Ricardo
Lacerda
Para o Brasil, 2015 foi
um ano de transição incompleta. O roteiro do ajuste macroeconômico traçado pelo
ministro Joaquim Levy ainda no final de 2014 foi implementado apenas
parcialmente e com resultados muito inferiores aos projetados. Ao final de
2015, Joaquim Levy deixou o Ministério da Fazenda sem que o Congresso Nacional
tivesse votado as principais propostas do pacote de medidas de ajuste das
contas públicas, dentre as quais a Desvinculação da Receita da União (DRU) e a
recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF).
A insegurança em
relação à aprovação das medidas de ajuste e a queda do nível de atividade em
intensidade muito superior à esperada geraram um quadro de agravamento da
situação fiscal, realimentando a deterioração das expectativas econômicas. A
instabilidade política interna, aliada ao agravamento do cenário externo, estendeu
o período recessivo muito além do que era previsto no início de 2015.
O novo Ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, deverá apresentar até o final de fevereiro um conjunto
de medidas visando reafirmar o compromisso do governo federal com o ajuste
fiscal. Ao mesmo tempo o Ministro deverá acenar com estímulos creditícios visando
estancar a queda do nível de atividade econômica que concorreu para corroer as
receitas públicas. Não é uma missão fácil de ser executada.
O cenário externo
O relatório anual Perspectivas Econômicas Globais, do Banco
Mundial, em sua edição de janeiro de 2016, tem como subtítulo Transbordamentos em meio a um fraco
crescimento. O relatório afirma “que o crescimento mundial mais uma vez
ficou aquém das expectativas em 2015”.
De fato, a alentada recuperação da economia mundial de uma forma
robusta ficou adiada mais uma vez. O produto global desacelerou para 2,4%, em
2015, frente aos 2,6% de 2014. O relatório registra que o desempenho desapontador
da economia mundial refletiu sobretudo a desaceleração do crescimento nos
países emergentes.
O relatório, entretanto, renovou as expectativas de que a
economia global volte a acelerar o crescimento nos próximos anos, projetando
uma taxa de expansão de 2,9% para 2016, que deverá ser seguida em 2017 e 2018
por taxas anuais de 3,1% (Ver Tabela). O documento ressalva, todavia, que essas
projeções estão sujeitas a alguns riscos, entre eles a possibilidade de uma
desaceleração desordenada em grandes economias de mercados emergentes, como a
China, e que mudanças repentinas nas condições de financiamentos externos podem
provocar turbulências em países emergentes.
2016
Para 2016, o relatório do Banco Mundial projeta aceleração
moderada no crescimento tanto nos países de alta renda quanto nos países em
desenvolvimento. Entre os primeiros, a taxa de crescimento deverá se elevar de
1,6%, em 2015, para 2,1%, em 2016, enquanto nos países em desenvolvimento o
crescimento foi projetado para 4,8%, em 2016, frente aos 4,3% de 2015.
Alguns dos principais produtores mundiais de commodities
agrícolas e minerais, como o Brasil e a África do Sul, entre os países
emergentes, além da Rússia e Canadá, foram muito afetados pela continuidade da
desaceleração do crescimento da China e apresentaram desempenhos especialmente
problemáticos (Ver Tabela). Há expectativa, todavia, de que as economias desses
países deverão retomar gradualmente o crescimento entre 2016 e 2017.
Tabela.
Crescimento do PIB Global. (%)
|
||||||
Item
|
2013
|
2014
|
2015
|
2016*
|
2017*
|
2018*
|
Mundo
|
2,4
|
2,6
|
2,4
|
2,9
|
3,1
|
3,1
|
Países de Alta
renda
|
1,2
|
1,7
|
1,6
|
2,1
|
2,1
|
2,1
|
EUA
|
1,5
|
2,4
|
2,5
|
2,7
|
2,4
|
2,2
|
Zona do
Euro
|
-0,2
|
0,9
|
1,5
|
1,7
|
1,7
|
1,6
|
Reino
Unido
|
2,2
|
2,9
|
2,4
|
2,4
|
2,2
|
2,1
|
Rússia
|
1,3
|
0,6
|
-3,8
|
-0,7
|
1,3
|
1,5
|
Japão
|
1,6
|
-0,1
|
0,8
|
1,3
|
0,9
|
1,3
|
Países em
desenvolvimento
|
5,3
|
4,9
|
4,3
|
4,8
|
5,3
|
5,3
|
China
|
7,7
|
7,3
|
6,9
|
6,7
|
6,5
|
6,5
|
América Latina e Caribe
|
3,0
|
1,5
|
-0,7
|
0,1
|
2,3
|
2,5
|
Brasil
|
3,0
|
0,1
|
-3,7
|
-2,5
|
1,4
|
1,5
|
México
|
1,4
|
2,3
|
2,5
|
2,8
|
3,0
|
3,2
|
África do
Sul
|
2,2
|
1,5
|
1,3
|
1,4
|
1,6
|
1,6
|
Fonte. Worldbank. Perspectiva econômicas globais, Janeiro de
2016.
Indicadores antecedentes
Passou relativamente desapercebida do
noticiário a publicação pela OCDE do resultado de novembro do seu indicador do
ciclo de negócios. O CLI - Composite Leading Indicators- é um indicador projetado
para fornecer sinais antecedentes de pontos de virada nos ciclos de negócios.
A instituição assinala que o CLI tem se
mostrado consistente com os dados verificados nos PIBs dos países da OCDE, com
uma antecedência de seis a nove meses. O CLI é antes um indicador qualitativo
do que quantitativo do ciclo de negócios e busca indicar a flutuação do nivel
de atividade em relação ao crescimento do produto potencial de longo prazo da
economia.
O Gráfico apresentado traz a evolução do CLI,
indicador antecedente, e do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR), que
é um indicador coincidente no tempo, entre entre janeiro de 2014 e novembro de
2015.
O IBC-BR em doze meses recuou 3,5% em
novembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A série trimestral
do IBC-BR, livre de efeitos sazonais, mostra que o nível de atividade manteve-se
em queda no trimestre set-nov, em comparação com o trimestre imediatamente
anterior (jun-ago), recuo de 1,8%.
O que a elevação recente do CLI parece sinalizar
é que nível de atividade da economia brasileira deverá cair em ritmo menos
intenso nos próximos meses, antes de começar a retomar o crescimento.
Fonte:
Banco Central do Brasil para o IBC-BR; OECD para o CLI.
Publicado no Jornal da Cidade, em 18/01/2016
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