Ricardo Lacerda
A continuidade do enfraquecimento do mercado
de trabalho em 2017, com a queda do emprego formal e o incremento de vínculos
precários, impactou os rendimentos da população; a renda média do brasileiro
caiu e a miséria aumentou.
O IBGE publicou na semana passada os
resultados de 2017 da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio Contínua- PNADC
referentes aos rendimentos da população. A pesquisa mostrou, entre outras
coisas, que a renda entre os mais pobres caiu bem mais do que entre as pessoas
mais ricas.
Em termos regionais, o Nordeste e o Sudeste
foram as áreas mais atingidas pela crise no mercado de trabalho; a primeira
região por ter sido a única em que o contingente de pessoas que obtinham rendimento
com trabalho caiu na comparação com o ano anterior; a segunda pelos efeitos
mais acentuados da precarização dos vínculos trabalhistas, com a substituição do
emprego formal por formas precárias de inserção no mercado de trabalho, que fizeram
com que fosse a única região cujos rendimentos médios das pessoas que estavam
ocupadas tivessem recuado. Nordeste e Sudeste também foram as regiões em que as
quedas do rendimento do trabalho das pessoas de rendas mais baixas foram as mais
acentuadas do que a média do país.
A queda de renda nos estratos de mais baixos
rendimentos provocou uma nova leva de pessoas que ficaram abaixo da linha
demarcatória de pobreza extrema. Segundo
estimativa da empresa de consultoria LCA, mais 1,5 milhão de pessoas no Brasil engrossaram
o contingente de pessoas em situação de pobreza extrema.
Ocupação e rendimentos
Em 2017, trezentos e dez mil pessoas deixaram
de ter rendimentos do trabalho no Brasil. O número de pessoas que obtiveram
rendimento do trabalho registrou queda acentuada no Nordeste, incremento
residual no Sudeste e Sul e aumentos um pouco mais expressivos no Centro-Oeste
e Norte. Enquanto no Nordeste o contingente de pessoas com rendimento do
trabalho se retraiu em 448 mil pessoas, a região Sudeste registrou aumento em 4
mil pessoas e a região Sul, em 8 mil pessoas; o Norte agregou mais 20 mil
pessoas com rendimentos do trabalho e o Centro-Oeste, mais 107 mil pessoas.
O rendimento médio real mensal do trabalho no
Brasil, em 2017, se retraiu 1,4%, passando de R$ 2.268,00, no ano anterior,
para R$ 2.237,00 (Ver Gráfico 1). A
região Nordeste manteve-se como a de menor rendimento médio (70,2% da média
nacional), enquanto a região Sul (114,7% da média nacional) substituiu a região
Sudeste como a de rendimento de trabalho mais elevado.
Segunda a pesquisa, o Sudeste foi a única
região que registrou queda do rendimento médio do trabalho e também da massa de
rendimento. O Sudeste apresentou, em 2017, redução do rendimento mensal em todas
as classes de percentual de rendimento, retrações que foram mais acentuadas nos
estratos de renda extremos, os mais baixos e os mais altos, e menos acentuadas
nos estratos intermediários. O comportamento dos rendimentos da região Sudeste
divergiu de todas as demais regiões brasileiras, cujas quedas se concentraram
nas classes de percentuais de renda mais baixos.
Fonte: IBGE. PNADC
Pobreza extrema
A partir dos dados da PNADC, a consultoria LCA estimou
que o número de brasileiros que se encontram abaixo da linha da pobreza extrema
aumentou 11,2% em 2017, adotando-se a linha de corte do Banco Mundial para
países de nível médio-alto desenvolvimento de US$ 1,90 de renda domiciliar per
capita por dia, corrigida pela paridade de poder de compra. Mais um milhão,
quatrocentos e noventa mil brasileiros passaram a ter rendimentos inferiores a
esse limite. Aumento tão expressivo do contingente de pessoas nessa situação,
quando o rendimento médio real de todas as fontes declinou tão somente 0,6%,
reflete principalmente a queda muito mais acentuada dos rendimentos das faixas
mais pobres da população.
Em termos regionais, os maiores contingentes de pessoas
que ingressaram na pobreza extrema em 2017 residiam no Nordeste (mais 800 mil
pessoas) e no Sudeste (mais 400 mil pessoas), mas em todas as regiões a pobreza
extrema se expandiu (Ver Gráfico 2).
Fonte: IBGE. PNADC. Estimava elaborada pela
consultoria LCA, publicada no Valor Econômico de 12 de abril de 2018.
Publicado no Jornal da Cidade, em 15/04/2018
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