Mudanças de grande vulto estão em andamento na economia mundial. As economias dos países ricos enfrentam em 2012 o quinto ano de baixo crescimento, a contar de 2007. Apenas em 2010, quando parecia que o pior da crise financeira internacional já havia passado, o produto interno dessas economias alcançou taxa de crescimento de 3%. A projeção do FMI, elaborada em setembro de 2011 e naturalmente sujeita a revisões, é de que o ritmo lento nas economias centrais deverá se estender até 2016.
Enquanto isso, a China mudou o seu peso e o seu papel na economia global. No período 2007-2011, as economias avançadas tiveram crescimento de apenas 3,7%, a Zona do Euro, de 2,4%. A China cresceu 65% e o Brasil e a América Latina, um pouco acima de 20%. A economia da China em 2011 era cerca de três vezes maior do que em 2000, a da América Latina, 45% maior, a do Brasil, 47% maior, enquanto nas economias avançadas o PIB era apenas 19% superior e na Zona do Euro, 14%.
O acelerado avanço do gigante asiático vem transformando as relações entre as economias nacionais, com grande impacto sobre o Brasil, impulsionando intensamente a produção de commodities agrícolas e minerais, mas com efeitos perversos sobre a indústria de transformação.
É difícil estimar o quanto das dificuldades atuais da nossa indústria de transformação se deve à desaceleração do crescimento econômico desde meados de 2011 e o quanto cabe às transformações na economia mundial. Há, assim, fatores estruturais e conjunturais atuando no atual quadro de estagnação da indústria brasileira.
Produção Industrial
O Gráfico 1 apresentado a seguir mostra a evolução da produção física da indústria brasileira desde dezembro de 2002. Até setembro de 2008, a indústria de transformação vinha apresentando taxas de crescimento elevadas. Depois de despencar durante a crise de confiança no final de 2008, a produção industrial iniciou ao longo de 2009 a retomada do nível de atividade, alcançando em março de 2010 um patamar similar ao de antes da crise.
Desde então, a produção física da indústria de transformação entrou em longo processo de estagnação. A partir de março de 2011, o quadro foi agravado, com queda do nível de produção em 6 dos 11 meses medidos até fevereiro de 2012. Não há, portanto, sombra de dúvida, que o aspecto conjuntural tem peso na atual situação crítica da indústria brasileira. Mas essa é apenas uma parte da história.
Fonte: IBGE-PIM
Setores
O aspecto mais estrutural da crise da indústria brasileira fica patente quando a atividade industrial é observada em níveis setoriais mais desagregados, como está apresentado no Gráfico 2. Mesmo no período de crescimento mais acelerado, o ritmo variou muito entre as atividades industriais.
Enquanto o setor de bens de capital e os bens de consumo duráveis, esses últimos puxados pela intensa expansão da indústria automotiva (embora não exclusivamente), registraram expansões acentuadas no volume de produção física, os segmentos de bens intermediários (que são utilizados pelas empresas nos seus processos produtivos) e de bens de consumo semiduráveis e não duráveis (têxtil, calçados e alimentos industrializados) apresentaram crescimentos bem menos exuberantes.
Fonte: IBGE-PIM
No caso de alguns insumos industrializados, como os destinados à indústria de alimentos e bebidas, a produção nacional se retraiu mesmo nesse período de intenso crescimento e a fabricação de insumos industriais elaborados para os demais segmentos da indústria manteve-se praticamente estagnada (Ver Tabela abaixo). Após setembro de 2008, todos os grupos de setores foram impactados, mas as atividades de fabricação de bens de capital e de bens de consumo duráveis foram mais afetadas.
É possível inferir que dois processos de caráter mais estrutural vêm impactando a indústria de transformação brasileira: De um lado, a perda de participação dos setores bens intermediários na estrutura industrial, em função da substituição de insumos e componentes produzidos localmente por insumos importados, e o aumento da participação de produtos importados no mercado de bens de consumo não duráveis, deslocando também a produção doméstica.
As medidas de defesa/estímulo à indústria que foram adotadas na semana que passou podem amortecer os problemas mais agudos que surgiram com a desaceleração recente do nível de atividade industrial e devem ser benvindas por isso. Todavia elas são relativamente tímidas para enfrentar as questões mais estruturais da perda de competitividade do produto brasileiro que estão associadas a câmbio, logística e inovação tecnológica.
Fonte: IBGE-PIM
Publicado no Jornal da Cidade em 08/04/2012
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