Ricardo Lacerda
A insegurança em relação à aprovação das medidas de ajuste e a
própria queda do nível de atividade em intensidade muito superior à esperada
gerou um quadro de profunda deterioração das expectativas econômicas. No que
diz respeito ao tema do presente artigo, o quadro de incerteza estendeu o
período previsto para o nível de atividade continuar encolhendo até atingir o
fundo do poço e, em segundo momento, começar a reagir.
Não bastassem o agravamento dos desequilíbrios fiscais e a
retração intensa do nível de atividade econômica, o clima de conflagração entre
as principais forças políticas após as eleições do final do ano passado concorreu
para gerar um ambiente de incerteza que turva as perspectivas do país superar a
paralisia que o domina.
Ainda que a turbulência na rua (nos últimos meses) e no congresso
nacional (nas últimas semanas) pareça ter arrefecido, a incerteza política permanece
elevada até os dias de hoje e contamina a economia. Especialmente ruim para as
expectativas econômicas é a indefinição em relação à aprovação das medidas de ajuste
das contas públicas.
Aproximando-se o final de 2015, as propostas de ajuste fiscal que
foram anunciadas no início do ano ainda não foram colocadas em votação no congresso
nacional. Em sua maior parte, são medidas que visam elevar as receitas da
União, como a restauração da CPMF, a elevação da tributação sobre bebidas e
produtos de informática e sobre ganhos de capital e a regularização da
repatriação de recursos depositados no exterior mediante pagamento de 35% de
imposto; e medidas voltadas para a redução de despesas e para atenuar a rigidez
do orçamento, como a limitação do teto remuneratório e o fim do
auxílio-permanência do funcionalismo e a desvinculação de receita da União
(DRU).
Expectativas
de mercado
Depois de ter recuado 0,7% no primeiro trimestre de 2015 e 1,9%
no segundo trimestre, o PIB brasileiro apresentou nova queda no terceiro
trimestre. Na estimativa do Banco Central, o nível de atividade entre julho e
setembro teria recuado 1,4% em relação ao trimestre anterior. Ao final de 2015,
seguindo a última projeção de mercado (de 13 de novembro), o PIB deverá ter
recuado 3,1%.
Segundo a mesma projeção de mercado, o PIB deverá continuará se
contraindo ao longo de 2016, fechando o ano com queda de 2%, até que volte a
crescer em 2017, de forma muito moderada, incremento de 1% apenas.
A rápida deterioração dos indicadores econômicos ao longo de
2015 fez com que as projeções de mercado fossem revistas para baixo mês a mês,
ou mesmo em menor periodicidade.
Os gráficos 1 e 2 apresentam a evolução das projeções de mercado
no início de cada mês para alguns dos principais indicadores macroeconômicos para
os anos de 2015 e 2016, respectivamente. Os últimos dados são de 13 de
novembro.
No início de 2015, a mediana das projeções de mercado apontava
para crescimento de 0,5% do PIB, em 2015, e de 1,8%, em 2016. Para a produção
industrial, projetava-se 1% de crescimento, em 2015, e de 2,7%, em 2016. Acreditava-se,
pois, naquele momento, que o ajuste, cujas linhas gerais já haviam sido
anunciadas pela nova equipe econômica ainda em 2014, provocaria um impacto relativamente
moderado sobre o nível de atividade e que a retomada do crescimento se
restabeleceria em prazo não muito longo.
À medida que o ambiente político foi se deteriorando e os
efeitos dos primeiros cortes de gasto público, das restrições de crédito e do
realinhamento do câmbio e das tarifas e preços monitorados se fizeram sentir
sobre a evolução do nível de atividade e sobre os preços as expectativas
despencaram.
A projeção do IPCA no início de janeiro era atingir 6,6% em
2015. Na abertura do segundo trimestre, o mercado já revia os números e
apontava que o resultado do ano fecharia em 8,2% e em primeiro de julho as
apostas subiam para 9,0%.
As projeções para os indicadores do nível de atividade, como o
PIB e a produção industrial, eram revistas continuamente para patamares
inferiores. Entre os indicadores selecionados nos gráficos, apenas o saldo da
balança comercial registrou ao longo dos meses melhoria nas projeções, em
decorrência dos efeitos da queda da
demanda por produtos importados causada pela recessão interna e potencializada pela
depreciação do poder de compra da moeda nacional.
Em relação a 2016, as projeções para o IPCA sofreram revisões de pequena monta para cima, à medida que os resultados de 2015 apareciam piores do que
o previsto, mas ainda acredita-se em uma queda acentuada no resultado de 2016
em relação a 2015, em função do fim das rodadas de correção dos preços
administrados, enquanto o saldo comercial deverá apresentar resultado bem superior
ao de 2015, menos por conta do aumento das exportações do que pela continuidade
da queda nas importações em decorrência queda do poder de compra interno e do
aumento da substituição das compras externas pela produção doméstica.
Os indicadores do nível de atividade, todavia, nas projeções
mais recentes continuarão se deteriorando de forma acentuada nos dois primeiros
trimestres de 2016, atenuando suas retrações nos dois últimos trimestres.
Evidentemente as projeções retratam uma
percepção momentânea, revistas semanalmente pelas instituições financeiras e
consultorias especializadas, e podem sofrer melhorias significativas quando
fatos positivos relevantes no cenário interno se tornarem públicos, como
queremos acreditar.
A melhoria do ambiente político e o encaminhamento das medidas
de ajustes poderão ter importantes impactos sobre as expectativas de mercado e
sobre a evolução dos indicadores do nível de atividade. É urgente que a classe
política assuma a responsabilidade que a constituição lhe outorgou.
Fonte: Banco Central do Brasil. Mediana das projeções.
Fonte: Banco Central do Brasil. Mediana das projeções.
Publicado no Jornal da Cidade, em 22/11/2015
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