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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O comportamento dos componentes do PIB

Ricardo Lacerda
Do ponto de vista das despesas ou da demanda agregada, o PIB é igual à soma dos seus cinco componentes, a saber: o Consumo das Famílias, o Consumo do Governo, a Formação Bruta de Capital Fixo- FBCF (incluindo a variação dos estoques), as Exportações de Bens e Serviços e o quinto fator são as Importações de Bens e Serviços com sinal negativo, dado que significam despesas que vazam para o resto do mundo. Em termos algébricos,  PIB= Cons das Familias + Cons do Governo + FBCF + (Saldo das Exp – Imp de B e S).
Há pelo menos duas formas de interpretar a relação entre o PIB e os componentes da demanda agregada. No sentido mais restrito é apenas uma igualdade contábil. Assim, ao final de um determinado período, são somados todos os componentes da demanda e o valor obtido é igual da soma de tudo que foi produzido nos setores primário, secundário e terciário. No sentido mais amplo, busca-se identificar uma relação causal entre a variação de cada um dos componentes e os demais para explicar o comportamento do PIB.
Em um sentido ou em outro vale a pena examinar a evolução dos componentes da demanda agregada a fim de buscar entender o período recente de retração do PIB e as possibilidades de recuperação do níveld e atividade econômica.
Peso dos componentes
Evidentemente, variações nos componentes que apresentam participações mais elevadas tendem a causa maior impacto no resultado do PIB. Há, todavia, interações entre eles que também devem ser observadas.
No acumulado dos quatro trimestres encerrados no 1º trimestre de 2016, em termos correntes, o Consumo das Famílias respondeu por 63,5% do PIB, o Consumo do Governo, por 20,3%, a FBCF, por 16,6%, e o Saldo entre as exportações e as importações de bens e serviços por -0,4% (decorrente da diferença entre 13,7% e -14,1%).
Na série que compara com o trimestre imediatamente anterior, descontados os efeitos sazonais, o PIB vem desacelerando o ritmo de queda; de 2,0% no segundo trimestre de 2015, para 1,6% no terceiro trimestre, 1,3% no quarto trimestre de 2015.
No 1º trimestre de 2016, a a queda foi bem mais atenuada, 0,3% (ver Gráfico 1). Como os componentes da demanda agregada contribuíram para a desaceleração expressiva da queda do PIB no 1º trimestre?
Consumo das famílias e do governo
Em linhas gerais, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, apenas dois componentes da demanda agregada registraram crescimento; o Consumo do Governo, com incremento de 1,1% e as Exportações de Bens e Serviços, com o extraordinário crescimento de 6,5%.
Todavia, na avaliação dos fatores que explicam a desaceleração da queda do PIB há que se considerar não apenas a variação para cima ou para baixo dos componentes de um trimestre para o outro. É necessário ponderar também se aqueles componentes ampliaram ou reduziram a variação em relação ao período anterior. O Gráfico 1 apresenta esses resultados.
O Consumo das Famílias não apenas caiu muito no primeiro trimestre de 2016 (1,7%) como sua queda foi bem mais acentuada do que a do último trimestre de 2015, quando a retração fora de 0,9%. Ou seja, observando-se exclusivamente a evolução do Consumo das Famílias, o PIB teria acentuado e não atenuado a queda nesse início de 2016.
Curiosamente, a contribuição do componente Consumo do Governo para atenuar a retração do PIB no 1º trimestre foi da mesma dimensão do papel das Exportações de Bens e Serviços, que tem sido mais propalada. Afinal, respondendo por cerca de 20% da demanda agregada, o consumo do Governo, que havia caído 2,9% no último trimestre de 2015, inverteu sua trajetória e se expandiu 1,1%, enquanto as exportações de bens e serviços, com cerca de 14% da demanda agregada, ampliou o crescimento de 0,1% para 6,5%. Cabe indagar se é razoável esperar que nos próximos trimestres o Consumo do Governo continue a dar contribuição positiva na evolução do PIB.
Investimentos e Setor Externo
Os investimentos na Formação Bruta de Capital Fixo continuaram despencando no 1º trimestre de 2016, mas o ritmo de queda foi bem menos acentuado do que no trimestre anterior, 2,7% e 4,8%, respectivamente, contribuindo também expressivamente para a redução da queda do PIB (um pouco mais de 1/3 das contribuições das Exportações ou do Consumo do Governo).
Finalmente, as Importações de Bens e Serviços não apresentaram variação significativa no ritmo de queda na comparação entre os dois trimestres.
O Fundo do poço
Em termos contábeis, para que o PIB trimestral pare de cair, atingindo o fundo do poço, e se inicie em seguida a sua recuperação, mesmo que em ritmo anêmico, é necessário que haja uma melhoria no comportamento dos componentes (na média ponderada), com a redução da queda ou reversão para o crescimento daqueles que se encontram ainda em trajetória declinante e a intensificação do incremento daqueles que cresceram no trimestre anterior.
É difícil imaginar que as Exportações e as Importações de Bens e Serviços possam acelerar, respectivamente, os seus ritmos de incremento e de queda que, em termos anualizados, se aproximaram de 30% no primeiro trimestre. O Consumo do Governo, por sua vez, deverá contribuir negativamente para a evolução do PIB nos próximos trimestre, a acreditar na sinalização da nova equipe econômica.
A melhoria do PIB dependerá, portanto, de dois fatores básicos que já haviam sido apontados pelo ex- ministro Nelson Barbosa: o primeiro é que o Consumo das Famílias, que responde por mais de 60% do PIB, pelo menos reduza seu ritmo de queda nos próximos trimestres. O comportamento desse componente, como se sabe, vai depender da evolução do mercado de trabalho, da confiança das famílias e da situação do crédito e dos juros.
O outro componente determinante é a Formação Bruta de Capital Fixo, incluindo a variação dos Estoques. Duas considerações a fazer: esse componente vem despencando continuamente desde o segundo trimestre de 2014, acompanhando em grande parte a trajetória declinante da atividade industrial. É razoável esperar que o ritmo de queda da FBCF se atenue muito nos próximos trimestres e mesmo passe a apresentar crescimento em algum momento entre o final de 2016 e início de 2017. Podem contribuir para isso, além do próprio movimento do ciclo econômico, resultante da combinação entre o acelerador e o multiplicador, a elevação progressiva da confiança no ambiente de negócios. A retomada do nível de atividade, todavia, não está ainda assegurada, como mostraram as projeções mais recentes da OCDE e do Banco Mundial para a economia brasileira.



Fonte: IBGE- CNT






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