Ricardo Lacerda
Mesmo considerando todas as adversidades do cenário externo e a atuação
dos fatores internos como a queda da renda e do emprego, as restrições do
crédito, a elevação das taxas de juros e a instabilidade política, é difícil
entender como a atividade industrial deteriorou-se tão intensamente ao longo de
2015.
Depois de cinco anos (2009-2013) sem apresentar crescimento
sustentado, a atividade manufatureira caiu 4,3%, em 2014, e vem despencando em
2015.
Nos nove primeiros meses do ano, o nível de atividade da indústria
de tranformação encolheu extraordinários 9,2% em relação ao mesmo período de
2014. Não é pouca coisa. No passado recente, somente em 2009, em pleno furacão
da crise financeira internacional, a atividade manufatureira apresentou
retração tão expressiva (9,4%).
O ritmo de queda da atividade industrial tem sido muito intenso
ao longo de 2015 e vem se acentuando nos últimos meses (ver Gráfico 1).
Fonte: IBGE-PIM.
Ao longo desses nove meses, todas as atividades da indústria de
transformação recuaram em comparação com o mesmo período do ano passado.
Nenhuma atividade se apresentou para quebrar a unanimidade. No agregado Indústria
Geral, que abrange a indústria extrativa mineral e a de transformação, o volume
da produção física recuou 7,3% nos nove primeiros meses do ano, queda atenuada
pelo crescimento de 7,3% da indústria extrativa mineral (ver Gráfico 2).
Quando são consideradas as atividades industriais por categoria de
uso dos bens a retração também foi generalizada: a indústria de bens de capital
caiu 32,6%, ou seja, em apenas um ano se apresenta 1/3 menor; a produção de
bens intermediários, 14,2%; bens de consumo dúraveis, notáveis 25,3%; e as
atividades de bens de consumo semiduráveis e não duráveis, 16,8%.
Fonte: IBGE-PIM
O
componente externo
Do lado externo, o cenário de fato está sendo muito adverso em
2015, com a forte retração nos preços dos principais produtos de nossa pauta industrial
de exportações. Mesmo com as vendas externas de produtos manufaturados e
semimanufaturados tendo apresentado incremento em termos físicos nos dez
primeiros meses do ano, de 4,2% e 6,3%, respectivamente, na comparação com
igual período de 2014, os valores exportados apresentaram quedas muito
expressivas, de 11,3% e 9,3%. Não houve portanto, um impulso expressivo oriundo
das exportações sobre o nível da atividade industrial, apesar da intensa
depreciação sofrida pela moeda nacional.
É verdade que a queda no valor importado (23,5%) foi superior à
das exportações (16,4%), fazendo com o país voltasse a apresentar saldo
comercial positivo, de US$ 12,2 bilhões, contra o déficit de US$ 1,9 bilhão
entre janeiro e outubro de 2014.
Todavia, os efeitos positivos que poderiam advir da substituição
de importados pela produção doméstica no mercado nacional foram relativamente
modestos até o momento, além de revelarem-se insuficientes para evitar o
desastre nas vendas internas.
O
componente interno
As vendas no varejo brasileiro vêm despencando ao longo de 2015
como resultado das medidas de contenção do poder de compra da população e das abruptas
deteriorações do mercado de trabalho e do nível de atividade econômica, que
foram potencializadas pelo ambiente político convulsionado.
Entre janeiro e setembro, o volume de vendas do varejo ampliado
caiu 7,4%, em relação ao mesmo período do ano anterior. Para certos segmentos
industriais, as quedas nas vendas no varejo interno foram ainda mais
acentuadas, atingindo 16,1% nos ramos de veículos e peças e 13% em móveis e
eletrodomésticos. Também muito expressivas foram as retrações nas vendas de outros
bens produzidos por setores de grande peso na indústria de transformação: o varejo
de material de construção, caiu 6,4%, e confecções e têxteis, 7,3%.
Com o cenário externo adverso e o mercado interno despencando, o
nível de atividade industrial não deve se recuperar tão cedo. A estabilização e
a retomada da atividade industrial vão ter que aguardar, em primeiro lugar, que
passe a turbulência política interna. E os efeitos positivos da desvalorização
cambial não serão tão expressivos e automáticos quanto se pensava, diante da debilidade
do mercado externo e da perda de vigor do setor decorrente do longo período em
que vigorou de moeda apreciada.
Publicado no Jornal da Cidade, em 29/11/2015
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