Ricardo Lacerda
Com um atraso pouco usual, o IBGE publicou na
semana passada os resultados de janeiro do nível de atividade do varejo e do
setor de serviços, o que permitiu que o Banco Central calculasse o seu índice
de atividade econômica referente àquele mês. O resultado mensal continuou muito ruim. Na
comparação com dezembro, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR) recuou
0,26% em janeiro.
Se a atividade industrial dá indícios que já
chegou ao fundo do poço, um buraco bem profundo convém lembrar, os níveis de
atividade do varejo e das atividades de serviço continuam a declinar em ritmo
acelerado. Em janeiro, o volume de
vendas no varejo registrou retração de 0,7% e o volume de serviços, de
2,2%.
É possível inferir dos resultados dos últimos
meses que os ganhos de confiança e a iniciativa concertada de disseminar
otimismo após aprovação do teto do gasto federal e do início da tramitação no
congresso das reformas trabalhista e previdenciária não se traduziram até o
momento em impulso no nível de atividade econômica, nem mesmo lograram
estabilizá-lo.
É como se a continuidade da queda do emprego
e de outras formas de ocupação, a contração da massa de rendimentos e a
restrição do acesso ao crédito, não somente o seu custo elevado, estabelecessem
limites físicos por parte da demanda que restringem a retomada do crescimento. Com a deterioração do mercado de trabalho
ainda se dando em ritmo muito acentuado, crédito restrito e política fiscal
pró-cíclica, ganhos de confiança e redução de juros podem ter eficácia
limitada. A outra fonte potencial de impulso do nível de atividade, o retorno
das concessões de infraestrutura, tampouco ganhou a velocidade esperada.
Isso não significa, todavia, que o nível de
atividade nos próximos meses não deverá se estabilizar e passar a apresentar
crescimento modesto, mas os resultados recentes revelam o quanto tem sido
penosa a estabilização da economia.
Indicadores
A projeção de mercado mais recente (24 de
março) é de que no 1º trimestre de 2017 o PIB estaria rodando 1% abaixo do
mesmo período de 2016, depois de cair 2,5% no último trimestre, portanto um
ritmo de queda inferior à metade do resultado anterior. Somente no terceiro trimestre de
2017 seria constatado crescimento nessa série que compara com igual período do
ano anterior.
A evolução do ritmo queda do nível de
atividade pode ser examinada também com base evolução do IBC-BR na série livre
de efeitos sazonais, comparando com os trimestres imediatamente anteriores e
com o trimestre móvel anterior, como apresentado no gráfico elaborado. A
vantagem dessas séries é de mostrar a evolução do comportamento do indicador do
nível de atividade na margem, em relação a um período anterior bem próximo, sem
as desvantagens dos resultados mensais que são sujeitos a fortes
flutuações.
Nessa série livre de efeitos sazonais, o
IBC-BR trimestral, depois de acentuar o ritmo de queda entre agosto em setembro
do ano passado, passou a apresentar desaceleração muito suave nos resultados
trimestrais seguintes (ver linha contínua). No trimestre encerrado em janeiro,
o IBC-BR caiu 0,51% em relação ao trimestre anterior (agosto-outubro), mas
trata-se ainda de uma intensidade de queda muito forte, acima de 2% em termos
anualizados.
Na linha tracejada, que compara cada
trimestre com o trimestre móvel imediatamente anterior, confirma-se o quanto
está sendo penosa, com idas e voltas, a trajetória de estabilização da economia
nos últimos meses. O IBC-BR do trimestre novembro de 2016 – janeiro de 2017
caiu 0,21% em relação ao trimestre outubro de 2016-dezembro de 2016,
praticamente a mesma taxa de retração anterior nessa série, que já não melhora
desde o trimestre encerrado e novembro.
O setor de serviços tem apresentado uma
evolução especialmente problemática, recuando em ritmo superior a 2% a cada
trimestre. De sua parte, a deterioração
do mercado de trabalho também não mostra ainda sinais consistentes de
arrefecimento.
Fonte: Banco Central do Brasil
Publicado no Jornal da Cidade, em 02/04/2017
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