Ricardo Lacerda
A equipe econômica não teve tempo de comemorar os
resultados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR),
referente ao mês de março, e do emprego do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED), do mês de abril, quando uma nova tormenta política tomou conta do
país, enredando em novas denúncias de corrupção e desmando, de forma pessoal e
inequívoca, o presidente da república, Michel Temer, e o senador Aécio Neves, candidato
derrotado nas eleições e presidente do PSDB, partido que é o maior avalista do
atual governo junto às elites empresariais, à alta classe média urbana e aos
organismos financeiros internacionais.
Os efeitos de retroalimentação entre a instabilidade
política e a recessão econômica vêm marcando a vida brasileira desde o final de
2014, quando a então oposição não reconheceu a vitória de Dilma Rousseff no pleito
presidencial, dando início à escalada de ataques que redundou no afastamento em maio de 2016 da
presidente eleita.
Depois que a esperada retomada do crescimento no segundo
semestre de 2016 não se confirmou, as projeções de mercado apontavam para uma
recuperação muito lenta ao longo de 2017 e crescimento moderado para 2018 e
anos seguintes, de forma que somente em 2021 o PIB brasileiro recuperaria o
patamar de 2014.
A nova crise política, atingindo o núcleo do poder central,
parece mostrar que o arremedo de solução institucional encontrada com o
afastamento da presidente eleita terá fôlego curto e resultados pífios, além de
revelar um custo desmesuradamente elevado, diante da demonstração de desapreço pelos
seus patrocinadores aos princípios mais elementares da democracia e do estado
de direito.
Termômetro quebrado
É verdade que o crescimento alcançado pelo IBC-BR do 1º
trimestre é atípico em vários sentidos. Em primeiro lugar porque resultou principalmente
da mudança das metodologias da Pesquisa Mensal do Comércio e da Pesquisa Mensal
de Serviços, ambas do IBGE, que afetou o cálculo de fevereiro.
Como o IBGE não fez a chamada retropolação dos resultados
anteriores a janeiro de 2017 de acordo com a nova metodologia, na prática os
índices dos primeiros três meses do ano do nível de atividade do setor serviços
e do volume de vendas do varejo não são comparáveis com os de períodos
anteriores, contaminando o cálculo do IBC-BR. Como assinalou o economista Marcos Lisboa, em
artigo publicado em 30 de abril na Folha de São Paulo, o IBGE quebrou o
termômetro.
Para ilustrar a dimensão da distorção gerada pela mudança
de metodologia sem atualizar os resultados anteriores é suficiente assinalar
que o IBC-BR do 1º trimestre de 2017 cresceu 1,12% em relação ao 4º trimestre
de 2016, na série em que os efeitos sazonais já estão descontados, muito acima do
crescimento previsto pelo mercado para todo o ano de 2017, de 0,5%.
O cálculo do crescimento do IBC-BR do 1º trimestre é
inteiramente artificial. Caso repetido nos trimestres restantes do ano, o
IBC-BR do 4º trimestre de 2017 apontaria para um resultado 4,56% acima do mesmo
trimestre de 2016, quando a mais recente projeção de mercado é de que o PIB do
último trimestre deve ficar em torno de 1,9% maior do que o equivalente de
2016. Nessa hipótese, o IBC-BR de 2017 apresentaria o crescimento fantástico de
4,1% em relação ao ano anterior, muito distante da situação real em que estamos
vivendo, de uma estabilização arrastada e com recuperação muito lenta do nível
de atividade e de desemprego generalizado.
O resultado fora da linha do volume de vendas no varejo
pode ser visto no indicador de janeiro, que depois foi parcialmente corrigido
pelas quedas de fevereiro e março (ver Gráfico).
A geração de 59.856 empregos formais em abril é um
resultado bem vindo, mas não sinaliza o início da recuperação do mercado de
trabalho, depois do fechamento de 2,8 milhões de postos de trabalho nos últimos
dois anos. O IBC-BR de março e o CAGED de abril são inconclusivos em relação a
que estágio nos encontramos no momento em relação à estabilização e retomada da
economia. Os impactos da nova crise
política sobre o nível de atividade, por sua vez, certamente não serão
favoráveis, mas ainda é muito cedo para dimensioná-los. Talvez o mais
importante do novo episódio que paralisa o país atualmente tenha sido o de demonstrar
o elevado custo político, social e econômico de soluções institucionais
artificiais, como o afastamento da presidente eleita.
Fonte: IBGE. PMC
Publicado no Jornal da Cidade, em 21/05/2017
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