Ricardo Lacerda
A Vale e a Petrobras anunciaram no inicio de fevereiro o fechamento do acordo para o arrendamento por 30 anos das reservas de carnalita em Sergipe. Não foi uma negociação fácil. A própria Presidente da República Dilma Rousseff, por interveniência do Governador Marcelo Déda, precisou aproximar as partes para que a negociação chegasse a bom termo, depois de um longo impasse sobre a extensão das reservas, em virtude de sobreposição de jazidas de petróleo e de carnalita em algumas áreas, e sobre as contrapartidas envolvidas. Segundo a imprensa, o acordo não passou por desembolso financeiro imediato ou cessão de patrimônio pela Vale e sim pelo compartilhamento de receitas futuras do empreendimento, mas essa informação ainda carece de confirmação.
O Projeto Carnalita, como explica a Vale, tem como objetivo a produção de cloreto de potássio (KCl) por meio de “lavra de dissolução”, produzindo uma salmoura rica de sais de potássio, sódio e magnésio.
Para Sergipe, o Projeto Carnalita, em primeiro lugar, assegura a continuidade da produção de potássio por mais 30 anos. A produção hoje realizada a partir da silvinita deverá entrar em processo de declínio nos próximos anos. Mas outros aspectos também são relevantes.
Os números do projeto são de impressionar: o investimento deve alcançar US$ 4 bilhões, montante muito superior a qualquer outro já realizado em Sergipe por uma empresa privada e a empresa prevê a geração de até 4 mil empregos durante a implantação e cerca de mil empregos na operação. O leitor pode avaliar o impacto que tal empreendimento deverá ter sobre o mercado de trabalho e sobre o volume de recursos circulando na economia sergipana. Por tudo isso, não é exagero afirmar que se trata do mais importante empreendimento produtivo já realizado em Sergipe, depois da exploração de petróleo.
Outro aspecto é que o Projeto Carnalita integra o plano da empresa Vale de ampliar os seus investimentos na área de fertilizantes, em que o país é altamente dependente de importações.
Dependência
Como um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, o Brasil precisa consolidar a sua cadeia produtiva de fertilizantes. Segundo estimativa da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA), o grau de dependência da agricultura brasileira de fertilizantes importados alcançou 70% em 2011. No caso de potássio, um dos três nutrientes básicos, a dependência atinge 90%, sendo a mina Taquari-Vassoura, em Sergipe, a única unidade produtiva no território nacional.
O gráfico 1 mostra a produção e a importação de fertilizantes intermediários entre 2000 e 2011. Enquanto a produção nacional de fertilizantes aumentou 1,9 milhão de toneladas no período, indo de 8,0 para 9,9 milhões de toneladas (taxa de crescimento de 23%), o volume de importações cresceu de 10,3 milhões de toneladas para 19,8 milhões de toneladas, um incremento de 9,5 milhões de toneladas (ou 93%).
Fonte: Anda
Potássio
Além da jazida de Sergipe, há reservas comprovadas de cloreto de potássio no Amazonas, Minas Gerais e Tocantins. A exploração, todavia, tem se limitado ao projeto Taquari-Vassouras e deve ser encerrada em alguns anos. Entre 2000 e 2011, a produção da mina cresceu apenas 7%, mantendo-se, em média, um pouco abaixo de 700 mil toneladas (ver gráfico 2).
Fonte: Vale
A produção de cloreto de potássio a partir da exploração da carnalita abre a perspectiva da produção sergipana (e nacional) alcançar 1,2 milhão de toneladas, em 2015, podendo atingir 2,4 milhões de toneladas, em um cenário alternativo mais otimista, com uma área de concessão mais extensa.
Publicado no Jornal da Cidade em 18/02/2012
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