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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 13 de novembro de 2016

Ruim por muito tempo

Ricardo Lacerda
Ao final de 2014, a economia brasileira iniciou um processo de ajuste fiscal que tem se revelado longo e penoso e que deverá se estender ainda por alguns anos. A economia brasileira ainda não atingiu o “fundo do poço” e, na verdade, nos últimos meses o processo de estabilização foi interrompido; indústria e comércio voltaram a acentuar a queda.

Longa recessão
O Gráfico apresentado acompanha a evolução do PIB nas quatro principais economias latino-americanas (Brasil, México, Colômbia e Argentina) depois da crise financeira internacional de 2008.  A Colômbia registrou comportamento bem superior às outras três economias. O PIB do Brasil parou de crescer desde 2014, e em 2015 e 2016 decresceu mais de 3% ao ano. Em 2017, deveremos parar de cair.

Fonte: FMI-WEO.
A economia brasileira não deverá deslanchar antes de 2018. Ainda assim a retomada vai depender de uma série de variáveis internas, como a instabilidade política associada aos processos de investigação criminal de políticos e do mundo corporativo, e externas, o que vai acontecer com as economias dos EUA, União Europeia e China.
Há consenso sobre a necessidade do país realizar o ajuste de suas contas públicas. As discordâncias dizem respeito: a) ao caminho a ser trilhado; b) ao custo social e econômico do ajuste e, sobretudo; c) quais segmentos sociais vão arcar com a maior parte do ônus.
A principal dificuldade de ordem prática é como inverter de negativo para positivo o resultado primário quando a arrecadação federal vem despencando a taxas muito acentuadas.  Frente à continuidade da queda nas receitas públicas, o governo federal provavelmente deverá recorrer a aumentos de tributação.

Do ponto de vista do longo prazo, o problemático não é fazer o ajuste fiscal e sim a transição que se esconde por trás dele, desde a implementação de um amplo corte nas políticas sociais, passando pela precarização do mercado de trabalho e alcançando seu objetivo primordial, o encolhimento do peso do estado da economia e regressão parcial do estado de bem-estar.

Muito provavelmente, após o ajuste fiscal, o Brasil terá transitado para um novo formato do estado, mais parecido com o que tínhamos nos anos noventa. Caso isso de fato seja concretizado, não há dúvida de quem serão os perdedores em termos regionais, o Nordeste e o Norte, muito especificamente as pessoas e as sub-regiões que mais dependem da ação do estado.
O ajuste fiscal
O Banco Central esclareceu na ata da última reunião do COPOM e nas comunicações de seu presidente que não se impressiona com os números muitos ruins do nível de atividade no terceiro trimestre e que vai continuar perseguindo a meta de inflação para 2017, seja a que custo for. O custo não é difícil de dimensionar: continuidade por alguns trimestres da deterioração do mercado de trabalho, agravamento das dificuldades na situação das finanças nas três esferas de governo e o acúmulo de dificuldades nas finanças empresariais.  
Nessa estratégia, o processo de estabilização e de início da retomada será necessariamente muito gradual. Decorrerá não de medidas de impulso à demanda interna, que se revelaram pouco eficazes no passado recente. Tampouco será impulsionado pelas vendas ao exterior que abortaram a esperança de um crescimento robusto, em parte por conta do comportamento do recente do câmbio.
A retomada, portanto, ficará na dependência, de um lado, do próprio mecanismo de amortecimento do ciclo de negócios, relacionado à interação entre o acelerador e o multiplicador, em que progressivamente as quedas do consumo e a deterioração do mercado de trabalho vão se tornando menos acentuadas, até que em algum momento se atinge um piso, que não se sabe exatamente qual é.  De outro lado, a recuperação dependeria ainda dos efeitos positivos dos ganhos de confiança entre investidores externos e entre famílias e empresas associados à demonstração de compromisso do governo com a austeridade fiscal e monetária. À medida que a inflação convirja para a meta projetada os juros nominais deverão declinar.  Parece pouco, e de fato é.

 Publicado no Jornal da Cidade, em 13/11/2016

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