Ricardo
Lacerda
Desde meados de
2011 que o governo federal vem adotando uma série de medidas visando reverter a
intensa desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira. As
medidas abrangeram um amplo leque de instrumentos para desvalorizar o câmbio, reduzir
juros, ampliar crédito, defender o mercado interno de setores especialmente
atingidos pelo intenso crescimento das importações, reduzir tributos de bens de
consumo, sem que o ritmo de atividade tenha, até o momento, dados sinais de reanimação.
Ver no Gráfico 1 o declínio acentuado da taxa de crescimento do PIB no
acumulado de quatro trimestres.
Reação
Diferentemente
da reação adotada em 2009, muito mais incisiva frente a um quadro mais agudo da
crise naquele momento, as medidas vem sendo tomadas de forma progressiva,
agregando novos instrumentos quando se conclui que os estímulos anteriores não
foram suficientes para reaquecer a demanda agregada da economia.
Também
diferentemente de 2009, o governo optou, até o momento, por não utilizar uma
política de gasto público de caráter anticíclico, colocando suas fichas na
recuperação na demanda das famílias e das empresas. Atento à intensificação dos
sinais de instabilidade nos países com situações fiscais mais fragilizadas da
Zona do Euro, o governo brasileiro vem buscando preservar a meta de superávit primário
estabelecida para o ano, como forma de assegurar a trajetória declinante das
taxas de juros.
Quando se decide
por intensificar os gastos, busca destravar o investimento público e não as
despesas correntes, inclusive com a ampliação da oferta de crédito para os estados,
como foi anunciada em reunião na última sexta-feira sobre a disponibilidade de
20 bilhões de reais por meio do programa de Pro-Invest, voltado para as obras
de infraestrutura.
Fonte IBGE:
Contas trimestrais
Há
uma tensão no debate sobre o melhor caminho para o governo atuar para
impulsionar o ritmo de atividade econômica. O debate frequentemente confunde questões
de curto prazo, de caráter conjuntural, relacionadas ao nível da demanda da
economia, com outras mais estruturais, associadas ao potencial de crescimento
de médio e longo prazos, que depende do aumento nos investimentos privados e
públicos para ampliar a capacidade produtiva e a infraestrutura econômica. Esse
debate aparece transvestido no alegado esgotamento do modelo de crescimento
apoiado no consumo.
O
Gráfico 2 pode ajudar a entender as forças que levaram à forte desaceleração
das taxas de crescimento do PIB. Ele pode ser lido da seguinte forma: quando as
linhas estão acima do eixo, as variáveis cresceram a taxas mais elevadas do que
a média do PIB no acumulado de quatro trimestres, e quando estão abaixo do eixo,
as variáveis evoluíram mais lentamente do que o PIB, com a exceção da linha de
importação de bens e serviços, porquanto se trata de vazamento de demanda para
o exterior e que aparece com sinal invertido.
Para
identificar as variáveis que empurraram o crescimento do PIB para baixo nos
últimos trimestres é suficiente verificar aquelas que se situaram abaixo do
eixo e aquelas que, mesmo situadas acima do eixo, estreitaram a distância em
relação a ele, indicando que passaram a contribuir menos do que antes para
expandir o crescimento.
Na
retomada do crescimento em 2009, o consumo das famílias e o consumo do governo
comandaram a expansão. Na sequencia, os investimentos (FBCF), que haviam
desabado no auge da crise, começam a se recuperar estimulados pela expansão do
mercado interno. A partir de 2010, o consumo do governo e o das famílias, nessa
ordem temporal, passaram a crescer abaixo da média do PIB, mas a taxas
elevadas.
A
linha pontilhada que representa o consumo do governo (ver Gráfico 2) vai
permanecer abaixo do eixo até o final de 2011, enquanto o consumo da família
(responsável por cerca de 60% do PIB) desacelerou muito intensamente em 2011 e
2012, mesmo com a linha se situando um pouco acima do eixo. Em todos os
períodos, as variáveis de consumo partiram na frente, sendo acompanhadas pelos
investimentos com certa defasagem temporal, para cima e para baixo.
As
trajetórias das curvas de exportações e de importações de bens e serviços
mostram que o setor externo, em conjunto, não vem ajudando o crescimento, ainda
que a desvalorização do real nos últimos meses possa alterar a situação.
Fonte IBGE:
Contas trimestrais
Foram
as desacelerações nas taxas de crescimento do consumo das famílias e, em menor
escala, do consumo do governo que empurraram para baixo o crescimento do PIB,
seguidas pela abrupta reversão na trajetória dos investimentos, na esteira do
agravamento no cenário externo e do desaquecimento do consumo interno.
Para
retomar o crescimento é necessário conjugar medidas de impacto de curto prazo
sobre o consumo privado e a ampliação do gasto público, inclusive as despesas
correntes, para restabelecer certo dinamismo que assegure expectativas
otimistas entre empresários e famílias. Medidas
para reduzir o nível de endividamento das famílias e estimular o crédito já
estão sendo tomadas, mas, talvez, sejam necessárias ações adicionais para
intensificar os gastos públicos.
Publicado no Jornal da Cidade em 17/06/2012
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