Ricardo Lacerda
O governo comemora o saldo comercial recorde obtido no 1º
quadrimestre de 2017. As exportações
brasileiras entre janeiro e abril somaram US$ 68,1 bilhões, um incremento de
21,8% sobre o mesmo período de 2016. Como as importações registraram
crescimento menos acentuado (de 9,5%), o saldo comercial do quadrimestre saltou
de US$ 13,2 bilhões para US$ 21,4 bilhões, nessa comparação entre os primeiros
quadrimestres, equivalentes a expressivos 61,3% de aumento.
A projeção de mercado mais recente, anterior à publicação do
resultado oficial da balança comercial de abril, é de que as exportações
brasileiras em 2017 deverão superar US$ 200 bilhões, interrompendo a trajetória
de declínio que marcou os três últimos resultados anuais e reposicionando o
valor exportado ao patamar de 2010. É possível que essa projeção seja revista
para cima nas próximas edições do levantamento, assim como a do saldo comercial
anual, de pouco mais de US$ 50 bilhões, que já o confirmaria o melhor resultado
da série histórica.
Limitações
Ressaltados os aspectos positivos convém tratar das
limitações do resultado alcançado. A mais óbvia é de que o incremento do valor exportado
decorreu integralmente da melhoria nas cotações de alguns poucos produtos da
pauta de exportações, porquanto a quantidade exportada não apresentou
crescimento. O valor médio da tonelada exportada no 1º quadrimestre aumentou
23% (ver Tabela). Assim o incremento do valor exportado (de 21,8%) ficou mesmo
inferior à melhoria média das cotações, o que é outra maneira de dizer que a
quantidade exportada se retraiu, no caso em 0,9%.
A segunda limitação é que 93% do incremento do valor
exportado no 1º quadrimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano
anterior, concentraram em 15 produtos e que três produtos (minério de ferro,
óleo bruto de petróleo e soja) responderam por ¾ do incremento no valor
exportado. No caso do minério de ferro o valor das exportações apresentou
expansão de 141,1%, como fruto do incremento de 1,8% na quantidade exportada e
da melhoria da cotação do produto em 136,7%.
É uma situação bem distinta do desempenho da soja, que havia
sido afetado pela estiagem do ano anterior. O incremento em 26,4% no valor
exportado do produto no período resultou de incremento de 14,1% na quantidade
comercializada e de 10,8% na melhoria da cotação. Na média dos 15 principais
produtos exportados, cujo valor apresentou crescimento de simplesmente 45,2%, a
quantidade exportada recuou 0,6%, enquanto a cotação média apresentou elevação
de 46,1%. Os demais produtos que compõem a pauta exportadora registraram
crescimento de apenas 2,4% no valor exportado.
Perspectivas
O desempenho exportador do Brasil permanece muito dependente
do comportamento de um número muito restrito de produtos básicos ou
semimanufaturados. A melhoria momentânea nas cotações de tais produtos no
mercado mundial traz um alívio importante, mas não há segurança de que eles vão
continuar se valorizando. Com essa vulnerabilidade, oscilações nas cotações
decorrentes de mudanças nas perspectivas de crescimento da China e de alguns
outros mercados essenciais fazem toda a diferença no desempenho exportador do
país, enquanto a evolução da taxa de câmbio continua sendo determinada mais
pelos fluxos financeiros e por seu impacto sobre os preços internos do que a
partir de considerações sobre a competitividade das nossas exportações. Não vai
ser ainda dessa vez que o Brasil vai voltar a contar com novo surto de
crescimento impulsionado pelo drive exportador.
Tabela: Taxa
de crescimento das Exportações dos Principais Produtos no Quadrimestre
janeiro-abril de 2017 em relação a igual período de 2016 (em %)
Fonte: MDIC-SECEX
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