Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 21 de março de 2011

A retomada da economia canavieira em Sergipe

Ricardo Lacerda

A produção sergipana de açúcar restou estagnada por um longo período que se seguiu ao final da segunda guerra mundial. Na safra canavieira de 1948/49, a produção de açúcar no Estado alcançou 47,8 mil toneladas. Em 1974/75, vinte e seis anos depois, a produção sergipana de açúcar somou 46,5 mil toneladas, situando-se no mesmo patamar daquela obtida no primeiro registro do pós-guerra.

Ao longo de todo esse período, a produção estadual somente logrou superar a barreira de 50 mil toneladas em duas safras. A história da crise canavieira, inclusive com o fechamento de usinas nesse período, é conhecida e, ainda que semelhante a de outros estados da região, pareceu mais profunda, fazendo cristalizar a percepção de falta de perspectiva para a atividade em Sergipe, frente a outras culturas, como a laranja e o coco que se expandiam.


Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Próalcool

Desde meados dos anos setenta, todavia, o cenário da cultura canavieira no Brasil foi radicalmente transformado, com o início da implementação do Plano Nacional do Álcool- Proálcool cujos principais marcos são a produção de carros movidos a álcool hidratado e, mais adiante, a produção de veículos bicombustíveis.

A produção do açúcar que respondeu, na safra 1974/75, por 87% do chamado Açúcar Total Recuperável (ATR), contra 13% da soma do álcool anidro e do álcool hidratado perdeu rapidamente espaço no complexo sucroalcooleiro brasileiro, até atingir sua menor participação em 1989/90, quando representou tão somente 27% do total, contra 64% do álcool hidratado e 9% do álcool anidro. (Ver gráfico 1).

No início dos anos noventa, a ameaça de desabastecimento de álcool hidratado para mover a frota de veículos pôs em risco o programa nacional de álcool, crise que somente foi superada com a fabricação e a disseminação do uso dos motores híbridos (flexíveis), movidos a álcool e a gasolina, já na virada para o novo século.

A parcela do álcool hidratado no ATR, que recuou até 20% na produção de 2004/2005, na safra de 2008/2009 já atingia 39%, a mesma porcentagem da produção do açúcar. (Ver gráfico 1). Com o estímulo da produção crescente do álcool, a atividade canavieira assumiu dimensão muito mais significativa para a economia brasileira, pois se tratava a partir de então não apenas da tradicional atividade açucareira, mas de um complexo sucroalcooleiro, fundamental como fonte de energia e de produção de derivados químicos para o país.

A quantidade de cana moída que se situava em torno de 30 milhões de toneladas no inicio dos anos setenta, multiplicou cerca de dez vezes até a safra de 2008/09, quando atingiu 312 milhões de toneladas. A montagem do complexo sucroalcooleiro criou importantes sinergias para a atividade canavieira, que passa a contar com os dois mercados, o de combustíveis e o de açúcar, permitindo o produtor direcionar a produção para o mais atrativo deles. Com isso, não apenas a produção de álcool cresceu no período, como também a produção de açúcar, que passou de 5,4 milhões de toneladas, na safra 1971/72, para 29,9 milhões de toneladas na safra 2008/2009.

Sergipe

A produção canavieira em Sergipe, depois do impulso dos primeiros anos do Proálcool, entrou em declínio nos anos noventa. Depois de atingir 2,2 milhões de toneladas em 1990, segundo a Pesquisa Agrícola Municipal, recuou para 1,17 milhões de toneladas em 2002, quando o preço do açúcar atingiu o fundo do poço no mercado internacional.
Desde 2004, todavia, impulsionada pela expansão da frota nacional de veículos bicombustíveis e pela trajetória ascendente do preço do açúcar no mundo, a atividade canavieira de Sergipe iniciou um ciclo de recuperação que veio a ser consolidado nos últimos anos com a implantação das usinas de Campo Lindo e Taquari, localizadas, respectivamente, em Nossa Senhora das Dores e em Capela.
Em 2009, último ano com dados disponíveis, a produção canavieira de Sergipe atingiu 2,7 milhões de toneladas. Já na segunda metade dos anos setenta, o volume de produção teve forte incremento, e na safra de 2008/2009 alcançou 89,8 mil toneladas, deixando para trás o patamar das 50 mil toneladas.
Ainda que a produção de cana de açúcar de Sergipe represente apenas 3,7% do total do Nordeste, esse ciclo recente confirmou um novo espaço para atividade canavieira no Estado, que em 2002, havia chegado a participar com apenas 2,2% da produção regional.
O gráfico 2 a seguir apresenta o índice de evolução da produção da cana de açúcar no Brasil, Nordeste e Sergipe, entre 1995 e 2009. Fazendo a média do triênio 1994-96 igual a 100, o índice de produção sergipana, depois de alcançar 135 em 2004, conheceu sucessivos saltos nos anos seguintes até atingir 198 em 2009. Note-se, no gráfico, que a produção açucareira do Nordeste não teve o mesmo impulso nos últimos anos.


Fonte: IBGE: Pesquisa Agrícola Municipal.

A combinação de preços muito favoráveis no mercado internacional do açúcar com a expansão do mercado brasileiro de biocombustíveis abriu novas oportunidades para a retomada da atividade canavieira em Sergipe. Municípios como Capela, Japaratuba, Laranjeiras, Pacatuba, Japoatã, Nossa Senhora das Dores, Riachuelo e Siriri têm sido os mais favorecidos por esta expansão.

Artigos anteriores estão postados em http://cenariosdesenvolvimento.blogspot.com/

Publicado no Jornal da Cidade em 20/03/2011

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