Ricardo Lacerda
A intensa geração
de emprego formal é um dos aspectos mais virtuosos do crescimento econômico na
década de 2000. O contingente de emprego formal no Brasil cresceu à taxa média
de 5,3% ao ano entre dezembro de 2000 e dezembro de 2010, bem superior à expansão
média do PIB e do crescimento da População Economicamente Ativa, fazendo com
que a parcela dos vínculos formais no total do emprego tenha se ampliado
significativamente.
Em 2010, a
quantidade de pessoas inseridas no mercado formal brasileiro era cerca de 2/3
maior do que em 2000. A geração de emprego manteve-se robusta nos anos mais
recentes, apesar dos impactos da crise financeira internacional. Mesmo em anos ruins, de PIB estagnado, como
2009, ou de baixo crescimento, como 2011, o emprego formal aumentou a taxas superiores
a 4% e 5%, respectivamente.
Em 2012, de forte desaceleração do nível de
atividade, a taxa de crescimento do emprego formal em doze meses completados em
maio alcançou 4,3%, o que não significa que o mercado de trabalho esteja
blindado em relação à crise, pois as taxas de geração de emprego vêm caindo.
Desconcentração
A expansão do
emprego formal tem sido célere em todas as regiões brasileiras. As regiões mais
pobres e com mercado de trabalho mais frágil, como o Norte e o Nordeste,
apresentaram taxas de expansão do emprego formal ainda mais elevadas, enquanto
as regiões mais ricas e com mercado de trabalho mais estruturado registraram
taxas de expansão abaixo da média brasileira (ver Gráfico). No período
2000-2010, o emprego formal se expandiu a taxas anuais de 8,2% na Região Norte,
de 6,2%, no Nordeste, e 5,7% no Centro-Oeste, frente aos 5% na região Sul e
4,8% no Sudeste.
O mais
interessante é que a desconcentração do emprego formal em direção às regiões
mais pobres não pode ser atribuída a nenhum setor específico, posto que se verificou
em praticamente todos os setores de atividade econômica.
Fonte: MTE-RAIS
Setorial
A construção
civil foi o setor que apresentou taxa de crescimento no emprego mais elevada no
país entre 2000 e 2010, notáveis 8,6% ao ano, seguida pelo comércio (7%) e pela
indústria extrativa mineral (6,8%). O setor de serviços, responsável por cerca
de 1/3 do total de emprego se expandiu a taxa média de 5,2%, e a administração
pública, nas esferas municipal, estadual e federal, que representa cerca de 20%
do total, teve incrementos anuais de 4,3% (ver Tabela).
Se o crescimento
do emprego formal na média do país foi satisfatório nos vários setores, saltam
aos olhos algumas discrepâncias nos desempenhos setoriais na comparação
regional (ver Tabela). As taxas médias anuais de crescimento por setor de cada
região, entre 2000 e 2010, estão apresentadas na parte superior da tabela.
Na parte
inferior, é possível observar que o emprego formal se expandiu na região Norte em
ritmo superior à media brasileira em sete dos oito setores de atividade, e no
Nordeste em seis dos oito setores. Na região
Sudeste, a mais rica e industrializada, com mercado formal mais estruturado do
que a média do país, a taxa de incremento do emprego formal se situou abaixo da
média em todas as atividades entre 2000 e 2010.
Nos últimos doze meses, esse
padrão de desempenho inferior do Sudeste se manteve na maioria das atividades,
ainda que a região venha apresentando ritmo muito intenso de contratação na
construção civil.
Tabela. Taxa de crescimento médio anual do emprego
formal entre 2000 e 2010
(em %)
|
||||||
IBGE Setor
|
Norte
|
Nordeste
|
Sudeste
|
Sul
|
Centro-
Oeste
|
Brasil
|
Taxa de Crescimento Anual Médio do Emprego Formal (%)
|
||||||
Extrativa mineral
|
15,4
|
5,9
|
6,7
|
3,5
|
7,6
|
6,8
|
Indústria de
transformação
|
6,4
|
6,0
|
4,3
|
4,9
|
7,5
|
4,9
|
Serv. ind. de util. pública
|
1,6
|
2,9
|
3,1
|
4,6
|
4,8
|
3,3
|
Construção Civil
|
12,3
|
10,6
|
7,7
|
7,5
|
9,3
|
8,6
|
Comércio
|
9,8
|
8,1
|
6,3
|
7,0
|
8,0
|
7,0
|
Serviços
|
7,2
|
6,4
|
4,8
|
5,3
|
5,2
|
5,2
|
Administração Pública
|
8,1
|
5,0
|
3,7
|
2,6
|
3,6
|
4,3
|
Agropecuária
|
12,0
|
3,4
|
1,1
|
2,1
|
6,6
|
2,8
|
Comparação
com a taxa média do Brasil
|
||||||
Extrativa mineral
|
+
|
-
|
-
|
-
|
+
|
|
Indústria de
transformação
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Serv. ind. de util. pública
|
-
|
-
|
-
|
+
|
+
|
|
Construção Civil
|
+
|
+
|
-
|
-
|
+
|
|
Comércio
|
+
|
+
|
-
|
+
|
+
|
|
Serviços
|
+
|
+
|
-
|
+
|
-
|
|
Administração Pública
|
+
|
+
|
-
|
-
|
-
|
|
Agropecuária
|
+
|
+
|
-
|
-
|
+
|
Fonte: MTE-RAIS
Dinâmica
O fato de a
geração do emprego formal nas regiões mais pobres e de mercados de trabalho
menos estruturados, como são os casos do Nordeste e no Norte, vir se dando em
ritmo mais acelerado nos vários segmentos sinaliza que os fatores que
impulsionaram o crescimento recente têm sim gerado efeitos germinativos
internos às regiões, em que as atividades mais dinâmicas puxam o crescimento das
demais, por meio de efeitos diretos ou indiretos nas cadeias de produção e de
consumo.
Publicado no Jornal da Cidade em 24/06/2012
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