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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O PIB do 1º trimestre de 2016 e o fundo do poço

Ricardo Lacerda

No 1º trimestre de 2016, o PIB brasileiro recuou pela quinta vez seguida, na série trimestral com ajuste sazonal. Ressalte-se, todavia, que, nessa série, desde o 2º trimestre de 2013 a economia brasileira deixou de apresentar crescimento relevante e a trajetória de declínio do PIB trimestral se iniciou de fato no segundo trimestre de 2014 (ver Gráfico).
O que teve início no 1º trimestre de 2015 e completou cinco trimestres no primeiro resultado de 2016 foi o seu declínio contínuo e, na média do período, muito acentuado. No acumulado de quatro trimestres, o PIB também computou cinco quedas seguidas.
A nova fase da crise econômica iniciada no primeiro trimestre de 2015 resultou de uma combinação especificamente extraordinária: de adoção de fortes medidas de contenção de dispêndios e de correção dos preços administrados e do câmbio que fizeram despencar a renda da população; de colapso da confiança decorrente dos desdobramentos das operações jurídico-policiais e do sitiamento político ao governo; e, subsidiariamente, de novo agravamento, em 2015, de um cenário internacional já bastante adverso desde 2013.
Completam-se, portanto, nesse início de 2016, dez trimestres sem crescimento, oito trimestres de trajetória de declínio do PIB e cinco trimestres de quedas contínuas. Não é pouca coisa.


Fonte: IBGE. CNT

O fundo do poço
Os resultados do 1º trimestre de 2016 trouxeram à tona o debate sobre quando o nível de atividade vai atingir o fundo do poço, estancando as quedas, e qual o horizonte para que se inicie a retomada da economia, mesmo que em ritmo muito suave.
Dois aspectos têm sido destacados: o primeiro é que o ritmo de retração vem desacelerando nos últimos três trimestres; depois de cair 2% no segundo trimestre de 2015, a economia recuou 1,6%, no terceiro trimestre, 1,3%, no quarto trimestre e agora a queda foi bem menos acentuada, de 0,3%, relativamente próxima de uma situação de estabilização.
O segundo aspecto é que a indústria de transformação, um dos segmentos mais atingidos pela crise juntamente com a construção civil, já apresenta sinais de estabilização. Depois de um longo período de queda livre desde o último trimestre de 2014, a produção industrial registrou no primeiro trimestre de 2016 retração bem menos intensa do que nos períodos anteriores, de apenas 0,3%, quando a retração havia sido de 3,5% e 2,3%, respectivamente, nos terceiro e quarto trimestres de 2015.
A atividade manufatureira, alguns analistas têm assinalado, teria atingido o fundo do poço, seja por conta da própria operação do ciclo de negócios, com o ajuste dos estoques, seja em função dos estímulos oriundos da mudança do câmbio sobre diversos ramos de atividade, alguns dos quais já apresentando crescimento nos últimos meses.
A expectativa predominante no mercado é de que o declínio do PIB deverá estancar em algum momento do segundo semestre e o seu incremento, mesmo em ritmo muito modesto, deverá iniciar entre o final de 2016 e o primeiro trimestre de 2017. Ainda assim, o crescimento no próximo ano, se se confirmar, deverá ser muito modesto.

Limites e incertezas
Persistem, todavia, muitas interrogações e incertezas em relação às projeções de estabilização e posterior retomada do nível de atividade, algumas relativas ao cenário político interno e outras referentes à propria robustez e significado dos resultados do PIB do primeiro trimestre.
Em relação ao quadro político, as incertezas vão desde a continuidade do atual governo, passam pelos desdobramentos das investigações criminais em curso, com a possibilidade de alcançar lideranças políticas e empresariais muito expressivas, até a questões como a capacidade política do governo em implementar as medidas de ajuste fiscal e realizar as reformas de longo prazo demandadas pelo mercado.
Em relação à interpretação dos resultados do PIB, tem sido lembrado, em primeiro lugar, que os comportamentos de alguns componentes da demanda continuaram muito ruins no primeiro trimestre: o consumo das famílias, que representa cerca de 60% do PIB, registrou nova queda acentuada; e os investimentos (FBCF) despencaram mais uma vez.
A suavização da queda do nível de atividade no 1º trimestre se deveu, primordialmente, ao incremento das exportações e encolhimento das importações de bens e serviços e, secundariamente, com impacto muito menor, quase inexpressivo, do aumento do consumo do setor público, que não se sabe se vai perdurar nos próximos trimestres.
Ainda que a evolução das exportações e a da substituição de importações continuem ampliando suas contribuições para o incremento do PIB nos próximos trimestres, isso poderá não ser suficiente caso o desemprego continue crescendo, de modo a postergar a e estabilização e posterior recuperação do consumo das famílias. O comportamento ruim do mercado de trabalho poderá também refrear a melhoria da confiança do mercado, tida como crucial para impedir a continuidade da derrocada dos investimentos.
As próximas publicações de indicadores setoriais, coincidentes e antecedentes, inclusive daqueles relativos ao quadro da economia mundial, e os desdobramentos do cenário político deverão proporcionar informações mais robustas sobre as perspectivas de enfim estancar a queda no PIB.


Publicado no Jornal da Cidade, em 05/06/2016 

Um comentário:

  1. São 11 trimestres de "saudável recessão"..
    Delapidação gigantesca de nosso parque produtivo..
    E até a indústria bancária começa a sentir tais efeitos com rentabilidade em declínio e aumento da margem das contas de devedores duvidosos.
    Tempestade perfeita..

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