Ricardo Lacerda
A ata da reunião do Conselho de Política Monetária (COPOM) do Banco Central dos dias 18 e 19 de outubro minimizou o significado dos resultados setoriais de nível de atividade muito ruins nos últimos meses, dentre os quais a queda de 3,8% na produção industrial e de 2% no varejo ampliado em agosto.
A opção manifestada pelo COPOM foi de
continuar perseguindo a desaceleração da inflação a fim de consolidar a
percepção do mercado sobre o seu compromisso com o atingimento da meta
estipulada para 2017, mesmo à custa da continuidade do agravamento do
desemprego e da prostração dos negócios. Não teria chegado o momento, na
perspectiva do comitê, de promover reduções mais expressivas na taxa básica de
juros porque a trajetória da inflação ainda não aponta para uma convergência
para a meta de 4,5% no próximo ano.
Para o Banco Central, apesar do forte
declínio do IPCA em agosto, os preços dos serviços ainda resistem a cair,
exigindo “persistência” na política monetária. Em bom português significa que o
COPOM deverá manter nos próximos meses os juros reais em patamar muito elevado
com o propósito de acentuar o desemprego e deprimir a demanda a fim de forçar a
queda dos preços no setor. Para o BC "há sinais de uma pausa recente no
processo de desinflação dos componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo
econômico e à política monetária, o que pode sinalizar convergência mais lenta
da inflação à meta".
Na reunião de outubro, o COPOM decidiu
pela redução de apenas 0,25 p.p. na taxa básica de juros, o que significa
manter os juros reais muito elevados e possivelmente, a depender da velocidade
da queda do IPCA, em elevação, apesar de a atividade econômica continuar
declinando mês a mês.
O recado foi dado e é claro. Os juros
permanecerão em patamar muito elevado enquanto os preços não convergirem para a
meta de inflação. E o país pagará o custo necessário para que isso seja
alcançado.
Riscos de reversão
Textualmente, os membros do COPOM afirmaram que não consideram haver maiores riscos de a economia interromper a trajetória de estabilização e a retomada do nível de atividade, apesar dos resultados muito ruins dos últimos meses.
Mesmo reconhecendo que “a economia
segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido
nos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa
de desemprego... oscilações no atual estágio do ciclo econômico são comuns e
provavelmente explicam os resultados recentes.
Para o COPOM, os resultados setoriais
ruins seriam normais e não poriam em risco o cenário de estabilização e
retomada: “No seu conjunto, a evidência disponível é compatível com
estabilização recente da economia brasileira. Índices de confiança,
expectativas de crescimento do PIB para 2017 apuradas pela pesquisa Focus e o
comportamento de prêmios de risco e preços de ativos apontam para uma possível
retomada gradual da atividade econômica”.
Para não deixar margem à dúvida, manifestaram
a posição de que “os membros do Comitê concordaram que a evidência disponível é
compatível com estabilização recente da economia brasileira e possível retomada
gradual da atividade econômica”. Não haveria, pois, risco da recessão se
agravar a ponto de inviabilizar a estabilização e a retomada, mesmo que essa se
dê em ritmo muito lento.
Choque de confiança
A aposta do COPOM é de que o
compromisso demonstrado em alcançar a meta de inflação e a aprovação pelo
congresso nacional ainda em 2016 do Projeto de Emenda à Constituição que impõe
um teto real aos gastos públicos por 20 anos (a PEC-241) vão se traduzir em
novos ganhos de confiança e com isso o consumo e o investimento privados
retomarão em um segundo momento. Quando as novas edições das pesquisas de preço
sinalizarem de forma consistente a convergência da inflação para a meta, o
ritmo de redução dos juros poderá ser acentuado.
A ata deixou claro portanto que a política monetária vai continuar priorizando os ganhos provenientes da melhoria da confiança do mercado associados ao comprometimento das autoridades monetárias com a redução da inflação. E que a equipe econômica acredita que, mesmo que o mercado de trabalho e o nível e atividade mantenham-se prostrados por mais alguns trimestres, esse seria o preço a pagar para demonstrar o compromisso das autoridades monetárias com a perseguição da meta de inflação.
No Gráfico são apresentadas as
evoluções da SELIC, do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) acumulado
nos doze meses anteriores e da diferença entre eles, que representa o que
chamamos de juros reais anualizados, não necessariamente auferidos. Ainda que a
SELIC tenha se mantido em 14,25% entre janeiro e setembro de 2016, os juros
reais anualizados saltaram mais de 2 pontos percentuais, diante da redução do
IPCA em doze meses. Frente ao aprofundamento recente da recessão muitos
analistas defenderam que o COPOM decidisse por acentuar o ritmo de queda dos
juros a fim de aliviar o endividamento de empresas e famílias e atenuar a perda
de dinamismo da economia. Mas o COPOM deixou muito claro quais são suas
prioridades. Aguardemos as próximas reuniões do comitê.
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