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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 14 de fevereiro de 2016

A produção industrial em 2015

Ricardo Lacerda

O ano de 2015 foi pródigo em números ruins para o setor industrial. E os resultados somente se agravaram no seu transcurso. A produção industrial brasileira despencou 8,3%, retração superior mesmo à enfrentada em 2009, em pleno furacão da crise financeira internacional. O índice de dispersão da queda do setor industrial alcançou 100%, o que significa que todas as atividades industriais reduziram o volume de produção, ainda que em graus bem variados. Em todas elas, com a exceção da fabricação de produtos alimentícios, a produção continuou caindo no quarto trimestre, em relação ao terceiro, na serie livre de efeitos sazonais.

A produção industrial despencou porque faltou renda e confiança às famílias, as empresas investiram menos, adquirindo menos bens de capital, a depreciação do real encareceu os componentes importados e o acesso ao crédito se tornou mais caro e mais difícil.

O mercado externo também não foi favorável. As exportações do setor industrial despencaram 9,2% quando medidas em dólar, ainda que tenham aumentado quase 10% em quantidade e mais do que isso quando convertidas em moeda nacional, mesmo descontando a inflação do período, o que não deixa de ter o seu significado sobre o nível da atividade industrial interna. O que o setor industrial poderia ter ganhado no mercado externo pela depreciação do real foi atenuado pela perda de vitalidade no crescimento econômico na economia mundial e foi muito mais do que contrabalançado pelos efeitos da queda da renda sobre o poder de compra interno, inclusive aquela parcela da queda da renda decorrente da depreciação da moeda nacional.

Renda e crédito

Ainda que a retração da produção tenha atingido a todas as atividades industriais, quatro cadeias produtivas parecem ter sido especialmente atingidas: a metal-mecânica, liderada pela indústria automobilística; a têxtil-confecção, incluindo calçados; a cadeia produtiva que abrange os setores vinculados à construção civil, incluindo produtos metalúrgicos e fabricação de móveis; e a cadeia eletro-eletrônica.

Nessas cadeias produtivas, quatro entre as cinco mais importantes na estrutura industrial brasileira, a maioria das atividades apresentou queda no volume de produção superior a 10%. Em algumas delas a retração foi muito mais acentuada, como na fabricação de automóveis e na de produtos de informática.

Aquelas atividades cuja demanda é mais sensível ao crédito ou ao grau de confiança no futuro foram mais fortemente atingidas do que as atividades mais dependentes da renda corrente, embora essas também tenham sofrido quedas acentuadas.

Uso dos bens

A tabela apresentada traz a variação do nível de atividade dos segmentos industriais segundo o uso dos bens, na comparação entre 2015 e 2014. Uma primeira observação é que o volume da produção física da indústria geral acelerou a queda ao longo de 2015, na comparação de cada trimestre com o mesmo trimestre do ano anterior. Assim, o volume da produção física da indústria geral se retraiu 5,6% no primeiro trimestre de 2015 em relação ao primeiro trimestre de 2014. Nessa série, a contração se acentuou para 6,2%, no segundo trimestre, e apresentou quedas muito mais expressivas nos terceiro e quarto trimestres do ano, -9,3% e  -11,8%, respectivamente.

Em quase todas as categorias de uso, as quedas do nível de produção se acentuaram na segunda metade do ano, sinalizando o quão mal o setor industrial está iniciando o ano de 2016.

O volume de produção física de bens de capital caiu 25,5% em 2015 mas no último trimestre do ano, na comparação com o mesmo trimestre de 2014, a queda foi ainda mais intensa, 32%. Entre os bens intermediários, o aprofundamento da crise foi proporcionalmente maior, passando de um recuo de 5,8% no terceiro trimestre para uma contração de 9,6%, sempre na comparação com os mesmos trimestres do ano anterior.

A queda na produção de bens de consumo não duráveis não ficou circunscrita ao setor automobilístico. Os demais setores de não duráveis recuaram 24% em 2015 e seguiram a tendência de acentuar a queda nos dois últimos trimestres do ano, assim como nas atividades produtoras de bens de consumo semiduráveis.

O ritmo de retração na produção física dos bens de consumo não duráveis, mais dependente da renda corrente do que do crédito, foi quase constante ao longo dos trimestres, recuando 9,5% na média do ano.

A evolução da atividade industrial nos próximos trimestres vai depender da evolução dos mesmos fatores que explicaram a queda acentuada em 2015: renda, confiança, crédito, comportamento do câmbio e do cenário externo. Até onde a vista alcança, as melhores apostas são de que as medidas de ajustes serão aprovadas ajudando a restabelecer o nível de confiança e de que os efeitos de perda do poder de compra decorrentes da depreciação da moeda já ficaram para trás, enquanto os ganhos de competitividade começarão a serem sentidos no futuro próximo.


Tabela. Taxa de crescimento do volume de produção física da indústria segundo o uso dos bens, em relação ao mesmo período do ano anterior. (%)
Categorias
Trimestres
2015
2 º
3 º
4 º
Bens de capital
-17,8
-22,0
-30,5
-32,0
-25,5
Bens de capital, exceto equip. de transp. Industrial
-12,4
-17,7
-25,0
-28,5
-20,9
Bens intermediários
-2,4
-2,9
-5,8
-9,6
-5,2
Peças e acessórios p/ equipamentos de transporte
-13,2
-14,2
-21,1
-25,0
-18,2
Bens de consumo duráveis
-15,6
-12,4
-18,9
-27,6
-18,7
Bens de consumo duráveis - exceto automóveis
-16,1
-12,7
-19,6
-24,0
-18,2
Automóveis para passageiros
-15,8
-13,1
-18,9
-29,9
-19,4
Bens de consumo semiduráveis
-7,0
-8,1
-12,4
-15,7
-11,0
Bens de consumo não duráveis
-8,1
-10,9
-9,6
-9,3
-9,5
Gasolinas para automóvel
-8,3
-7,3
-7,1
0,4
-5,5
Indústria Geral
-5,6
-6,2
-9,3
-11,8
-8,3
Fonte: IBGE: PIM



 Publicado no Jornal da Cidade, em 14 de fevereiro de 2016

Um comentário:

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