Ricardo Lacerda
Enquanto o consumo de cana para a produção de açúcar cresceu a taxas médias anuais de 8,1%, entre as safras de 2000/1 e a de 2008/9, a cana destinada à produção de álcool aumentou 12,7% ao ano.
Nessa nova etapa da agroindústria canavieira em Sergipe, em que os novos investimentos se voltam para a produção de energia, uma parcela crescente e majoritária da cana-de-açúcar se destina à produção de etanol. Na safra 2009/10, 69% da produção canavieira foi processada para a produção de álcool hidratado e anidro, frente aos 31% destinados à produção de açúcar (ver Gráfico 2)
A tradicional indústria canavieira de Sergipe, a exemplo do que vem ocorrendo no restante do Brasil, procura se reinventar com a formação de um complexo produtor de energia. A diversificação da produção, que propicia atuar em três mercados com dinâmicas bem distintas (açúcar, combustível e energia elétrica), concorre para reduzir a instabilidade que periodicamente desorganiza o setor, além de prover novas fontes de rendimentos. Tem sido interessante o formato que vem assumindo a implantação desse complexo em Sergipe, com a entrada no mercado de grupos empresariais originários de atividades comerciais.
Publicado no Jornal da Cidade em 03/06/2012
Foi inaugurada na última terça-feira, no município de Nossa Senhora das Dores, a Usina Elétrica Renovável Gentil Barbosa, com capacidade de gerar 34 MW a partir do aproveitamento da biomassa da cana, oferta suficiente para atender as necessidades do complexo agroindustrial e o equivalente ao consumo conjunto dos municípios de Lagarto e Itabaiana.
A implantação da unidade de biomassa do grupo Agroindustrial Campo Lindo simboliza a nova etapa que vivencia a agroindústria canavieira em Sergipe, que procura se afastar do modelo tradicional e estigmatizado do setor e enveredar para a formação de um complexo produtor de energia. O investimento na unidade geradora de energia a partir de biomassa, da ordem de R$ 100 milhões, eleva para R$ 300 milhões o investimento realizado no complexo, com a criação de três mil empregos diretos formais, com grande impacto na economia da região. Em uma terceira fase, o grupo efetuará investimentos na produção de energia elétrica de origem eólica, com a implantação de mais de cinquenta torres em meio ao canavial.
Sucroenergético
Alerta-nos Marco Aurélio Déda, que desenvolve estudo instigante sobre a competitividade das atividades da agroindústria canavieira no Nordeste, que a tradicional indústria açucareira brasileira desde 2010 passou a ser referida como indústria sucroenergética para caracterizar mais adequadamente os mercados em que as empresas atuam. Na safra 2008/9, 61% do chamado ATR- Açúcar Total Recuperável da cana brasileira foram destinados à produção de etanol e os demais 39% à produção de açúcar. Trata-se, portanto, de, crescentemente, competir no mercado de combustíveis, ainda que o mercado do açúcar deva continuar respondendo por uma parcela ampla da atividade.
Enquanto o consumo de cana para a produção de açúcar cresceu a taxas médias anuais de 8,1%, entre as safras de 2000/1 e a de 2008/9, a cana destinada à produção de álcool aumentou 12,7% ao ano.
Açúcar e etanol experimentaram, por diferentes razões, fase muito favorável nos anos recentes. O açúcar beneficiou-se do aquecimento no consumo mundial e de problemas climáticos em alguns dos principais países concorrentes, ainda que os preços venham declinando nos últimos meses; o etanol contou com a contínua expansão da demanda, decorrente do intenso crescimento da frota automobilística no país, e se beneficia do patamar elevado da cotação mundial do petróleo. Como os custos de produção do etanol vêm crescendo rapidamente e a Petrobras não tem repassado para o mercado interno os incrementos dos preços internacionais do barril de petróleo, a indústria amplia a produção do álcool anidro, que é misturado à gasolina, enquanto reduz a fração do álcool hidratado, bem concorrente.
Além de açúcar e combustível, a agroindústria canavieira passou a focalizar um novo mercado, a produção de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar, seja para autoconsumo da planta industrial, seja para fornecimento da rede geral por meio de leilões instituídos pela ANEEL.
Etanol
Com a crise de desabastecimento nos anos noventa, o que afetou de forma muito incisiva a produção canavieira em todo o Brasil, inclusive Sergipe, a produção de etanol somente vai se recuperar no início da década de 2000, com a introdução dos veículos bicombustíveis.
Depois de atingir o fundo do poço em 2001, com a produção de 1,16 milhão de toneladas, a produção de cana-de-açúcar sergipana inicia a retomada com um vigoroso salto em 2007, fomentada pela instalação das duas novas usinas de etanol que entrarão em operação no ano seguinte, alcançando 2,4 milhões de toneladas. Com a ampliação do nível de produção das novas unidades, a quantidade produzida de cana-de-açúcar atingiu 3 milhões de toneladas em 2010 (ver Gráfico 1).
Fonte: Pesquisa Agrícola Municipal- IBGE
Nessa nova etapa da agroindústria canavieira em Sergipe, em que os novos investimentos se voltam para a produção de energia, uma parcela crescente e majoritária da cana-de-açúcar se destina à produção de etanol. Na safra 2009/10, 69% da produção canavieira foi processada para a produção de álcool hidratado e anidro, frente aos 31% destinados à produção de açúcar (ver Gráfico 2)
Fonte: Mapa.
A tradicional indústria canavieira de Sergipe, a exemplo do que vem ocorrendo no restante do Brasil, procura se reinventar com a formação de um complexo produtor de energia. A diversificação da produção, que propicia atuar em três mercados com dinâmicas bem distintas (açúcar, combustível e energia elétrica), concorre para reduzir a instabilidade que periodicamente desorganiza o setor, além de prover novas fontes de rendimentos. Tem sido interessante o formato que vem assumindo a implantação desse complexo em Sergipe, com a entrada no mercado de grupos empresariais originários de atividades comerciais.
Publicado no Jornal da Cidade em 03/06/2012
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