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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 28 de março de 2016

Crise econômica e luta política


Ricardo Lacerda

Difícil fugir do sentimento depressivo de que as forças políticas que se opõem ao projeto político que comanda o país preparam o assalto ao poder para as próximas semanas.
A ampla coligação para a tomada do poder é liderada pelos derrotados nas quatro últimas eleições nacionais e, por isso mesmo, desconfia da soberania popular. Os nomes mais proeminentes desse agrupamento mandaram às favas os escrúpulos democráticos de qualquer natureza, que se julgava que cultivassem. De outros integrantes da coligação, nada se esperava mesmo.
Uns e outros querem o poder e perceberam a oportunidade real. Sentindo o cheiro de carne viva, as hienas afiam os dentes enquanto o baixo clero apressa o passo para pular de um barco para outro. Se as pessoas comprometidas com a democracia, nas estruturas dos três poderes e na sociedade, não se mobilizarem, o golpe em curso será bem sucedido, jogando o país em uma farsa gigantesca.
Oportunidade real
Sem pretender reduzir a crise política à dimensão econômica, diante de processos reais que são complexos, é necessário reconhecer que as crises econômicas avivam os descontentamentos da população e subtraem apoio aos governos. As forças políticas de oposição percebem a oportunidade criada e mobilizam as suas bases na sociedade. A disputa política é legítima mas o apelo à quebra da ordem democrática não o é e deve ser rechaçado.
Foi o desgaste decorrente do arrocho no consumo, depois da mudança do regime cambial em 1999, que viabilizou a eleição de Lula em 2002, na sua quarta tentativa de chegar à presidência. Naquela disputa de 2002, o desgaste do governo era tão grande que José Serra, o candidato situacionista, escondeu o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso durante toda a campanha, dispensando sua presença na quase totalidade dos programas eleitorais. A magia do Plano Real deixara de funcionar politicamente.   
No embate atual, a oportunidade para a oposição assumir o poder surgiu dos desdobramentos da crise econômica que emergiu no cenário internacional ainda em 2008. As medidas de estímulo à demanda, e não apenas ao consumo, postergaram o momento do impacto da crise sobre a população. A partir de 2013, todavia, com a continuidade e novos repiques da crise internacional, as políticas expansionistas internas deixaram de surtir efeitos positivos e expuseram a situação das finanças públicas e do balanço de pagamentos.
PIB e Consumo das famílias
O gráfico a seguir apresenta as evoluções do Produto Interno Bruto (PIB) e do Consumo das Famílias, no acumulado de quatro trimestres, entre 1996 e 2015, demarcando o início de cada período de governo, desde o chamado FHC I, até o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. 
Embalado na popularidade do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso se elegeu em 1994 com ampla vantagem sobre os adversários. Entre 1994 e 1997, a economia brasileira conheceu um miniciclo de crescimento, impulsionado pela expansão do consumo.
A crise dos países emergentes em 1997, todavia, não tardou a chegar ao Brasil e as taxas de crescimento do PIB e do consumo das famílias começaram a declinar em 1998 (ver Gráfico).  O trunfo do Plano real foi suficiente, todavia, para assegurar a reeleição de Fernando Henrique ao final daquele ano, mesmo diante do sentimento popular de que a economia caminhava para o buraco. O segundo mandato foi marcado por dificuldades econômicas e políticas, com taxas reduzidas de crescimento do PIB e do consumo das famílias e um desempenho pífio na geração de emprego.
Depois de um período inicial de dificuldades, o governo do presidente Lula promoveu um crescimento exuberante, impulsionado por ventos favoráveis no mercado externo, que viabilizou um amplo programa de elevação da renda das camadas populares que lhe conferiu prestígio e popularidade para se reeleger e para eleger Dilma Rousseff por dois mandatos.
Depois de 2013
Desde meados de 2013, a economia brasileira começou a patinar. As jornadas populares de junho de 2013 já eram sintoma da insatisfação popular que começava a se disseminar. As forças de oposição sentiram naquele momento a oportunidade real de retornarem ao poder e não titubearam em apostar no caos político e econômico. O sentimento foi se consolidando diante da rápida deterioração do quadro econômico e da mobilização de rua de estamentos médios da população. Os trunfos da oposição, todavia, não se se mostraram suficientes e elas foram novamente derrotadas nas eleições de 2014.
A evolução da economia real de 2015 está espelhada pelas curvas do PIB e do consumo das famílias, apresentadas no Gráfico, em trajetória ladeira abaixo. Como dissemos mais acima, a disputa política é legítima mas o apelo à quebra da ordem democrática para chegar ao poder deve ser rechaçado para impedir que uma grande farsa institucional tome conta do país.


Fonte: IBGE.CNT

Publicado no Jornal da Cidade, em 27/03/2016

2 comentários:

  1. Não há como engolirmos mais essa estória de golpismo. A transversalidade com os aspectos policiais dessa questão,turvam quaisquer análise econômica equilibrada....

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