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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Reversão da indústria no 3º trimestre

Ricardo Lacerda
Quando o então ministro da fazenda Joaquim Levy iniciou seu programa de ajuste fiscal e de correção do câmbio, na passagem de 2014 para 2015, o impacto sobre o nível de atividade foi muito mais rápido e intenso do que se previra. A queda abrupta do nível de atividade não demorou a repercutir na arrecadação das três esferas de governo acentuando celeremente a deterioração das contas públicas.
Não tardou a ficar patenteado que o ajuste duro e de duração relativamente curta imaginado pelo ministro Levy não funcionou, em parte por conta do cerco político ao governo que impediu a aprovação das propostas de ajuste pelo parlamento. Àquela altura dos acontecimentos, ampla coligação entre parcelas crescentes da classe política, empresariado, sistema judiciário e grande mídia, cada segmento com suas próprias motivações, havia dobrado a aposta no colapso da governabilidade a fim de provocar a derrubada do governo recém-eleito.
O sucessor de Joaquim Levy, o ministro Nelson Barbosa, enunciou na sua posse nos últimos dias de 2015 que era urgente estabilizar o nível de atividade e que o ajuste fiscal necessariamente deveria ser gradual. Em linhas gerais, a equipe de Meirelles, que assumiu o comando da economia no início de maio de 2016, deu sequência a essa estratégia, com a vantagem de contar com o apoio político que o establishment negara a seus antecessores mas com a brutal desvantagem de que a situação fiscal havia se degradado muito nesse interregno de quase um ano e meio de forte queda do PIB.
Ao final de 2016, quase seis meses depois de afastada a presidente eleita e completando cerca de dois anos do início das políticas de ajuste fiscal, o nível de atividade econômica ainda não se estabilizou. O comportamento da atividade industrial, parece-nos, reflete as dificuldades encontradas em estabilizar a economia e, ao mesmo tempo, concorre para postergar o início da a estabilização.
Produção industrial
A publicação da Pesquisa Industrial Mensal de agosto, indicando queda no volume de produção de 3,8% em relação a julho, abriu a temporada de revisão para baixo das projeções de evolução do PIB brasileiro de 2016 e de postergação do início da recuperação, mesmo que em ritmo muito gradual, do nível de atividade econômica. O anuncio de crescimento de 0,5% na produção industrial de setembro não foi suficiente para injetar otimismo nas perspectivas de crescimento.
A produção industrial do terceiro trimestre recuou 1,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Com esse resultado, inverteu-se a tendência de estabilização do nível de atividade do setor que no 1º trimestre de ano havia reduzido pela primeira vez o ritmo de queda e no segundo trimestre obteve crescimento de 1,1% (ver Gráfico 1).

Fonte: IBGE-PIM
O resultado da produção industrial do terceiro trimestre foi muito ruim, especialmente porque a retração na produção foi disseminada, abrangendo dezessete dos vinte e quatro ramos pesquisados.
Ocupação, renda e câmbio
Pelos menos três fatores foram determinantes na reversão da tendência de estabilização da atividade industrial: a necessidade de ajustar os estoques em um cenário de queda acentuada do poder de compra da população; a restrição e o custo do crédito, e; a forte apreciação da moeda e os seus efeitos sobre a competividade do setor no mercado interno e no mercado externo. Um quarto fator pode estar associado aos efeitos da estiagem sobre a produção agroindustrial.
Em relação ao comércio exterior de produtos industrializados, é importante frisar que não se trata apenas do desempenho ruim do setor exportador brasileiro. De fato, se o valor exportado pelo Brasil recuou no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, as exportações produtos industrializados aumentaram 6,5% nessa comparação, mesmo que a base de comparação seja muito rebaixada. Há, ainda, que se considerar a perda de competitividade no mercado interno e o declínio no valor das vendas no mercado externo em termos do equivalente em moeda nacional, por conta da forte apreciação do real no período.
A produção física da indústria iniciou sua trajetória de declínio acentuado no último trimestre de 2014. Quando a produção do setor nos dois primeiros trimestres de 2016 parecia que iria se estabilizar, no terceiro trimestre ela voltou a apresentar declínio acentuado. Nos quatro trimestre acumulados até setembro, o setor registrou queda de 8,8%, na comparação com igual período anterior. Mais grave é que a produção nos quatro trimestre acumulados em setembro de 2016 é praticamente a mesma do ano de 2004 (ver Gráfico 2).


 Fonte: IBGE-PIM



Publicado no Jornal da Cidade, em 06/11/2016 com o título A Indústria em jogo

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