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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 1 de julho de 2012

Especialização e crescimento do emprego regional na indústria



Ricardo Lacerda

Ao longo da década de 2000, o movimento de desconcentração da atividade industrial no território brasileiro teve continuidade, com a região (Sudeste) e o estado (São Paulo) mais industrializados perdendo participações no Valor Adicionado Bruto do setor industrial, conceito próximo ao PIB, em favor dos estados de regiões menos industrializadas, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste e dos demais estados da região Sudeste.

De acordo com as contas regionais do IBGE, o estado de São Paulo perdeu 4,6 pontos percentuais de participação na indústria brasileira entre 2000 e 2009, considerando a indústria de transformação, a indústria extrativa mineral, a construção civil e os serviços industriais de utilidade pública. Entre 1995 e 2009, essa perda teria alcançado 9,1 p.p., o que representa uma fatia muito expressiva, ainda que a desconcentração na indústria de transformação não tenha sido acentuada.

A desconcentração territorial do emprego industrial foi bem mais ampla, com a região Sudeste tendo reduzido, entre 2000 e 2010, em 3,5 pontos percentuais a participação do emprego formal considerando apenas a indústria de transformação, segundo os dados do MTE-RAIS.

Certamente muitos fatores contaram para tal espraiamento da atividade industrial no território brasileiro, entre eles as deseconomias de aglomeração dos principais polos industriais situados naquele estado (salários e alugueis mais altos), os atrativos oferecidos no âmbito das disputas fiscais entre as unidades da federação, a montagem de novos polos industriais fora das regiões Sudeste e Sul, as novas oportunidades de exploração de recursos naturais, a expansão mais rápida do mercado de consumo nas regiões mais pobres e as próprias mudanças na estrutura industrial brasileira.


Especializações

O Quadro a seguir apresenta o índice de especialização do emprego formal industrial das regiões brasileiras, comparando o peso que o subsetor tem no emprego da indústria de transformação na região em relação ao seu peso na média do Brasil, com base nos dados de 2010. Assim, na região Norte os subsetores elétrico e de comunicação (por conta da Zona Franca de Manaus) e de madeira e mobiliário, e na região Nordeste, o subsetor de calçados, participam com mais do dobro do emprego industrial do que representam na indústria brasileira. Índices abaixo de 1 informam que o emprego da região não é relativamente especializado naquele setor, posto que o peso dele na estrutura interna da região representa menos do que na média do país.

Em 2010, o emprego industrial no Nordeste era relativamente especializado, por ordem, nos subsetores de calçados, alimentos e bebidas, minerais não metálicos e têxtil. Ou seja, o emprego industrial na região permanece marcado pela especialização relativa em setores intensivos em trabalho e em recursos naturais. Apresentavam peso relativamente menor no emprego regional da indústria, por ordem, as indústrias de material de transporte, elétrica e comunicação e mecânica. 
Quadro 1. Índice de especialização do emprego industrial das regiões brasileiras. 2010
Índice de Especia-lização
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro- Oeste
Acima de 2
Elétrico e Comunic
 Mad. e Mobiliário
Calçados;
Acima de 1
até 2
Alim. e Bebidas;
Mat. de Transporte
Alim. e Bebidas; Min. Não Metálico, Têxtil
Mat. de Transporte; Metalúrgica;
Química;
Mecânica;
Elétrico e Comunic;
 Papel e Gráf;
Borracha, F. e Couros
Mad. e Mobiliário; Calçados;
Mecânica;
Têxtil;
Borracha, F. e Couros
Alim. e Bebidas;  Química;
 Mad. e Mobiliário;
Min. Não Metálico
Abaixo de 1
até 0,5
Borracha, F e Couros; Metalúrgica; Mecânica;
Papel e Gráf; Química
Química; Papel e Gráf; Borracha, Fumo, Couros;
Mad. e Mobiliário; Metalúrgica
Min. Não Metálico; Têxtil; Alim. e Bebidas; Mad. e Mobiliário
Alim. e Bebidas; Elétrico e Comunic; Papel e Gráf; Metalúrgica;
Min. Não Metálico;
Mat. de Transporte; Química
Borracha, F. Couros;
Papel e Gráf; Têxtil; Metalúrgica
Abaixo de 0,5
Têxtil;
 Calçados
Mecânica;
Elétrico e Comunic; Mat. de Transporte;
Calçados
Mecânica;
Mat. de Transporte; Elétrico e Comunic; Calçados
Fonte: MTE-RAIS


Crescimento
O emprego na indústria de transformação cresceu a taxas mais elevadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste em quase todos os subsetores da indústria de transformação. Curiosamente, entre os doze subsetores setores considerados, o emprego industrial no Norte e Nordeste somente cresceu abaixo da taxa média do país em segmentos em que as regiões são fortemente especializadas, madeira e mobiliário na primeira, e alimento e bebidas no Nordeste (ver Tabela 2). 
Inversamente, o emprego industrial formal na região Sudeste se expandiu a taxas mais baixas do que a média brasileira em onze dos doze subsetores, se situando acima da média apenas na indústria de madeira e mobiliário.
Tabela 2. Taxa de crescimento médio anual do emprego formal entre 2000 e 2010
(em %)
IBGE Setor
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-
Oeste
Brasil
Taxa de Crescimento Anual Médio do Emprego Formal (%)
Min. Não Metálico
7,6
6,1
2,9
4,4
6,9
4,1
Metalúrgica
11,1
8,5
4,3
6,1
7,8
5,2
Mecânica
10,4
12,4
6,5
8,0
12,7
7,4
Elétrico e Comunic
6,1
4,1
2,6
6,8
5,2
3,9
Mat. de Transporte
12,5
15,9
6,2
8,0
11,2
7,0
Mad. e Mobiliário
-1,4
4,1
3,0
1,4
-0,1
1,7
Papel e Gráf
3,7
5,4
2,0
3,3
5,0
2,8
Borracha, Fumo, Couros
7,5
6,2
3,6
3,3
9,3
4,0
Química
10,6
8,6
4,7
5,7
16,7
5,9
Têxtil
6,6
4,2
2,9
5,5
6,8
4,0
Calçados
30,0
10,0
3,3
0,3
8,7
3,8
Alim. e Bebidas
9,1
4,6
5,7
6,7
7,3
6,0
Comparação com a taxa média do Brasil
Min. Não Metálico
+
+
-
+
+
Metalúrgica
+
+
-
+
+
Mecânica
+
+
-
+
+
Elétrico e Comunic
+
+
-
+
+
Mat. de Transporte
+
+
-
+
+
Mad. e Mobiliário
-
+
+
-
-
Papel e Gráf
+
+
-
+
+
Borracha, Fumo, Couros
+
+
-
-
+
Química
+
+
-
-
+
Têxtil
+
+
-
+
+
Calçados
+
+
-
-
+
Alim. e Bebidas
+
-
-
+
+
Fonte: MTE-RAIS

Entre 2000 e 2010, três tipos de segmentos avançaram significativamente na estrutura do emprego industrial do Nordeste: a indústria de calçados, em função da migração da atividade de outras regiões, os setores vinculados ao complexo metalmecânico, por conta da implantação de montadora de veículos, e a indústria química. 

Para as regiões mais pobres, o que os números parecem indicar é que o crescimento em ritmo acentuado e acima da média brasileira do emprego industrial em quase todos os segmentos vem concorrendo para estabelecer uma estrutura produtiva mais densa e mais diversificada, mas ainda marcada pelo predomínio de poucos setores.

Publicado no Jornal da Cidade em 01/07/2012
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