Ricardo Lacerda
O valor da moeda
nacional frente às dos demais países com os quais o Brasil efetua transações
econômicas é um dos fatores mais fundamentais na determinação não apenas do
nível atual da atividade econômica, quanto, por meio de diversos canais, do
desenvolvimento do país no longo prazo.
Em situações
como a presente, de desaceleração do crescimento econômico convivendo com uma
trajetória declinante da inflação, abre-se uma janela de oportunidade para
promover uma acentuada correção do câmbio que deve ser em grau suficiente para
reverter a situação de declínio da competitividade relativa da produção
industrial brasileira frente aos produtos importados e no mercado externo.
O Gráfico 1
apresenta o comportamento da taxa de câmbio real efetiva, corrigida pelo IPCA,
desde o final o final de 1993, até maio de 2012, delimitado pelos períodos de
governo. Observe-se que a desvalorização do real no corrente ano, apesar de
forte, é ainda relativamente pouco expressiva quando comparada à valorização de
períodos anteriores.
Fonte: BCB-Depec
Desorganização da produção
Manter o câmbio
valorizado significa em primeiro lugar subsidiar o consumo de produtos
importados, tornando-os artificialmente baratos, em detrimento da produção
industrial doméstica existente ou potencial, o que pode ou não atender
objetivos da política econômica em determinadas etapas do desenvolvimento.
Em uma
conjuntura recessiva da demanda externa como a que se vivencia hoje, o câmbio
valorizado induz a transferência de milhares de empregos para o exterior, sem a
compensação de mesma qualidade ou quantidade promovida pela expansão das exportações.
Mesmo com o mercado de consumo interno mantendo expansão robusta nos últimos
meses, uma parcela maior do acréscimo de consumo vem sendo atendida pelo
fornecimento de produtos elaborados lá fora. O consumidor fica satisfeito com o
câmbio valorizado, mas a produção interna corre o risco de se
desorganizar.
Ainda no curto
prazo, o valor do câmbio é importante na medida em que o preço dos produtos
importados afeta o comportamento da inflação interna. É observando esses dois
efeitos, sobre o ritmo da atividade e sobre os preços, que a autoridade
econômica estipula os objetivos que vão guiar as políticas de curto prazo que
afetam o valor do câmbio. No longo prazo, muitos outros aspectos estão em jogo
e o essencial é equilibrar os graus de modernização e de exposição à competição
desejados para a matriz produtiva interna, de um lado, e sua expansão e
diversificação em direção a novos setores, de outro.
Os juros
Uma desvalorização
pronunciada do câmbio torna-se factível em função da queda recente das taxas de
juros internas. Como alguns especialistas têm assinalado, a valorização do real
nos últimos anos deveu-se apenas parcialmente à entrada de divisas
proporcionada pela elevação dos preços de commodities
minerais e alimentares em que o Brasil responde por parcela importante da
demanda mundial. Parcela significativa da valorização decorreu do fluxo de
capital internacional atraído pelo diferencial de juros pagos internamente.
A queda
acentuada na taxa básica real de juros desde o segundo semestre de 2011 (ver
Gráfico 2), que deve ter continuidade nos próximos meses, amortece um dos
principais vetores de valorização cambial na medida em que estreita o
diferencial de juros.
Fonte: BCB- Relatório de inflação, junho de 2012.
Na situação
atual de desaquecimento dos mercados externos e de perda de competitividade da
produção nacional no mercado interno, manter o câmbio valorizado implicaria
exposição da produção interna em grau desmedido, muito além do que preceitua o
convencional receituário de abertura à competição externa.
Por tudo que
avançou na primeira década do século XXI, o Brasil se encontra em condições ainda
excepcionais para enfrentar a nova onda de turbulência dessa já longa crise
internacional. Medidas adicionais que visem promover a desvalorização da moeda
não são indolores, mas são decisivas para reaquecer o nível de atividade e
recuperar a competitividade da estrutura industrial.
Publicado no Jornal da Cidade em 16/07/2012
Para baixar o arquivo em PDF clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário