Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 26 de janeiro de 2014

A economia sergipana na década de noventa, 2ª parte


Ricardo Lacerda


Depois do fracasso do Plano Cruzado, ao final de 1986, os desequilíbrios da economia brasileira se acentuaram rapidamente, com o crescente descontrole do processo inflacionário e a deterioração das contas públicas. As taxas de crescimento do PIB foram fortemente rebaixadas a partir de 1988, em comparação com o ciclo expansivo anterior, entre 1984 e 1987.

Os ciclos dos anos noventa

A década de noventa iniciou no Brasil sob a égide do Plano Collor de estabilização econômica. O seqüestro da liquidez das empresas e famílias no segundo dia do novo governo (em 16 de março de 1990) paralisou a economia brasileira, que teve naquele ano a maior retração do Produto Interno Bruto desde o início de sua medição nos anos quarenta, recuo de 4,35%. A atividade econômica somente retoma o crescimento em 1993, no governo Itamar Franco (ver Gráfico1).

A economia sergipana que já vinha desacelerando sua taxa de crescimento desde meados dos anos oitenta, também vai se ressentir dos efeitos da prostração da economia brasileira entre 1990 e 1992, apresentando taxas de crescimento rebaixadas no período (ver Gráfico 1).

Quando a economia brasileira retomou o crescimento em 1993 e depois, a partir de 1994, foi impulsionada pelo ciclo consumo proporcionado pela estabilização dos preços do plano Real e pelos investimentos externos atraídos pelas privatizações, a economia sergipana também acelera, mas com uma importante particularidade de ter registrado na primeira metade da década quatro anos sucessivos (1992 a 1995) de taxas de crescimento do PIB abaixo da média nacional, fato inédito nos vinte anos anteriores.

Desde que a exploração do petróleo e as políticas de desenvolvimento regional foram iniciadas nos anos sessenta e a implantação de grandes empresas estatais, nos anos oitenta,  a economia sergipana ganhou novo dinamismo. Entre 1971 e 1989, Sergipe cresceu acima da média nacional em doze dos dezenove anos contados e abaixo dessa média nos outros sete anos, com a particularidade de que em nenhum outro período havia registrado dois anos seguidos de crescimento inferior ao do conjunto da economia brasileira.

Nos quatro anos subsequentes (1996-1999) a economia sergipana voltou a crescer a taxas superiores à média brasileira, mas a média da década de noventa consolida desempenhos medíocres da economia sergipana e da economia brasileira.  

O ciclo expansivo promovido pelo Plano Real, que durou até 1997, era claramente insustentável desde o seu início. A estabilização dos preços a partir de 1994,  acompanhada pela abertura comercial e pela adoção da âncora cambial, provocou uma euforia de consumo que teve como contrapartida déficits crescentes no saldo de transações correntes, financiados pelos expressivos recursos obtidos com a privatização de grandes empresas e pelos capitais externos de curto prazo em busca das taxas de juros extraordinárias praticadas internamente, que concorriam para a deterioração também das contas públicas.

O Brasil não permaneceu imune aos subsequentes ataques às moedas de países em desenvolvimento na segunda metade dos anos noventa. Em 1998, a economia brasileira enfrentou intensa instabilidade, o que culminou com a mudança do regime cambial no inicio de 1999, marcando o fim do Plano Real, como proposto inicialmente. A partir de então foram adotados o câmbio flexível e o regime de metas de inflação. 1998 e 1999 foram dois anos de estagnação econômica, em que o Brasil apresentou as mais que modestas taxas de crescimento de 0,1% e 0,8%, respectivamente, e Sergipe acompanhou essa trajetória de dificuldades.




Fonte: IBGE- Contas regionais.

Perda de dinamicidade

No conjunto da década (1991-2000), a economia sergipana cresceu às taxas de 2,5% ao ano, frente aos 4,8% do decênio anterior (1981-1990) e os notáveis 10,2% ao ano do período 1971-1980. Tampouco foi uma década de grande resultados para a economia do Nordeste, que havia crescido 8,8% ao ano entre 1971 e 1980, desacelerara para 3,5% entre 1981 e 1990 e definitivamente perdeu o rumo na década de noventa, com crescimento médio de apenas 2,6% (ver Gráfico 2).

A abertura comercial, o desmonte das políticas regionais associado à mudança de concepção do papel do estado e o processo de privatização de empresas eram desfavoráveis às possibilidades de desenvolvimento das regiões mais pobres do país. A economia da maioria dos estados nordestinos, inclusive Sergipe, apresentou intensa desaceleração nas taxas de crescimento e muitos deles registraram taxas de expansão inferiores à média do país. Claramente, os estados nordestinos, Sergipe em grau ainda mais acentuado, foram regiões perdedoras nas transformações econômicas dos anos noventa.




Fonte: IBGE, para as taxas de crescimento do PIB do Brasil, em todo o período, e do Nordeste e Sergipe a partir de 1986. SUDENE, para as taxas de crescimento do PIB do Nordeste e Sergipe entre 1971 e 1975.


Publicado no Jornal da Cidade em 27/01/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário