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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Instabilidade política e crise econômica

Ricardo Lacerda

A equipe econômica não teve tempo de comemorar os resultados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), referente ao mês de março, e do emprego do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do mês de abril, quando uma nova tormenta política tomou conta do país, enredando em novas denúncias de corrupção e desmando, de forma pessoal e inequívoca, o presidente da república, Michel Temer, e o senador Aécio Neves, candidato derrotado nas eleições e presidente do PSDB, partido que é o maior avalista do atual governo junto às elites empresariais, à alta classe média urbana e aos organismos financeiros internacionais.

Os efeitos de retroalimentação entre a instabilidade política e a recessão econômica vêm marcando a vida brasileira desde o final de 2014, quando a então oposição não reconheceu a vitória de Dilma Rousseff no pleito presidencial, dando início à escalada de ataques que redundou no afastamento em maio de 2016 da presidente eleita.

Depois que a esperada retomada do crescimento no segundo semestre de 2016 não se confirmou, as projeções de mercado apontavam para uma recuperação muito lenta ao longo de 2017 e crescimento moderado para 2018 e anos seguintes, de forma que somente em 2021 o PIB brasileiro recuperaria o patamar de 2014.

A nova crise política, atingindo o núcleo do poder central, parece mostrar que o arremedo de solução institucional encontrada com o afastamento da presidente eleita terá fôlego curto e resultados pífios, além de revelar um custo desmesuradamente elevado, diante da demonstração de desapreço pelos seus patrocinadores aos princípios mais elementares da democracia e do estado de direito.


Termômetro quebrado

É verdade que o crescimento alcançado pelo IBC-BR do 1º trimestre é atípico em vários sentidos. Em primeiro lugar porque resultou principalmente da mudança das metodologias da Pesquisa Mensal do Comércio e da Pesquisa Mensal de Serviços, ambas do IBGE, que afetou o cálculo de fevereiro.

Como o IBGE não fez a chamada retropolação dos resultados anteriores a janeiro de 2017 de acordo com a nova metodologia, na prática os índices dos primeiros três meses do ano do nível de atividade do setor serviços e do volume de vendas do varejo não são comparáveis com os de períodos anteriores, contaminando o cálculo do IBC-BR.  Como assinalou o economista Marcos Lisboa, em artigo publicado em 30 de abril na Folha de São Paulo, o IBGE quebrou o termômetro.

Para ilustrar a dimensão da distorção gerada pela mudança de metodologia sem atualizar os resultados anteriores é suficiente assinalar que o IBC-BR do 1º trimestre de 2017 cresceu 1,12% em relação ao 4º trimestre de 2016, na série em que os efeitos sazonais já estão descontados, muito acima do crescimento previsto pelo mercado para todo o ano de 2017, de 0,5%.  

O cálculo do crescimento do IBC-BR do 1º trimestre é inteiramente artificial. Caso repetido nos trimestres restantes do ano, o IBC-BR do 4º trimestre de 2017 apontaria para um resultado 4,56% acima do mesmo trimestre de 2016, quando a mais recente projeção de mercado é de que o PIB do último trimestre deve ficar em torno de 1,9% maior do que o equivalente de 2016. Nessa hipótese, o IBC-BR de 2017 apresentaria o crescimento fantástico de 4,1% em relação ao ano anterior, muito distante da situação real em que estamos vivendo, de uma estabilização arrastada e com recuperação muito lenta do nível de atividade e de desemprego generalizado.   

O resultado fora da linha do volume de vendas no varejo pode ser visto no indicador de janeiro, que depois foi parcialmente corrigido pelas quedas de fevereiro e março (ver Gráfico).

A geração de 59.856 empregos formais em abril é um resultado bem vindo, mas não sinaliza o início da recuperação do mercado de trabalho, depois do fechamento de 2,8 milhões de postos de trabalho nos últimos dois anos. O IBC-BR de março e o CAGED de abril são inconclusivos em relação a que estágio nos encontramos no momento em relação à estabilização e retomada da economia.  Os impactos da nova crise política sobre o nível de atividade, por sua vez, certamente não serão favoráveis, mas ainda é muito cedo para dimensioná-los. Talvez o mais importante do novo episódio que paralisa o país atualmente tenha sido o de demonstrar o elevado custo político, social e econômico de soluções institucionais artificiais, como o afastamento da presidente eleita.




Fonte: IBGE. PMC

Publicado no Jornal da Cidade, em 21/05/2017

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