Ricardo Lacerda
O ministro Nelson Barbosa deverá
enfrentar dificuldades de várias ordens para realizar as tarefas que se
atribuiu nesse início de 2016. Com o nível de atividade da economia brasileira
despencando, deterioração do quadro fiscal e enfrentando cenário externo muito
adverso e que envolve elevado grau de incerteza, o ministro se propõe executar uma política econômica a partir da adoção de dois eixos de atuação,
cada um deles com algumas questões mais urgentes e outras questões de caráter
estrutural (ver Quadro abaixo).
O primeiro eixo de atuação diz
respeito à situação fiscal do país; o segundo eixo trata de estancar a queda do
nível de atividade econômica e apontar para a retomada do crescimento mesmo que
a médio prazo. Como se sabe, não é fácil lidar com esses dois problemas
simultaneamente, como ficou patenteado no ano passado quando não se conseguiu
tratar satisfatoriamente nem de uma coisa nem de outra.
O tamanho do ajuste
A situação fiscal do Brasil se
agravou muito nos dois últimos anos. Entre dezembro de 2013 e dezembro de 2015,
a dívida bruta do governo saltou 14,5 pontos de percentagem como proporção do
PIB. É muito para um período tão curto. Em 2015, a relação divida bruta/PIB
aumentou 9 pontos percentuais.
Economistas de fora do governo, que
defendem um ajuste fiscal mais duro, já afirmaram em público que mesmo os
cortes mais elevados propostos pelo ex-ministro Joaquim Levy não seriam
suficientes para estacar a deterioração do quadro fiscal.
Com o PIB despencando 3,8%, como deve ter ocorrido em 2015, e a projeção de nova queda para 2016, o corte nas despesas públicas necessário para estabilizar essa relação e depois reduzi-la progressivamente teria que ser brutal.
A tarefa imediata de Nelson Barbosa exige transitar entre essas duas prioridades: conter a deterioração do quadro fiscal e impedir que o nível de atividade continue despencando nos próximos meses.
As medidas mais urgentes são aquelas que visam sinalizar o estancamento da deterioração do quadro fiscal por meio da aprovação de medidas já em tramitação no congresso nacional como a Desvinculação da Receita da União (DRU) e a CPMF.
O Ministro em sua apresentação na
reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) em 28 de
janeiro último assinalou que o governo federal praticamente repetiu em termos
nominais em 2015 o mesmo gasto de custeio de 2014, o que equivale a uma redução
de mais de 8% em termos reais.
A CPMF e a DRU são apresentadas como
medidas de transição para impedir novas perdas de receita e para flexibilizar
despesas que hoje são muito engessadas, apenas 8,5% do gasto primário da União
são contingenciáveis.
O ajuste mais estrutural somente
seria alcançado por meio de um amplo processo de reforma fiscal que contemplaria,
entre outras prioridades, mudanças importantes no sistema previdenciário. O
Ministro defendeu inclusive o estabelecimento de um teto legal para o gasto
público primário enquanto proporção do PIB.
Nível de atividade
A queda muito acentuada do nível de
atividade econômica em 2015 decorreu de uma série de fatores, dentre os quais
poderíamos relacionar como os mais importantes a redução do poder de compra das
famílias associada em grande parte ao realinhamento dos preços monitorados e à
depreciação do real, os efeitos da intensa queda nas cotações de nossas
principais commodities no mercado internacional e a deterioração do quadro
fiscal. Some-se a este cenário uma situação de paralisia política para
completar o abalo na confiança na economia por parte dos agentes de mercado e das
famílias.
Entre as forças alinhadas para estancar
a queda do nível de atividade, a proposta do Ministro centrou-se na expansão em
caráter emergencial do crédito, inclusive com a utilização de recursos do FGTS
para lastrear investimentos em infraestrutura e para garantia nas operações de
financiamento ao consumo. Outro eixo de atuação fundamental é destravar os
investimentos por meio de concessão em segmentos de infraestrutura, notadamente rodovias e energia. O terceiro vetor apoia-se no crescimento das exportações decorrente da forte desvalorização da paridade de nossa
QUADRO:
PRIORIDADES DA POLÍTICA ECONÔMICA.
REUNIÃO
DO CDES 28/01/2016
|
¾
Completar
as medidas de ajuste fiscal
|
¾
Iniciar
um processo de reforma fiscal
|
¾
Estabilizar
e recuperar o nível de renda e de emprego com:
·
incentivo
ao investimento e às exportações
·
reformas
institucionais para aumentar produtividade
|
Fonte: Apresentação do ministro Nelson Barbosa na reunião do
CDES em 28/01/2016
O ano de 2015 não teve sucesso em
realizar a transição pretendida para o crescimento, mas não foi perdido. A
correção dos preços monitorados (notadamente energia elétrica e combustível) e
o realinhamento do câmbio foram executados, provocando uma mudança de grande
magnitude no sistema de preços relativos da economia brasileira que deverá
mover no médio prazo placas tectônicas do sistema produtivo.
O ônus dessa inflexão já foi pago, em
sua maior parte, o bônus está demorando mais do que previsto, em função da
crise de confiança interna e da deterioração recente do cenário internacional.
As chances do trabalho Ministro ser
exitoso dependem de um grande número de variáveis mas, certamente, a mais
importante, que precede todas as demais, é a capacidade do governo formar uma
maioria suficientemente sólida no congresso nacional para aprovar as medidas
propostas pelo Ministro, sem o que não haverá roteiro a ser executado.
Nelson
Barbosa, Ministro da Fazenda.
Publicado no Jornal da Cidade em 07/02/2016
O sr. Como sempre, muito feliz em suas análises.
ResponderExcluirO nó dessas reformas estão na grave crise de crecibilidade política do poder executivo, para se conseguir a urgente aprovação da CPMF e a DRU...