Ricardo Lacerda
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR),
indicador aproximado do PIB, despencou 4,1% em 2015. O resultado é muito ruim e
também incomum.
Desde os anos oitenta, somente em 1981, no início da crise da
dívida externa que soterrou os países em desenvolvimento não exportadores de
petróleo em todo o globo, e, em 1990, quando o presidente Fernando Collor suprimiu
a liquidez do sistema econômico visando derrubar uma inflação que extrapolava
mil por cento ao ano, a queda do nível de atividade da economia brasileira havia
atingido a casa de 4%.
Tivemos nesse período ainda mais três resultados negativos no
PIB. Em 1983, na sequência da segunda maxidesvalorização cambial promovida pelo
então ministro Delfim Netto, quando o PIB caiu 3,4%. As outras duas quedas
anuais do PIB brasileiro ocorreram em 1992, ano da crise política do
impeachement do presidente Collor, de 0,5%, e, em 2009, em meio ao furacão da
crise financeira internacional, de 0,1%.
A verdade é que não há, até o momento, uma explicação
satisfatória para a dimensão da queda do PIB de 2015, superior a 4%. Para
deixar claro, não me refiro às causas dos desequilíbrios macroeconômicos, em
torno das quais há intensa polêmica, e sim ao que provocou o número tão desastroso
de 2015.
O consumo
despenca
Do ponto de vista das variáveis de dispêndio (consumo das
famílias, consumo do governo, investimento e saldo externo de bens e serviços),
a economia brasileira começou a perder o chão no terceiro trimestre de 2013 (ver
Gráfico 1).
Há um novo rebaixamento na evolução das variáveis a partir do
segundo trimestre de 2014: o consumo das famílias entrou em estagnação; a FBCF
iniciou o período de quedas sucessivas de dimensões colossais que permanece até
o último resultado conhecido; e as exportações de bens e serviços voltam a
desabar, depois das quedas em 2012, como reflexo do fim do ciclo longo de
valorização das commodities.
É no primeiro trimestre de 2015, todavia, que a economia
brasileira a inicia sua queda livre. Por que a queda foi tão acentuada?
O ajuste
e a queda do consumo
Diante da urgência em realizar os ajustes macroeconômicos,
tornou-se inviável sustentar o nível de atividade por meio do estímulo ao
consumo das famílias e dos gastos correntes do governo.
A partir do primeiro trimestre de 2015, o consumo das famílias,
que responde por cerca de 60% da demanda agregada da economia, passa a
apresentar quedas sucessivas e cada vez mais maiores. Depois de cair 1,5%, em
relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o consumo das famílias se retrai
3%, no segundo trimestre, e 4,5% no terceiro trimestre de 2015. Desde 2003 que
o consumo das famílias não apresentava queda.
As despesas correntes do governo, por sua vez, passam a
apresentar evolução negativa desde o último trimestre de 2014, ainda que as
quedas não tenham sido tão acentuadas quanto as do consumo das famílias.
Fonte: IBGE. CNT.
Comércio
varejista
Os resultados do comércio varejista espelham bem a evolução negativa
do consumo. O volume de vendas no varejo apresentou queda em 2015, o que não
acontecia também desde 2003. A retração nas vendas atingiu 4,3%, na média do
ano, mas foi se acentuando trimestre a trimestre.
Depois de cair 0,8% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo
trimestre de 2014, o volume de vendas no varejo se retraiu 3,5%, no segundo
trimestre, 5,7% no terceiro trimestre e fechou 2015 com uma queda de 6,9%, no
quarto trimestre.
Como mostra o Gráfico 2, a piora ao longo do ano foi
generalizada entre as atividades comerciais, abrangendo as vendas no setor de
supermercados, hipermercados e alimentos, vestuário e calçados, móveis,
eletrodomésticos e combustíveis. Entre as atividades pesquisadas, apenas o
segmento de produtos farmacêuticos e cosméticos fechou o ano no azul, mesmo assim
o resultado positivo encolheu a cada trimestre.
Fonte: IBGE. PMC
Alguns fatores cruciais como a deterioração do cenário externo,
a agudização da crise de confiança e principalmente os efeitos diretos e
indiretos das medidas ajuste sobre o poder de compra das famílias explicam a
maior parte da queda de cerca de 4% do PIB em 2015.
Os impactos de algumas dessas medidas sobre a redução da renda
das famílias podem ter atingido seu pico e deverão a ser atenuados nos próximos
trimestres, notadamente aqueles decorrentes dos aumentos das tarifas públicas e
da depreciação da paridade cambial.
Na comparação com o trimestre imediatamente anterior (na série
livre de efeitos sazonais), o IBC-BR acelerou a queda até meados de 2015 (ver
Gráfico 3). Na segunda metade do ano, a retração do IBC-BR continuou intensa,
mas não mais crescente. É possível que nos próximos trimestres o ritmo de piora
seja decrescente até que, finalmente, cheguemos ao fundo do poço.
Fonte: BCB. Obs: Série livre de efeitos sazonais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário