Uma mudança acentuada na paridade cambial, como ocorreu com a
moeda brasileira ao longo de 2015, gera importantes efeitos sobre o comércio
exterior e sobre o nível de atividade doméstica; alguns deles se manifestam prontamente,
enquanto outros somente se completam no médio e o no longo prazo.
Os especialistas do comércio exterior brasileiro estimam que o
impacto de uma depreciação da moeda nacional sobre as exportações apresenta uma
defasagem temporal de seis a nove meses. A influência sobre a inflação interna é
bem mais rápida. Por essa razão, a desvalorização da moeda causa uma perda
quase que imediata no poder de compra da população, com desdobramentos
negativos sobre o nível de atividade econômica. Os efeitos positivos tendem a
demorar mais.
Os resultados da balança comercial brasileira de 2015 foram
publicados na semana passada. Eles refletem não apenas os impactos da mudança
no câmbio sobre as exportações e importações, como captam os efeitos da queda dos
preços internacionais dos principais produtos da nossa pauta exportadora. Não
menos importantes foram os efeitos sobre as compras externas decorrentes da
queda do poder de compra da população e da retração da taxa de investimentos
causados pela recessão.
O saldo comercial de 2015 somou US$ 19,7 bilhões, interrompendo a
tendência de encolhimento iniciada ainda em 2007. Os resultados foram
especialmente ruins em 2013 e 2014, quando foram obtidos, respectivamente, superávit
de apenas US$ 2,3 bilhões e déficit de US$ 4,1 bilhões.
A inversão do saldo de negativo para positivo entre 2014 e 2015,
como se sabe, decorreu de uma queda muito acentuada nas importações, bem mais
intensa do que no valor das exportações. A retração no valor das compras externas
foi de US$ 57,7 bilhões, enquanto as vendas ao exterior caíram US$ 34 bilhões. Em
termos relativos as importações caíram 25,2% e as exportações, 15,1%.
A continuidade de queda nas exportações em 2015, todavia, não
significa que a mudança no câmbio não teve efeitos benéficos sobre o comércio
exterior, seja em relação às importações, seja no que diz respeito às próprias vendas
externas.
O cenário
externo
Em 3 de janeiro, o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz
publicou na internet artigo intitulado O Grande Mal-Estar Continua. Já no
parágrafo introdutório, ele sintetiza a evolução da conjuntura global no ano
que passou. “O ano de 2015 foi duro para todos. O Brasil entrou em recessão. A
economia chinesa sofreu seus primeiros solavancos sérios após quatro décadas de
crescimento vertiginoso. A zona do euro
conseguiu evitar o colapso da Grécia, mas a sua semi-estagnação continuou,
contribuindo para o que certamente será visto como a década perdida. Para os
Estados Unidos, 2015 deveria ter sido o ano em que finalmente se encerrou o
capítulo da Grande Recessão iniciada em 2008; em vez disso a recuperação econômica
do país vem sendo medíocre”. E conclui a descrição do panorama lembrando que Christine Lagarde, a
diretora-gerente do FMI, chamou a situação atual da economia mundial de o Novo
Medíocre (https://www.project-syndicate.org/commentary/great-malaise-global-economic-stagnation-by-joseph-e--stiglitz-2016-01).
Para o comércio exterior brasileiro, a desaceleração da economia
chinesa foi impactante. Nossas exportações para aquele país caíram 12,3% em
2015, depois de terem recuado 11,7% em 2014. O impacto da deterioração no cenário
externo sobre a cotação de nossos principais produtos não foi menos danoso. O
preço da soja exportada despencou de US$ 509 por tonelada, em 2014, para US$
386 por tonelada, em 2015, retração equivalente a 24%.
No caso do minério de ferro, produto líder das exportações
brasileiras até 2013, a cotação internacional desabou 51%, em 2015, e
simplesmente 64% em dois anos. Até dois anos atrás, esses dois produtos
respondiam por cerca de 1/5 de nossas exportações totais.
Para alguns produtos, a depreciação de nossa moeda mais do que
compensou a queda da cotação externa; em outros, como no caso do minério de
ferro, atenuou as perdas.
Valor e
quantidade
As atividades que tradicionalmente vendem parcelas importantes
da produção ao mercado externo não deixaram de responder ao novo patamar de
câmbio, em parte buscando alternativas à retração do mercado interno.
Se o valor das exportações recuou 15,1% ao longo do ano, as
exportações físicas apresentaram uma expansão de 10,6%. O volume de exportações
de soja teve incremento de 18,9%, o de minérios de ferro cresceu 7%, o de pasta
química de madeira, 8,6%, e o de milho em grão, 40,1%.
O Gráfico abaixo relaciona
a evolução do valor das exportações e do volume exportado em doze meses com a
taxa de câmbio real e efetiva, entre junho de 2011 e dezembro de 2015 (novembro
para o câmbio): a taxa de câmbio real e efetiva vem subindo fortemente desde o
final de 2014, como mostra a linha tracejada.
O volume exportado reagiu desde então (linha dupla), mas o valor
exportado apresentou trajetória inversa, registrando queda abrupta por conta da
baixa nas cotações das commodities no mercado externo.
Tomei a liberdade de fazer um pequeno exercício, calculando a
média simples da taxa de câmbio de doze meses deslocada seis meses para frente
(linha pontilhada).
O gráfico parece destacar três fenômenos: a comparação entre a
linha contínua simples e a linha contínua dupla (exportações em valor e em
volume) dá uma dimensão do impacto da crise externa sobre a evolução de nossas
exportações e do esforço feito para ampliá-las; a comparação entre a linha
pontilhada e a linha contínua dupla parece mostrar a associação entre o quantum
exportado e a taxa de câmbio, considerada uma certa defasagem temporal; e,
finalmente, a comparação entre a linha tracejada e a pontilhada (cambio mensal
e cambio em doze meses com defasagem temporal) sugere que os efeitos da mudança
na paridade cambial estão apenas começando.
Fonte: Banco Central, para o câmbio e MDIC para as exportações.
Obs: A série do câmbio em doze meses foi calculada a partir da média simples das
taxas de câmbio efetivas e reais mensais.
Publicado no Jornal da Cidade, em 10/01/2016
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