Ricardo Lacerda*
Desde o 1º trimestre de 2015, quando as
medidas de ajuste da economia brasileira começaram a ser implementadas, que o
comércio varejista vem decaindo. São sete trimestres subsequentes de
encolhimento no volume de vendas. O dado novo do 3º trimestre de 2016 é que o
ritmo de queda acentuou-se, registrando recuo de 1,7%, quando no 2º trimestre
havia se retraído em 0,5%. No acumulado de janeiro a setembro, o volume de
vendas do varejo caiu 6,5% em comparação com o mesmo período de 2015, queda
muito superior à retração do PIB, quase dois pontos percentuais a mais. O varejo
ampliado, que agrega ainda as vendas de veículos e peças automotivas e de materiais
de construção, recuou incríveis 9,2% no acumulado do ano.
Sob o regime de ajuste, a economia brasileira
enfrenta situação inversa a do período imediatamente anterior quando o varejo e
o consumo cresciam à frente do PIB; no período de ajuste, consumo e varejo encolheram
em ritmo mais acentuado do que o nível de atividade.
Restrições ao crédito, juros muito elevados, intensa
deterioração do mercado de trabalho e a frustração em relação aos efeitos da
melhoria confiança causada pela mudança de governo são alguns dos principais
motivos que explicam o desempenho ruim do varejo e dificuldade em estabilizar o
nível de vendas. A eles devem ser agregados outros fatores associados ao
declínio do nível de atividade e à crise política, como a forte deterioração das
finanças de estados e municípios que vem provocando atraso no pagamento do funcionalismo
e dos fornecedores, os colapsos na construção civil e na construção naval e as
dificuldade enfrentadas no setor de petróleo e gás.
Renda corrente e confiança
Os segmentos do varejo cujas vendas são mais
dependentes de crédito e da confiança das famílias em relação ao futuro
apresentaram quedas muito mais acentuadas do que aqueles que comercializam bens
considerados mais essenciais e mais associados à renda corrente auferida. A
perda de renda e a insegurança sobre o futuro estão fazendo com que as famílias
cortem em profundidade as despesas que podem ser adiadas.
Assim, enquanto as vendas em hipermercados e
supermercados, de produtos alimentícios, cigarros e bebidas e a de produtos
farmacêuticos e cosméticos declinaram respectivamente 2,9% e 1,1% no acumulado
de janeiro a setembro, na comparação com igual período do ano anterior, as
vendas de bens de consumo duráveis apresentaram retrações bem mais acentuadas:
o volume de vendas de veículos e peças caiu 14,6%; de móveis e eletrodomésticos,
12,8% e 13.9%; e de material de escritório, informática e comunicação
(aparelhos celulares), 14,7% (ver Gráfico). Mesmo as vendas de bens
semiduráveis como calçados e vestuário e do segmento de outros bens de uso
pessoal ou doméstico vêm despencando, - 11,3% e -11,7% no acumulado de 2016.
As vendas de veículos e peças caíram 14,6% e
as de materiais de construção no varejo, 12%.
Fonte: IBGE. PMC
3º trimestre
Na maioria das principais atividade do varejo a retração
no 3º trimestre foi mais acentuada do que no 2º trimestre. As vendas no
segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo
que haviam crescido no segundo trimestre do ano voltaram a cair na 3º
trimestre.
As vendas do 3º trimestre foram especialmente ruins nos
segmento de tecidos, calçados e vestuários (-5,5%), de móveis e
eletrodomésticos (-5,5%) e no segmento de veículos e peças, com retração de
4,33%, depois de já terem se retraído 7,24% no trimestre anterior. Na tabela,
foram marcadas as células em que a evolução no 3º trimestre foi pior do que no
2º trimestre.
Tabela. Taxa de crescimento do volume de
vendas no varejo por atividades (%)
|
||
ATIVIDADES
|
2º T 2016
|
3º T_2016
|
Hiper, supermercados,
alimentos, bebidas e fumo
|
0,47
|
-0,72
|
Combustíveis e
lubrificantes
|
-1,12
|
-2,19
|
Tecidos, vestuário e
calçados
|
0,75
|
-5,50
|
Móveis e
eletrodomésticos
|
-2,07
|
-3,67
|
Farmacêuticos e
cosméticos
|
-3,21
|
-2,10
|
Livros, jornais, revistas
e papelaria
|
-6,96
|
-2,95
|
Mat de escritório,
informática e comunicações
|
-6,77
|
-1,41
|
Outros produtos de uso
pessoal e doméstico
|
-0,77
|
-2,22
|
Varejo
|
-0,48
|
-1,66
|
Veículos e peças
|
-7,24
|
-4,43
|
Materiais de construção
|
-3,04
|
-1,83
|
Fonte: IBGE. PMC
O terceiro trimestre de 2016 indicou reversão ou pelo
menos estancamento na trajetória de estabilização do nível de atividade da
economia brasileira. Varejo, serviços e indústria frustraram as expectativas de
que parariam de cair e retomariam o crescimento. Até o momento, o governo tem
se manifestado mais preocupado com a trajetória da inflação do que com a nova
aceleração da queda do nível de atividade.
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