Ricardo Lacerda
Ao longo da
década de 2000, o movimento de desconcentração da atividade industrial no
território brasileiro teve continuidade, com a região (Sudeste) e o estado (São
Paulo) mais industrializados perdendo participações no Valor Adicionado Bruto
do setor industrial, conceito próximo ao PIB, em favor dos estados de regiões
menos industrializadas, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste e dos demais
estados da região Sudeste.
De acordo com as
contas regionais do IBGE, o estado de São Paulo perdeu 4,6 pontos percentuais
de participação na indústria brasileira entre 2000 e 2009, considerando a
indústria de transformação, a indústria extrativa mineral, a construção civil e
os serviços industriais de utilidade pública. Entre 1995 e 2009, essa perda
teria alcançado 9,1 p.p., o que representa uma fatia muito expressiva, ainda
que a desconcentração na indústria de transformação não tenha sido acentuada.
A
desconcentração territorial do emprego industrial foi bem mais ampla, com a
região Sudeste tendo reduzido, entre 2000 e 2010, em 3,5 pontos percentuais a
participação do emprego formal considerando apenas a indústria de
transformação, segundo os dados do MTE-RAIS.
Certamente
muitos fatores contaram para tal espraiamento da atividade industrial no
território brasileiro, entre eles as deseconomias de aglomeração dos principais
polos industriais situados naquele estado (salários e alugueis mais altos), os
atrativos oferecidos no âmbito das disputas fiscais entre as unidades da
federação, a montagem de novos polos industriais fora das regiões Sudeste e
Sul, as novas oportunidades de exploração de recursos naturais, a expansão mais
rápida do mercado de consumo nas regiões mais pobres e as próprias mudanças na
estrutura industrial brasileira.
O Quadro a seguir apresenta o índice de especialização do
emprego formal industrial das regiões brasileiras, comparando o peso que o
subsetor tem no emprego da indústria de transformação na região em relação ao
seu peso na média do Brasil, com base nos dados de 2010. Assim, na região Norte
os subsetores elétrico e de comunicação (por conta da Zona Franca de Manaus) e
de madeira e mobiliário, e na região Nordeste, o subsetor de calçados,
participam com mais do dobro do emprego industrial do que representam na
indústria brasileira. Índices abaixo de 1 informam que o emprego da região não
é relativamente especializado naquele setor, posto que o peso dele na estrutura
interna da região representa menos do que na média do país.
Em 2010, o emprego industrial no Nordeste era
relativamente especializado, por ordem, nos subsetores de calçados, alimentos e
bebidas, minerais não metálicos e têxtil. Ou seja, o emprego industrial na
região permanece marcado pela especialização relativa em setores intensivos em
trabalho e em recursos naturais. Apresentavam peso relativamente menor no emprego
regional da indústria, por ordem, as indústrias de material de transporte,
elétrica e comunicação e mecânica.
Quadro 1. Índice de
especialização do emprego industrial das regiões brasileiras. 2010
|
|||||
Índice
de Especia-lização
|
Norte
|
Nordeste
|
Sudeste
|
Sul
|
Centro- Oeste
|
Acima de 2
|
Elétrico e Comunic
Mad. e Mobiliário
|
Calçados;
|
|||
Acima de 1
até 2
|
Alim. e Bebidas;
Mat. de Transporte
|
Alim. e Bebidas;
Min. Não Metálico, Têxtil
|
Mat. de Transporte;
Metalúrgica;
Química;
Mecânica;
Elétrico e Comunic;
Papel e Gráf;
Borracha, F. e
Couros
|
Mad. e Mobiliário;
Calçados;
Mecânica;
Têxtil;
Borracha, F. e
Couros
|
Alim. e
Bebidas; Química;
Mad. e Mobiliário;
Min. Não Metálico
|
Abaixo de 1
até 0,5
|
Borracha, F e
Couros; Metalúrgica; Mecânica;
Papel e Gráf;
Química
|
Química; Papel e
Gráf; Borracha, Fumo, Couros;
Mad. e Mobiliário;
Metalúrgica
|
Min. Não Metálico;
Têxtil; Alim. e Bebidas; Mad. e Mobiliário
|
Alim. e Bebidas;
Elétrico e Comunic; Papel e Gráf; Metalúrgica;
Min. Não Metálico;
Mat. de Transporte;
Química
|
Borracha, F. Couros;
Papel e Gráf;
Têxtil; Metalúrgica
|
Abaixo de 0,5
|
Têxtil;
Calçados
|
Mecânica;
Elétrico e Comunic;
Mat. de Transporte;
|
Calçados
|
Mecânica;
Mat. de Transporte;
Elétrico e Comunic; Calçados
|
Fonte: MTE-RAIS
Crescimento
O emprego na
indústria de transformação cresceu a taxas mais elevadas nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste em quase todos os subsetores da indústria de
transformação. Curiosamente, entre os doze subsetores setores considerados, o
emprego industrial no Norte e Nordeste somente cresceu abaixo da taxa média do
país em segmentos em que as regiões são fortemente especializadas, madeira e
mobiliário na primeira, e alimento e bebidas no Nordeste (ver Tabela 2).
Inversamente, o
emprego industrial formal na região Sudeste se expandiu a taxas mais baixas do
que a média brasileira em onze dos doze subsetores, se situando acima da média
apenas na indústria de madeira e mobiliário.
Tabela 2. Taxa de crescimento médio anual do emprego
formal entre 2000 e 2010
(em %)
|
||||||
IBGE Setor
|
Norte
|
Nordeste
|
Sudeste
|
Sul
|
Centro-
Oeste
|
Brasil
|
Taxa de Crescimento Anual Médio do Emprego Formal (%)
|
||||||
Min. Não Metálico
|
7,6
|
6,1
|
2,9
|
4,4
|
6,9
|
4,1
|
Metalúrgica
|
11,1
|
8,5
|
4,3
|
6,1
|
7,8
|
5,2
|
Mecânica
|
10,4
|
12,4
|
6,5
|
8,0
|
12,7
|
7,4
|
Elétrico e Comunic
|
6,1
|
4,1
|
2,6
|
6,8
|
5,2
|
3,9
|
Mat. de Transporte
|
12,5
|
15,9
|
6,2
|
8,0
|
11,2
|
7,0
|
Mad. e Mobiliário
|
-1,4
|
4,1
|
3,0
|
1,4
|
-0,1
|
1,7
|
Papel e Gráf
|
3,7
|
5,4
|
2,0
|
3,3
|
5,0
|
2,8
|
Borracha, Fumo, Couros
|
7,5
|
6,2
|
3,6
|
3,3
|
9,3
|
4,0
|
Química
|
10,6
|
8,6
|
4,7
|
5,7
|
16,7
|
5,9
|
Têxtil
|
6,6
|
4,2
|
2,9
|
5,5
|
6,8
|
4,0
|
Calçados
|
30,0
|
10,0
|
3,3
|
0,3
|
8,7
|
3,8
|
Alim. e Bebidas
|
9,1
|
4,6
|
5,7
|
6,7
|
7,3
|
6,0
|
Comparação
com a taxa média do Brasil
|
||||||
Min. Não Metálico
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Metalúrgica
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Mecânica
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Elétrico e Comunic
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Mat. de Transporte
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Mad. e Mobiliário
|
-
|
+
|
+
|
-
|
-
|
|
Papel e Gráf
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Borracha, Fumo, Couros
|
+
|
+
|
-
|
-
|
+
|
|
Química
|
+
|
+
|
-
|
-
|
+
|
|
Têxtil
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Calçados
|
+
|
+
|
-
|
-
|
+
|
|
Alim. e Bebidas
|
+
|
-
|
-
|
+
|
+
|
Fonte: MTE-RAIS
Entre 2000 e
2010, três tipos de segmentos avançaram significativamente na estrutura do
emprego industrial do Nordeste: a indústria de calçados, em função da migração
da atividade de outras regiões, os setores vinculados ao complexo
metalmecânico, por conta da implantação de montadora de veículos, e a indústria
química.
Para as regiões
mais pobres, o que os números parecem indicar é que o crescimento em ritmo
acentuado e acima da média brasileira do emprego industrial em quase todos os
segmentos vem concorrendo para estabelecer uma estrutura produtiva mais densa e
mais diversificada, mas ainda marcada pelo predomínio de poucos setores.
Publicado no Jornal da Cidade em 01/07/2012
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