Ricardo Lacerda
Do ponto de vista das despesas ou da demanda agregada,
o PIB é igual à soma dos seus cinco componentes, a saber: o Consumo das Famílias,
o Consumo do Governo, a Formação Bruta de Capital Fixo- FBCF (incluindo a
variação dos estoques), as Exportações de Bens e Serviços e o quinto fator são as
Importações de Bens e Serviços com sinal negativo, dado que significam despesas
que vazam para o resto do mundo. Em termos algébricos, PIB= Cons das Familias + Cons do Governo +
FBCF + (Saldo das Exp – Imp de B e S).
Há pelo menos duas formas de interpretar a
relação entre o PIB e os componentes da demanda agregada. No sentido mais
restrito é apenas uma igualdade contábil. Assim, ao final de um determinado
período, são somados todos os componentes da demanda e o valor obtido é igual
da soma de tudo que foi produzido nos setores primário, secundário e terciário.
No sentido mais amplo, busca-se identificar uma relação causal entre a variação
de cada um dos componentes e os demais para explicar o comportamento do PIB.
Em um sentido ou em outro vale a pena
examinar a evolução dos componentes da demanda agregada a fim de buscar
entender o período recente de retração do PIB e as possibilidades de
recuperação do níveld e atividade econômica.
Peso
dos componentes
Evidentemente, variações nos componentes que
apresentam participações mais elevadas tendem a causa maior impacto no
resultado do PIB. Há, todavia, interações entre eles que também devem ser
observadas.
No acumulado dos quatro trimestres encerrados
no 1º trimestre de 2016, em termos correntes, o Consumo das Famílias respondeu
por 63,5% do PIB, o Consumo do Governo, por 20,3%, a FBCF, por 16,6%, e o Saldo
entre as exportações e as importações de bens e serviços por -0,4% (decorrente
da diferença entre 13,7% e -14,1%).
Na série que compara com o trimestre
imediatamente anterior, descontados os efeitos sazonais, o PIB vem desacelerando
o ritmo de queda; de 2,0% no segundo trimestre de 2015, para 1,6% no terceiro
trimestre, 1,3% no quarto trimestre de 2015.
No 1º trimestre de 2016, a a queda foi bem
mais atenuada, 0,3% (ver Gráfico 1). Como os componentes da demanda agregada contribuíram
para a desaceleração expressiva da queda do PIB no 1º trimestre?
Consumo
das famílias e do governo
Em linhas gerais, na comparação com o
trimestre imediatamente anterior, apenas dois componentes da demanda agregada registraram
crescimento; o Consumo do Governo, com incremento de 1,1% e as Exportações de Bens
e Serviços, com o extraordinário crescimento de 6,5%.
Todavia, na avaliação dos fatores que
explicam a desaceleração da queda do PIB há que se considerar não apenas a
variação para cima ou para baixo dos componentes de um trimestre para o outro.
É necessário ponderar também se aqueles componentes ampliaram ou reduziram a
variação em relação ao período anterior. O Gráfico 1 apresenta esses
resultados.
O Consumo das Famílias não apenas caiu muito
no primeiro trimestre de 2016 (1,7%) como sua queda foi bem mais acentuada do
que a do último trimestre de 2015, quando a retração fora de 0,9%. Ou seja,
observando-se exclusivamente a evolução do Consumo das Famílias, o PIB teria
acentuado e não atenuado a queda nesse início de 2016.
Curiosamente, a contribuição do componente
Consumo do Governo para atenuar a retração do PIB no 1º trimestre foi da mesma
dimensão do papel das Exportações de Bens e Serviços, que tem sido mais
propalada. Afinal, respondendo por cerca de 20% da demanda agregada, o consumo
do Governo, que havia caído 2,9% no último trimestre de 2015, inverteu sua
trajetória e se expandiu 1,1%, enquanto as exportações de bens e serviços, com
cerca de 14% da demanda agregada, ampliou o crescimento de 0,1% para 6,5%. Cabe
indagar se é razoável esperar que nos próximos trimestres o Consumo do Governo
continue a dar contribuição positiva na evolução do PIB.
Investimentos
e Setor Externo
Os investimentos na Formação Bruta de Capital
Fixo continuaram despencando no 1º trimestre de 2016, mas o ritmo de queda foi
bem menos acentuado do que no trimestre anterior, 2,7% e 4,8%, respectivamente,
contribuindo também expressivamente para a redução da queda do PIB (um pouco
mais de 1/3 das contribuições das Exportações ou do Consumo do Governo).
Finalmente, as Importações de Bens e Serviços
não apresentaram variação significativa no ritmo de queda na comparação entre
os dois trimestres.
O
Fundo do poço
Em termos contábeis, para que o PIB trimestral
pare de cair, atingindo o fundo do poço, e se inicie em seguida a sua recuperação,
mesmo que em ritmo anêmico, é necessário que haja uma melhoria no comportamento
dos componentes (na média ponderada), com a redução da queda ou reversão para o
crescimento daqueles que se encontram ainda em trajetória declinante e a intensificação
do incremento daqueles que cresceram no trimestre anterior.
É difícil imaginar que as Exportações e as
Importações de Bens e Serviços possam acelerar, respectivamente, os seus ritmos
de incremento e de queda que, em termos anualizados, se aproximaram de 30% no
primeiro trimestre. O Consumo do Governo, por sua vez, deverá contribuir
negativamente para a evolução do PIB nos próximos trimestre, a acreditar na
sinalização da nova equipe econômica.
A melhoria do PIB dependerá, portanto, de
dois fatores básicos que já haviam sido apontados pelo ex- ministro Nelson
Barbosa: o primeiro é que o Consumo das Famílias, que responde por mais de 60% do
PIB, pelo menos reduza seu ritmo de queda nos próximos trimestres. O
comportamento desse componente, como se sabe, vai depender da evolução do
mercado de trabalho, da confiança das famílias e da situação do crédito e dos
juros.
O outro componente determinante é a Formação
Bruta de Capital Fixo, incluindo a variação dos Estoques. Duas considerações a
fazer: esse componente vem despencando continuamente desde o segundo trimestre
de 2014, acompanhando em grande parte a trajetória declinante da atividade
industrial. É razoável esperar que o ritmo de queda da FBCF se atenue muito nos
próximos trimestres e mesmo passe a apresentar crescimento em algum momento
entre o final de 2016 e início de 2017. Podem contribuir para isso, além do
próprio movimento do ciclo econômico, resultante da combinação entre o
acelerador e o multiplicador, a elevação progressiva da confiança no ambiente de
negócios. A retomada do nível de atividade, todavia, não está ainda assegurada,
como mostraram as projeções mais recentes da OCDE e do Banco Mundial para a
economia brasileira.
Fonte: IBGE- CNT
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