Ricardo Lacerda
Em meio a semana muito tumultuada no cenário
político, voltou ao debate econômico a perspectiva de que o nível de atividade estaria
próximo de atingir o “fundo do poço”, ponto em que deixaria de declinar. No
primeiro momento a economia estabilizaria em uma transição para a retomada,
mesmo que em ritmo muito tímido.
Depois de cair 3,8%, em 2015, e continuar se
retraindo nos dois primeiros meses de 2016, projeta-se que em algum momento do
terceiro trimestre o PIB deixaria de cair e apresentaria um crescimento
residual no quarto trimestre, ainda que na média anual a queda deva ser bem acentuada,
superior a 3%. Todavia, essa trajetória de retomada débil no final do ano vai
depender do que vai acontecer no quadro político, que se agravou muito nas
últimas semanas. Como já foi consignado, a depender da evolução da situação
política podemos nos defrontar com um
alçapão lá no fundo do poço.
Em parte, a trajetória de estabilização e posterior
recuperação do nível de atividade responderia aos próprios mecanismos do ciclo
de negócio, como o comportamento dos estoques, do nível de endividamento das
famílias e a reversão de sinal na interação entre o acelerador do investimento
e o multiplicador de renda. Para iniciar essa nova etapa do ciclo de negócios, ganhariam
destaque os primeiros resultados mais robustos dos efeitos da desvalorização
cambial sobre as exportações e sobre a substituição de importações pela
produção interna.
O fundo do poço
Em debate na semana passada promovido pela
Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito, reportado pelo Valor
Econômico (09/03/2016), o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn,
apesar de reticente sobre a interrupção do declínio do nível de atividade,
afirmou que "se isso for verdade, a economia não para de cair amanhã, mas
para de cair no segundo semestre".
Alguns indicadores antecedentes estariam apontando
para essa reversão na trajetória, como a estabilidade dos índices de confiança,
a queda dos estoques (que motiva a retomada da produção) e a melhoria do índice
de difusão do crescimento elaborado pelo banco, que apontaria para os últimos
meses o crescimento do nível de atividade em 21% dos setores pesquisados.
No mesmo evento, o economista-chefe do
Bradesco, Octávio de Barros, assinalou que alguns setores e algumas regiões
já estariam reagindo à mudança do patamar do câmbio, “há cidades, como Franca
(SP), que estão gerando emprego, por causa das exportações para Estados Unidos,
Europa. Até o setor de autopeças, que estava péssimo, já tem alguma reação. A
substituição de importações também está muito forte", afirmou.
A segunda perna da lenta retomada, em um
momento já posterior, seria movida pelos investimentos por meio de concessão de
infraestrutura. O terceiro fator a mover a economia seria a redução da inflação
nos próximos meses, concorrendo para recuperar parte da perda recente do poder
de compra da população. Na projeção do banco, o IPCA cairia para 6,9%, em 2016,
e 5,3%, em 2017.
Para o ministro do desenvolvimento, Armando
Monteiro, a atividade industrial já teria atingido o seu ponto de baixa. Diversas
atividades industriais já estariam sendo impactadas positivamente pelo
crescimento das exportações de manufaturados e pelo intenso processo de
substituição das importações pela produção doméstica.
Exportação da manufaturados
Os resultados mais recentes das exportações
de produtos manufaturados revelam uma melhoria robusta em curso, tanto no valor
quanto no volume físico comercializados. O gráfico a seguir apresenta a
evolução das exportações totais e das exportações de produtos manufaturados em
termos trimestrais, entre o início de 2015 e fevereiro de 2016, na comparação
com o mesmo trimestre do ano anterior.
No 1º trimestre de 2015, as exportações
totais estavam declinando 13,7% em valor, na comparação com o primeiro
trimestre de 2014. Em termos de peso elas apresentavam crescimento de 10,7%. No
trimestre encerrado em fevereiro de 2016 (dez_2015 a fev_2016), o valor
exportações totais apresentou redução bem menos pronunciada do que nos
trimestres anteriores (4,4%). Em termos mensais, o valor das exportações de fevereiro
de 2016 cresceu 10%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior,
interrompendo a série de quedas mensais iniciada em agosto de 2014, nessa
comparação.
O desempenho das exportações de produtos
industrializados já estaria refletindo os ganhos de competitividade promovidos
pela mudança na paridade cambial. No trimestre encerrado em fevereiro, o valor
das exportações de produtos manufaturados inverteu o resultado de negativo para
positivo, na comparação com o mesmo período do ano anterior, com crescimento de
3,9%. Em termos de volume físico, as exportações de manufaturados se elevaram
em 10,9% (ver Gráfico).
Alguns analista têm apontado que a
sustentabilidade no médio e longo prazo do crescimento, que poderá vir a se
confirmar ou não, a partir do último trimestre do ano dependerá da reformas
estruturais que assegurem a melhoria da situação fiscal e que promovam ganhos
de produtividade. A confirmação da melhoria mais imediata, todavia, vai
depender dos desdobramentos, totalmente imprevisíveis, da crise política.
Fonte: MDIC-SECEX
Publicado no Jornal da Cidade, em 13/03/2016
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