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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 17 de junho de 2012

As forças que derrubaram o PIB



Ricardo Lacerda

Desde meados de 2011 que o governo federal vem adotando uma série de medidas visando reverter a intensa desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira. As medidas abrangeram um amplo leque de instrumentos para desvalorizar o câmbio, reduzir juros, ampliar crédito, defender o mercado interno de setores especialmente atingidos pelo intenso crescimento das importações, reduzir tributos de bens de consumo, sem que o ritmo de atividade tenha, até o momento, dados sinais de reanimação. Ver no Gráfico 1 o declínio acentuado da taxa de crescimento do PIB no acumulado de quatro trimestres.

Reação

Diferentemente da reação adotada em 2009, muito mais incisiva frente a um quadro mais agudo da crise naquele momento, as medidas vem sendo tomadas de forma progressiva, agregando novos instrumentos quando se conclui que os estímulos anteriores não foram suficientes para reaquecer a demanda agregada da economia.

Também diferentemente de 2009, o governo optou, até o momento, por não utilizar uma política de gasto público de caráter anticíclico, colocando suas fichas na recuperação na demanda das famílias e das empresas. Atento à intensificação dos sinais de instabilidade nos países com situações fiscais mais fragilizadas da Zona do Euro, o governo brasileiro vem buscando preservar a meta de superávit primário estabelecida para o ano, como forma de assegurar a trajetória declinante das taxas de juros.  

Quando se decide por intensificar os gastos, busca destravar o investimento público e não as despesas correntes, inclusive com a ampliação da oferta de crédito para os estados, como foi anunciada em reunião na última sexta-feira sobre a disponibilidade de 20 bilhões de reais por meio do programa de Pro-Invest, voltado para as obras de infraestrutura.    


Fonte IBGE: Contas trimestrais


Consumo e investimento
Há uma tensão no debate sobre o melhor caminho para o governo atuar para impulsionar o ritmo de atividade econômica. O debate frequentemente confunde questões de curto prazo, de caráter conjuntural, relacionadas ao nível da demanda da economia, com outras mais estruturais, associadas ao potencial de crescimento de médio e longo prazos, que depende do aumento nos investimentos privados e públicos para ampliar a capacidade produtiva e a infraestrutura econômica. Esse debate aparece transvestido no alegado esgotamento do modelo de crescimento apoiado no consumo.
O Gráfico 2 pode ajudar a entender as forças que levaram à forte desaceleração das taxas de crescimento do PIB. Ele pode ser lido da seguinte forma: quando as linhas estão acima do eixo, as variáveis cresceram a taxas mais elevadas do que a média do PIB no acumulado de quatro trimestres, e quando estão abaixo do eixo, as variáveis evoluíram mais lentamente do que o PIB, com a exceção da linha de importação de bens e serviços, porquanto se trata de vazamento de demanda para o exterior e que aparece com sinal invertido.
Para identificar as variáveis que empurraram o crescimento do PIB para baixo nos últimos trimestres é suficiente verificar aquelas que se situaram abaixo do eixo e aquelas que, mesmo situadas acima do eixo, estreitaram a distância em relação a ele, indicando que passaram a contribuir menos do que antes para expandir o crescimento.
Na retomada do crescimento em 2009, o consumo das famílias e o consumo do governo comandaram a expansão. Na sequencia, os investimentos (FBCF), que haviam desabado no auge da crise, começam a se recuperar estimulados pela expansão do mercado interno. A partir de 2010, o consumo do governo e o das famílias, nessa ordem temporal, passaram a crescer abaixo da média do PIB, mas a taxas elevadas.
A linha pontilhada que representa o consumo do governo (ver Gráfico 2) vai permanecer abaixo do eixo até o final de 2011, enquanto o consumo da família (responsável por cerca de 60% do PIB) desacelerou muito intensamente em 2011 e 2012, mesmo com a linha se situando um pouco acima do eixo. Em todos os períodos, as variáveis de consumo partiram na frente, sendo acompanhadas pelos investimentos com certa defasagem temporal, para cima e para baixo.
As trajetórias das curvas de exportações e de importações de bens e serviços mostram que o setor externo, em conjunto, não vem ajudando o crescimento, ainda que a desvalorização do real nos últimos meses possa alterar a situação.

Fonte IBGE: Contas trimestrais
Foram as desacelerações nas taxas de crescimento do consumo das famílias e, em menor escala, do consumo do governo que empurraram para baixo o crescimento do PIB, seguidas pela abrupta reversão na trajetória dos investimentos, na esteira do agravamento no cenário externo e do desaquecimento do consumo interno.
Para retomar o crescimento é necessário conjugar medidas de impacto de curto prazo sobre o consumo privado e a ampliação do gasto público, inclusive as despesas correntes, para restabelecer certo dinamismo que assegure expectativas otimistas entre empresários e famílias.  Medidas para reduzir o nível de endividamento das famílias e estimular o crédito já estão sendo tomadas, mas, talvez, sejam necessárias ações adicionais para intensificar os gastos públicos.

Publicado no Jornal da Cidade em 17/06/2012



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