Ricardo Lacerda
A deterioração do mercado de trabalho no
Brasil intensificou-se muito no primeiro trimestre de 2016. A população ocupada
se retraiu, os níveis de remuneração foram rebaixados e a taxa de desocupação registrou
mais um salto de patamar.
Entre janeiro e março de 2016, a taxa de
desocupação do país alcançou 10,9%, frente aos 7,9% no primeiro trimestre de
2015, três pontos percentuais acima. Nessa série que compara com igual trimestre
do ano anterior, a taxa de desocupação da força de trabalho no Brasil aumenta desde
o último trimestre de 2014 e o vem fazendo em ritmo cada vez mais intenso. Depois
de iniciar o ano de 2015 com taxa de desocupação trimestral 0,7 pontos
percentuais superior, no segundo trimestre aquela taxa se ampliou em 1,5 pp, depois
saltou 2,1 pp, no terceiro trimestre, e encerrou o ano 2,5 pp mais elevada do
que no final do ano anterior (ver Gráfico).
Fonte: IBGE.PNAD contínua.
A piora no mercado de trabalho alcançou todas
as regiões do país de forma contínua desde o início de janeiro de 2015 e se intensificou
muito no primeiro trimestre de 2016. Todas elas, com a exceção do Norte,
defrontaram-se com a aceleração do ritmo de incremento da taxa de desocupação no
período mais recente.
A situação do mercado de trabalho no
Nordeste, todavia, deteriorou-se em velocidade muito mais acentuada do que nas
demais regiões do país, sob diversos aspectos.
Combinação perversa
De um lado, os vínculos de melhor qualidade
no mercado de trabalho, como os empregos no setor privado com carteira assinada
e os empregos no setor público caíram em ritmo bem mais acentuado no Nordeste
do que nas demais regiões. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, Os
empregos com carteira assinada recuaram 7,3% no Nordeste no primeiro trimestre
de 2016, queda muito mais expressiva do que em todas as demais regiões. A
retração no emprego público também foi mais intensa no Nordeste. A média do
país foi de retração de 4,0% (Ver Tabela)
Mesmo os empregos sem carteira assinada apresentaram
taxa de declínio mais acentuada no Nordeste do que na maioria das demais
regiões. A exceção foi a região Sul em que a queda foi ainda maior.
Entre aqueles tipos de vínculos que
apresentaram recuo na ocupação entre o primeiro trimestre de 2015 e o primeiro
trimestre de 2016, a queda no Nordeste foi bem superior à média do país e a de
cada um das demais regiões (ver Grupo 1, na Tabela)
Do outro lado, naqueles tipos de vínculos em
que as ocupações cresceram nessa comparação, o desempenho da região Nordeste
foi muito inferior aos das demais regiões (ver Grupo 2, na Tabela). Enquanto,
na média do país, o incremento na ocupação por conta própria, como alternativa de
subsistência durante a crise, representou 98,5% das ocupações com carteira
assinada eliminadas no setor privado, no Nordeste essa relação foi de 51,4%, a
menor do país.
Em uma relação mais ampla, entre os vínculos
que registraram crescimento como proporção daqueles vínculos que apresentaram decréscimo,
a média do Brasil alcançou 53,9%, enquanto no Nordeste ela foi de apenas 21,7%.
Essas relações parecem apontar que o mercado
de trabalho do Nordeste, seja no que tange às ocupações formais, seja a
situação das estratégia informais de ocupações durante a crise, vai requerer
uma maior atenção por parte das políticas públicas, em comparação ao que se
verifica nas demais regiões do país.
Tabela. Taxa de
crescimento da ocupação entre o 1º trimestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016
(%)
|
||||||
Item
|
Brasil
|
Norte
|
Nordeste
|
Sudeste
|
Sul
|
Centro-Oeste
|
Grupo 1
|
-4,7
|
-5,1
|
-7,2
|
-3,9
|
-3,0
|
-4,8
|
Empregado no setor privado, com carteira
|
-4,0
|
-5,3
|
-7,3
|
-3,3
|
-1,6
|
-5,9
|
Empregado no setor privado sem carteira
|
-3,3
|
-0,5
|
-4,2
|
-3,1
|
-4,8
|
-0,8
|
Empregado no setor público
|
-3,3
|
0,4
|
-5,1
|
-4,8
|
0,1
|
-0,7
|
Empregadores
|
-8,6
|
-24,7
|
-7,8
|
-6,1
|
-10,4
|
-6,8
|
Trabalhador familiar auxiliar
|
-19,1
|
-14,1
|
-23,1
|
-16,8
|
-14,6
|
-36,9
|
Grupo 2
|
5,8
|
9,9
|
2,5
|
6,5
|
7,6
|
7,2
|
Conta própria
|
6,5
|
10,4
|
3,4
|
7,7
|
7,7
|
5,5
|
Trabalhador doméstico
|
3,4
|
7,0
|
-1,9
|
3,0
|
7,3
|
12,4
|
Total
|
-1,5
|
0,3
|
-3,7
|
-1,1
|
-0,1
|
-1,3
|
Fonte: IBGE.PNAD contínua.
Publicado no Jornal da Cidade, em 29/05/2016