016. Está então demarcado o principal fator externo no espocar da atual tragédia nacional. A resposta interna (de governo e antagonistas) a essa inversão do cenário externo é que dá conta das características e dimensão que ela vem assumindo.

Fonte: MDIC. Secex

Perspectivas dos exportadores de commodities
Na edição de junho do seu relatório Perspectivas Econômicas Globais (GEP), o Banco Mundial refere-se a uma frágil recuperação da economia mundial, com maiores incertezas em relação aos países emergentes exportadores de commodities, como o Brasil, Rússia, Ucrânia, Nigéria, Argentina, México entre outros. 

O relatório assinala que o crescimento da economia mundial estaria se firmando nesse início de 2017, registrando certa recuperação da atividade industrial e expansão do comércio global, depois de dois anos de desempenhos ruins nas transações comerciais internacionais. Entre os mercados emergentes e economias em Desenvolvimento (EMDEs), os exportadores de commodities estariam gradualmente deixando para trás os obstáculos ao crescimento, enquanto os EMDEs importadores de commodities mantêm ritmo robusto de expansão (ver Gráfico 2). 

Mesmo reconhecendo que estão presentes substantivas incertezas políticas, desde a escalada das ações terroristas a um novo ciclo de recrudescimento do populismo xenófobo e protecionista, ainda que essas expressões não constem do relatório, o Banco Mundial prevê que a economia global deverá acelerar de 2,4%, em 2016, para 2,7%, em 2017(ver Gráfico 2). Para 2018 e 2019 projeta-se crescimento global de 2,9%.

Vale observar no Gráfico 2 as diferenças entre os desempenhos das economia emergentes exportadoras de commodities, que vêm apresentando dificuldades nos últimos anos, Brasil particular mas não exclusivamente, e as economias emergentes importadoras de commodities.



Fonte. World Bank. GEP, junho de 2017
O relatório destaca que as condições financeiras internacionais permanecem favoráveis e que, apesar das incertezas políticas, a volatilidade nos mercados financeiros se mantém baixa. Um aspecto favorável às economias exportadoras de commodities é o de que o preço médio se elevou moderadamente, como pode ser constatado no preço médio das exportações de produtos primários brasileiros até maio (Gráfico 1), concorrendo para aumentar a confiança em uma gradual recuperação dos exportadores de commodities, depois de dois anos de estagnação.
Para o Brasil, o relatório reviu a projeção de crescimento para 2017 de 0,5% para 0,3%, com o consumo devendo permanecer estagnado. Para o Banco Mundial, o Brasil poderia iniciar uma lenta recuperação em 2017, mas destaca que a economia do país ainda está enredada em uma trajetória de aumento do desemprego e as questões fiscais ainda não foram suficientemente encaminhadas.

Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de junho de 2017


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