Ricardo Lacerda
No 1º trimestre de 2016, o PIB
brasileiro recuou pela quinta vez seguida, na série trimestral com ajuste
sazonal. Ressalte-se, todavia, que, nessa série, desde o 2º trimestre de 2013 a
economia brasileira deixou de apresentar crescimento relevante e a trajetória
de declínio do PIB trimestral se iniciou de fato no segundo trimestre de 2014
(ver Gráfico).
O que teve início no 1º
trimestre de 2015 e completou cinco trimestres no primeiro resultado de 2016
foi o seu declínio contínuo e, na média do período, muito acentuado. No
acumulado de quatro trimestres, o PIB também computou cinco quedas seguidas.
A nova fase da crise econômica iniciada
no primeiro trimestre de 2015 resultou de uma combinação especificamente
extraordinária: de adoção de fortes medidas de contenção de dispêndios e de
correção dos preços administrados e do câmbio que fizeram despencar a renda da
população; de colapso da confiança decorrente dos desdobramentos das operações
jurídico-policiais e do sitiamento político ao governo; e, subsidiariamente, de
novo agravamento, em 2015, de um cenário internacional já bastante adverso
desde 2013.
Completam-se, portanto, nesse
início de 2016, dez trimestres sem crescimento, oito trimestres de trajetória
de declínio do PIB e cinco trimestres de quedas contínuas. Não é pouca coisa.
Fonte: IBGE. CNT
O fundo do poço
Os resultados do 1º trimestre de
2016 trouxeram à tona o debate sobre quando o nível de atividade vai atingir o
fundo do poço, estancando as quedas, e qual o horizonte para que se inicie a
retomada da economia, mesmo que em ritmo muito suave.
Dois aspectos têm sido
destacados: o primeiro é que o ritmo de retração vem desacelerando nos últimos
três trimestres; depois de cair 2% no segundo trimestre de 2015, a economia
recuou 1,6%, no terceiro trimestre, 1,3%, no quarto trimestre e agora a queda
foi bem menos acentuada, de 0,3%, relativamente próxima de uma situação de
estabilização.
O segundo aspecto é que a
indústria de transformação, um dos segmentos mais atingidos pela crise
juntamente com a construção civil, já apresenta sinais de estabilização. Depois
de um longo período de queda livre desde o último trimestre de 2014, a produção
industrial registrou no primeiro trimestre de 2016 retração bem menos intensa
do que nos períodos anteriores, de apenas 0,3%, quando a retração havia sido de
3,5% e 2,3%, respectivamente, nos terceiro e quarto trimestres de 2015.
A atividade manufatureira,
alguns analistas têm assinalado, teria atingido o fundo do poço, seja por conta
da própria operação do ciclo de negócios, com o ajuste dos estoques, seja em
função dos estímulos oriundos da mudança do câmbio sobre diversos ramos de
atividade, alguns dos quais já apresentando crescimento nos últimos meses.
A expectativa predominante no
mercado é de que o declínio do PIB deverá estancar em algum momento do segundo
semestre e o seu incremento, mesmo em ritmo muito modesto, deverá iniciar entre
o final de 2016 e o primeiro trimestre de 2017. Ainda assim, o crescimento no
próximo ano, se se confirmar, deverá ser muito modesto.
Limites e incertezas
Persistem, todavia, muitas
interrogações e incertezas em relação às projeções de estabilização e posterior
retomada do nível de atividade, algumas relativas ao cenário político interno e
outras referentes à propria robustez e significado dos resultados do PIB do
primeiro trimestre.
Em relação ao quadro político,
as incertezas vão desde a continuidade do atual governo, passam pelos desdobramentos
das investigações criminais em curso, com a possibilidade de alcançar lideranças
políticas e empresariais muito expressivas, até a questões como a capacidade
política do governo em implementar as medidas de ajuste fiscal e realizar as
reformas de longo prazo demandadas pelo mercado.
Em relação à interpretação dos
resultados do PIB, tem sido lembrado, em primeiro lugar, que os comportamentos
de alguns componentes da demanda continuaram muito ruins no primeiro trimestre:
o consumo das famílias, que representa cerca de 60% do PIB, registrou nova
queda acentuada; e os investimentos (FBCF) despencaram mais uma vez.
A suavização da queda do nível
de atividade no 1º trimestre se deveu, primordialmente, ao incremento das
exportações e encolhimento das importações de bens e serviços e,
secundariamente, com impacto muito menor, quase inexpressivo, do aumento do
consumo do setor público, que não se sabe se vai perdurar nos próximos
trimestres.
Ainda que a evolução das
exportações e a da substituição de importações continuem ampliando suas
contribuições para o incremento do PIB nos próximos trimestres, isso poderá não
ser suficiente caso o desemprego continue crescendo, de modo a postergar a e
estabilização e posterior recuperação do consumo das famílias. O comportamento
ruim do mercado de trabalho poderá também refrear a melhoria da confiança do
mercado, tida como crucial para impedir a continuidade da derrocada dos
investimentos.
As próximas publicações de
indicadores setoriais, coincidentes e antecedentes, inclusive daqueles relativos
ao quadro da economia mundial, e os desdobramentos do cenário político deverão
proporcionar informações mais robustas sobre as perspectivas de enfim estancar
a queda no PIB.
Publicado no Jornal da Cidade, em 05/06/2016
São 11 trimestres de "saudável recessão"..
ResponderExcluirDelapidação gigantesca de nosso parque produtivo..
E até a indústria bancária começa a sentir tais efeitos com rentabilidade em declínio e aumento da margem das contas de devedores duvidosos.
Tempestade perfeita..