Ricardo Lacerda
Depois do fracasso do Plano Cruzado, ao final de 1986, os desequilíbrios
da economia brasileira se acentuaram rapidamente, com o crescente descontrole
do processo inflacionário e a deterioração das contas públicas. As taxas de
crescimento do PIB foram fortemente rebaixadas a partir de 1988, em comparação
com o ciclo expansivo anterior, entre 1984 e 1987.
Os ciclos dos anos noventa
A década de noventa iniciou no Brasil sob a égide do Plano Collor de
estabilização econômica. O seqüestro da liquidez das empresas e famílias no
segundo dia do novo governo (em 16 de março de 1990) paralisou a economia
brasileira, que teve naquele ano a maior retração do Produto Interno Bruto
desde o início de sua medição nos anos quarenta, recuo de 4,35%. A atividade
econômica somente retoma o crescimento em 1993, no governo Itamar Franco (ver
Gráfico1).
A economia sergipana que já vinha desacelerando sua taxa de crescimento
desde meados dos anos oitenta, também vai se ressentir dos efeitos da
prostração da economia brasileira entre 1990 e 1992, apresentando taxas de
crescimento rebaixadas no período (ver Gráfico 1).
Quando a economia brasileira retomou o crescimento em 1993 e depois, a
partir de 1994, foi impulsionada pelo ciclo consumo proporcionado pela
estabilização dos preços do plano Real e pelos investimentos externos atraídos
pelas privatizações, a economia sergipana também acelera, mas com uma
importante particularidade de ter registrado na primeira metade da década
quatro anos sucessivos (1992 a 1995) de taxas de crescimento do PIB abaixo da
média nacional, fato inédito nos vinte anos anteriores.
Desde que a exploração do petróleo e as políticas de desenvolvimento
regional foram iniciadas nos anos sessenta e a implantação de grandes empresas
estatais, nos anos oitenta, a economia sergipana ganhou novo dinamismo.
Entre 1971 e 1989, Sergipe cresceu acima da média nacional em doze dos dezenove
anos contados e abaixo dessa média nos outros sete anos, com a particularidade
de que em nenhum outro período havia registrado dois anos seguidos de
crescimento inferior ao do conjunto da economia brasileira.
Nos quatro anos subsequentes (1996-1999) a economia sergipana voltou a
crescer a taxas superiores à média brasileira, mas a média da década de noventa
consolida desempenhos medíocres da economia sergipana e da economia brasileira.
O ciclo expansivo promovido pelo Plano Real, que durou até 1997, era
claramente insustentável desde o seu início. A estabilização dos preços a
partir de 1994, acompanhada pela abertura comercial e pela adoção da
âncora cambial, provocou uma euforia de consumo que teve como contrapartida
déficits crescentes no saldo de transações correntes, financiados pelos
expressivos recursos obtidos com a privatização de grandes empresas e pelos
capitais externos de curto prazo em busca das taxas de juros extraordinárias praticadas
internamente, que concorriam para a deterioração também das contas públicas.
O Brasil não permaneceu imune aos subsequentes ataques às moedas de
países em desenvolvimento na segunda metade dos anos noventa. Em 1998, a
economia brasileira enfrentou intensa instabilidade, o que culminou com a
mudança do regime cambial no inicio de 1999, marcando o fim do Plano Real, como
proposto inicialmente. A partir de então foram adotados o câmbio flexível e o regime
de metas de inflação. 1998 e 1999 foram dois anos de estagnação econômica, em
que o Brasil apresentou as mais que modestas taxas de crescimento de 0,1% e
0,8%, respectivamente, e Sergipe acompanhou essa trajetória de dificuldades.
Fonte:
IBGE- Contas regionais.
Perda de dinamicidade
No conjunto da década (1991-2000), a
economia sergipana cresceu às taxas de 2,5% ao ano, frente aos 4,8% do decênio
anterior (1981-1990) e os notáveis 10,2% ao ano do período 1971-1980. Tampouco
foi uma década de grande resultados para a economia do Nordeste, que havia
crescido 8,8% ao ano entre 1971 e 1980, desacelerara para 3,5% entre 1981 e
1990 e definitivamente perdeu o rumo na década de noventa, com crescimento
médio de apenas 2,6% (ver Gráfico 2).
A
abertura comercial, o desmonte das políticas regionais associado à mudança de
concepção do papel do estado e o processo de privatização de empresas eram
desfavoráveis às possibilidades de desenvolvimento das regiões mais pobres do
país. A economia da maioria dos estados nordestinos, inclusive Sergipe,
apresentou intensa desaceleração nas taxas de crescimento e muitos deles registraram
taxas de expansão inferiores à média do país. Claramente, os estados
nordestinos, Sergipe em grau ainda mais acentuado, foram regiões perdedoras nas
transformações econômicas dos anos noventa.
Fonte: IBGE, para as taxas de crescimento do PIB do Brasil, em todo o período, e do Nordeste e Sergipe a partir de 1986. SUDENE, para as taxas de crescimento do PIB do Nordeste e Sergipe entre 1971 e 1975.
Publicado no Jornal da Cidade em 27/01/2014