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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Câmbio e os juros


Ricardo Lacerda

O valor da moeda nacional frente às dos demais países com os quais o Brasil efetua transações econômicas é um dos fatores mais fundamentais na determinação não apenas do nível atual da atividade econômica, quanto, por meio de diversos canais, do desenvolvimento do país no longo prazo.   

Em situações como a presente, de desaceleração do crescimento econômico convivendo com uma trajetória declinante da inflação, abre-se uma janela de oportunidade para promover uma acentuada correção do câmbio que deve ser em grau suficiente para reverter a situação de declínio da competitividade relativa da produção industrial brasileira frente aos produtos importados e no mercado externo.

O Gráfico 1 apresenta o comportamento da taxa de câmbio real efetiva, corrigida pelo IPCA, desde o final o final de 1993, até maio de 2012, delimitado pelos períodos de governo. Observe-se que a desvalorização do real no corrente ano, apesar de forte, é ainda relativamente pouco expressiva quando comparada à valorização de períodos anteriores. 


Fonte: BCB-Depec

Desorganização da produção

Manter o câmbio valorizado significa em primeiro lugar subsidiar o consumo de produtos importados, tornando-os artificialmente baratos, em detrimento da produção industrial doméstica existente ou potencial, o que pode ou não atender objetivos da política econômica em determinadas etapas do desenvolvimento.

Em uma conjuntura recessiva da demanda externa como a que se vivencia hoje, o câmbio valorizado induz a transferência de milhares de empregos para o exterior, sem a compensação de mesma qualidade ou quantidade promovida pela expansão das exportações. Mesmo com o mercado de consumo interno mantendo expansão robusta nos últimos meses, uma parcela maior do acréscimo de consumo vem sendo atendida pelo fornecimento de produtos elaborados lá fora. O consumidor fica satisfeito com o câmbio valorizado, mas a produção interna corre o risco de se desorganizar. 

Ainda no curto prazo, o valor do câmbio é importante na medida em que o preço dos produtos importados afeta o comportamento da inflação interna. É observando esses dois efeitos, sobre o ritmo da atividade e sobre os preços, que a autoridade econômica estipula os objetivos que vão guiar as políticas de curto prazo que afetam o valor do câmbio. No longo prazo, muitos outros aspectos estão em jogo e o essencial é equilibrar os graus de modernização e de exposição à competição desejados para a matriz produtiva interna, de um lado, e sua expansão e diversificação em direção a novos setores, de outro.

Os juros

Uma desvalorização pronunciada do câmbio torna-se factível em função da queda recente das taxas de juros internas. Como alguns especialistas têm assinalado, a valorização do real nos últimos anos deveu-se apenas parcialmente à entrada de divisas proporcionada pela elevação dos preços de commodities minerais e alimentares em que o Brasil responde por parcela importante da demanda mundial. Parcela significativa da valorização decorreu do fluxo de capital internacional atraído pelo diferencial de juros pagos internamente.  

A queda acentuada na taxa básica real de juros desde o segundo semestre de 2011 (ver Gráfico 2), que deve ter continuidade nos próximos meses, amortece um dos principais vetores de valorização cambial na medida em que estreita o diferencial de juros.

Fonte: BCB- Relatório de inflação, junho de 2012.

Na situação atual de desaquecimento dos mercados externos e de perda de competitividade da produção nacional no mercado interno, manter o câmbio valorizado implicaria exposição da produção interna em grau desmedido, muito além do que preceitua o convencional receituário de abertura à competição externa.

Por tudo que avançou na primeira década do século XXI, o Brasil se encontra em condições ainda excepcionais para enfrentar a nova onda de turbulência dessa já longa crise internacional. Medidas adicionais que visem promover a desvalorização da moeda não são indolores, mas são decisivas para reaquecer o nível de atividade e recuperar a competitividade da estrutura industrial.


Publicado no Jornal da Cidade em 16/07/2012 
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