Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Núcleo de Competência em Petróleo e Gás de Sergipe



Ricardo Lacerda

Sem que a sociedade se tenha dado muito conta, nas últimas semanas foram realizados eventos que demarcam conquistas institucionais de grande significado para o desenvolvimento econômico, social e científico de Sergipe.  

Em menos de trinta dias, foram anunciados o lançamento de editais para pesquisas científicas e tecnológicas pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec), no montante de R$ 12 milhões; a implantação das novas instalações do parque tecnológico de Sergipe (SergipeTec), com investimentos superiores a R$ 33 milhões de reais, a ser entregue até o final do ano, em área anexa ao campus central da Universidade Federal de Sergipe; e finalmente, na última quarta-feira, dia 21, foi inaugurada a sede do Núcleo Regional de Competência em Petróleo, Gás e Biocombustíveis de Sergipe (NUPEG), também situado no campus da UFS.  

A realização de tais eventos reflete a caminhada, iniciada ainda no governo Albano Franco, para fomentar a formação de Sistema Regional de Inovações (SRI). Nesse momento alcança-se um novo patamar de maturidade e são colhidos resultados significativos de um direcionamento, adotado no início da atual administração, de canalizar as energias do sistema de inovação local para o atendimento das demandas econômicas e sociais postas pelos desafios do desenvolvimento sergipano.  

Esse é o ponto a ser perseguido diuturnamente, o compromisso efetivo do SRI em empregar o potencial de desenvolvimento científico e tecnológico local para atender demandas reais do desenvolvimento sergipano, sejam demandas do setor produtivo, sejam demandas das políticas públicas de atendimento às necessidades da população.

Chama a atenção o foco dos editais de pesquisa da Fapitec. Contemplam tanto as ações mais tradicionais, como a concessão de bolsas de iniciação científica e tecnológica para alunos da rede estadual e do ensino superior e de bolsas de mestrado e doutorado, quanto outras iniciativas mais inovativas e com potencial também de grande retorno social.

Este é o caso do edital específico para que docentes e pesquisadores vinculados às universidades e faculdades avaliem (e apresentem propostas), sob critérios científicos, as políticas públicas que estão sendo implementadas em uma diversidade de áreas. São projetos que visam analisar e avaliar programas que estão em andamento nas áreas de inclusão social, segurança, planejamento, finanças públicas, saneamento e tecnologia da informação.
O objetivo explícito é identificar o que vem alcançando ou não resultados e quais são os problemas encontrados, a fim de aperfeiçoar os instrumentos empregados.

Tecnologia apropriada

Com muito esforço institucional envolvido, Sergipe vem estreitando a enorme distância entre a sua base de riquezas mineirais e o conhecimento científico e tecnológico requerido na exploração e beneficiamento de tais riquezas.

A exploração das riquezas minerais em Sergipe deu seu grande salto na década de sessenta, quando foi iniciada a prospecção e extração de petróleo no campo de Carmópolis e foi instalada a primeira fábrica de cimento. Entre as décadas de setenta e oitenta, a indústria de base se consolidou em Sergipe, com a implantação da Unidade de Produção de Gás Natural (terminal do Tecarmo),  a FAFEN e a mina Taquari-Vassouras de exploração de potássio.

Todavia, mesmo considerando a valorosa contribuição dos pesquisadores da escola de química, que veio a ser incorporada à Universidade Federal de Sergipe, somente na década de 2000 foram criados os cursos superiores especializados para a formação de recursos humanos e desenvolvimento científico e tecnológico voltados para a exploração dessas riquezas.

Atualmente Sergipe já conta com cursos de geologia e das engenharias de petróleo, ambiental e mecânica, além de de cursos de pós-graduação que formam núcleos de pesquisas com potencial para se dedicar ao desenvolvimento de tecnologias aplicadas a essas atividades.

NUPEG

A implantação do Núcleo Regional de Competência em Petróleo, Gás e Biocombustíveis de Sergipe (NUPEG), unidade integrante da Universidade Federal de Sergipe, é fruto do empenho conjunto da instituição, do Governo de Sergipe e da Petrobras, com o obejtivo de fincar em nosso estado um polo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico especializado na atividade econômica mais estratégica para o futuro de Sergipe. É um passo fundamental para que Sergipe participe do esforço nacional de pesquisa e desenvolvimento tecnológico na temática de petróleo, gás natural e biocombustíveis.

É também uma oportunidade para adensar localmente uma parcela das atividades da cadeia produtiva e de conhecimentos que giram no entorno da exploração, produção e refino de petróleo. (Ver no Quadro a descrição dos laboratórios de pesquisa que integram o NUPEG).

O esforço que está sendo aplicado nessa iniciativa, que se articula a outras dimensões da política de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, é um exemplo de investimentos em desenvolvimento institucional que fazem a diferença no longo prazo.

É uma demonstração também de que é equivocada a percepção de que os investimentos para capacitação em ciência e tecnologia formam um mundo à parte, que pouco diz respeito ao dia a dia dos cidadãos. 


Quadro. Laboratórios do Núcleo Regional de Competência em Petróleo, Gás e Biocombustíveis de Sergipe- NUPEG
Laboratório de automação, controle e simulação (LACS)
Laboratório de Corrosão e Nanotecnologia (LCNT)
Laboratório de Caracterização e Processamento de Petróleo (LCPP)
Laboratório de Caracterização e Processamento de Biocombustíveis (LCPB)
Laboratório de Modelagem e Ciências Geológicas (LMCG)
Laboratório de Geologia e Geo Engenharia de Petróleo (PROGEOLOGIA).
Laboratório de Tecnologia de Cimentação de Poços (LTCP)
Laboratório de Tecnologia e Monitoramento Ambiental (LTMA)
Fonte: NUPEG-UFS


Publicado no Jornal da Cidade, em 25/05/2014 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A Expansão urbana e o emprego em Sergipe nos anos noventa



Ricardo Lacerda

O comportamento do emprego formal é um indicador que provê boas pistas para compreender como se deu a expansão dos centros urbanos sergipanos ao longo dos anos noventa, complementando o cenário apresentado no artigo da semana passada que centrou a análise no crescimento demográfico.

Ainda que o emprego formal não capte a ocupação de mais da metade da PEA, e muito mais do que isso nas cidades do interior, o seu acompanhamento propicia que sejam identificadas as modificações mais significativas no setor mais moderno da economia e sua distribuição entre os principais centros urbanos.

O Gráfico abaixo mostra a evolução do emprego formal nos principais núcleos populacionais do Estado, igualando o estoque de emprego formal de 1990 a 100 e assinalando os índices de crescimento nos anos de 1994, 1996 e 2000. 

Em trajetória que se refletiu no crescimento populacional visto no artigo anterior, o incremento do emprego formal foi acentuado em Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, Itabaianinha, Lagarto e Itabaiana. Em Aracaju e Estância o emprego formal andou de lado e despencou em Propriá. A forte queda do emprego formal em Canindé do São Francisco, mostrada no gráfico, foi reflexo direto da conclusão das obras de implantação da Usina Hidroelétrica de Xingó.

Fonte: MTE-RAIS


Grande Aracaju

Alguns movimentos significativos foram registrados no período. Na comparação entre 1990 e 2000, Aracaju perdeu 5.996 postos de trabalho formal, equivalentes a uma retração de 4,4% no estoque do emprego formal da capital, o que não é pouca coisa. Já em Nossa Senhora do Socorro, as vagas formais foram ampliadas em 5.059, crescimento de 135,9%. O emprego formal do município de São Cristóvão, na Grande Aracaju, dobrou, saltou de 3.032, em 1990, para 6.072, em 2000.

As perdas de emprego em Aracaju na década se concentraram fortemente na indústria têxtil e no setor de couros, borracha e fumo. A indústria têxtil em Aracaju fechou mais de quatro mil postos de trabalho. Na atividade industrial, o aumento de emprego mais expressivo ficou restrito à fabricação de alimentos e bebidas.

É interessante notar como a década liberal se traduziu na evolução do emprego público na capital, com a forte retração da contratação direta e o aumento na mesma proporção no emprego terceirizado. Entre 1990 e 2000, a administração pública eliminou 3.605 vagas, enquanto o subsetor chamado de administração técnica e profissional, no qual se inserem as atividades terceirizadas mais típicas, teve incremento de 4.456 vagas. Finalmente, vale destacar a expansão muito intensa do emprego nas atividades no setor de saúde e educação particulares.

O caso de Nossa Senhora de Socorro é particularmente interessante. Mesmo passando a contar com o principal distrito industrial do estado, a maior parcela dos novos empregos foi gerada pelo comércio, 3.776 nos postos formais, estimulado pela demanda dos novos núcleos residenciais. A indústria de transformação criou apenas 439 novos empregos no município, concentrados fortemente na produção de minerais não metálicos (fábrica de cimento), 396.

Interior

No interior, Canindé do São Francisco e Propriá viram o emprego formal despencar, a primeira em função da conclusão das obras de implantação da Usina Hidreletrica de Xingó.  O emprego na construção civil no município, que havia atingido 6.054 em 1993 despencou para apenas 99 no ano de 2000.

Em Propriá, a retração do emprego formal foi menos acentuada do que em Canindé do São Francisco, mas mesmo assim espelhou uma situação muito mais preocupante. Entre 1990 e 2000, o município perdeu 462 postos de trabalho, equivalentes a 28,3% do que havia no início da década. As perdas se distribuiram entre a construção civil, setor de transporte, alojamento e comunicações, entre outros.  

O município de Estância foi um dos mais sacrificados, com a perda de quase mil empregos industriais, em função da crise têxtil e do setor de alimentos, entre 1990 e 1997. A partir desse ano, o município recupera parte dos empregos perdidos na indústria de transformação, com a implantação da cervejaria.

De outra parte, o emprego formal apresentou crescimento notável em Lagarto, Itabaiana e Itabaiaininha.  E também foram muito expressivos, por diferentes motivos, os incrementos do emprego formal em Itaporanga D´ajuda, Pacatuba, Japaratuba, Areia Branca, Tobias Barreto e Capela.

O Quadro apresentado seleciona informações sobre o emprego gerado no setor privado (emprego total- emprego na administração pública) nos doze municípios mais expressivos nesse quesito ao longo dos anos noventa, destacando na última coluna as atividades com maior peso na criação do emprego no período.


Quadro: Geração de Emprego Formal entre 1990 e 2000, excluídos  os empregos no setor público
Município
Novos Empregos
Taxa de Crescimento
(%)
Setor (es) que mais criaram emprego
 N. S. Socorro
4.658
143%
Comércio; Min. n Metálicos; Transporte e Aloj e comunicação.
São Cristóvão
2.914
128%
Aloj e comunicação; Adm. Técnica; Construção; Comércio.
Lagarto
1.742
95%
Comércio; Ind. de Alimentos, Quím. e de Couros, Saúde Educ.
Itabaiana
1.302
64%
Comércio; Ind Min n. Metalicos e Alimentos e Saúde e Educ.
Itabaianinha
1.221
335%
Indústria Têxtil e de Minerais n metálicos
Pacatuba
1.118
288%
Usina de álcool e açúcar
Itaporanga
943
129%
Ind. de Calçados e de Alimentos; Comércio
Japaratuba
611
754%
Transporte e comunicação
Areia Branca
568
536%
Cana-de-açúcar; Construção
T. Barreto
565
113%
Indústria de Confecção; Comércio
Estância
428
10%
Saúde e Ensino; Comércio; Ind. de Bebida e Metalúrgica
Capela
404
125%
Cana-de-Açúcar e ind. de Alimentos
Fonte: MTE-RAIS


Publicado no Jornal da Cidade, em 18 de maio de 2014


domingo, 11 de maio de 2014

O crescimento urbano em Sergipe nos anos noventa



Ricardo Lacerda

A marca mais significativa da evolução urbana de Sergipe no período intercensitário 1991-2000 foi a intensa desaceleração do crescimento populacional de Aracaju, resultado do deslocamento massivo de núcleos familiares para os municípios vizinhos da área metropolitana, com destaque para Nossa Senhora do Socorro. Outra marca do período são as mudanças dos pesos relativos dos principais pólos urbanos do interior, com as ascensões de Itabaiana e Lagarto, situados no agreste, e os descensos de Propriá e Estância, na zona úmida.

Metropolização

A população da capital registrou nestes anos a menor taxa de crescimento médio anual desde que foram iniciados os registros demográficos em 1870. A metropolização de Aracaju, iniciada na década anterior, deu mais um passo em direção à constituição de uma aglomeração urbana densa e integrada. Os municípios da região metropolitana continuaram a apresentar taxas de crescimento acima da média do Estado. A participação da área metropolitana na população estadual aumentou de 35,5%, em 1991, para 37,9% em 2000.

O número de habitantes dos quatro municípios da área metropolitana ultrapassou 650 mil no censo demográfico de 2000. Como na década anterior, o município de Nossa Senhora do Socorro foi o grande destaque. De forma inusitada, a população de Aracaju cresceu em ritmo inferior ao da média estadual.

O curioso é que a população de Aracaju cresceu em ritmo inferior também ao do interior do estado, ou seja, do que a população da área não metropolitana, embora a diferença tenha sido relativamente pequena, respectivamente, 14,7% e 15,3%.

A Área metropolitana, excluindo Aracaju, cresceu notáveis 67% e passou a contar com o equivalente a quase metade da população aracajuana (46,4%), quando em 1991 correspondia a menos de 1/3 (31,2%). 

O crescimento da população metropolitana se deveu essencialmente a implantação dos novos conjuntos 
habitacionais em Nossa Senhora do Socorro, particularmente dos conjuntos Marcos Freire e Fernando Collor.

População urbana

Ainda que o crescimento da população urbana tenha se apresentado bem mais intenso do que o da população rural, a parcela mais expressiva da migração campo-cidade já havia ocorrido nas quatro décadas anteriores. Entre 1991 e 2000, o aumento da participação da população urbana foi relativamente mais modesto. A população urbana que já representava cerca de 2/3 do total, no início da década, alcancou 71%, em 2000.

Entre os municípios que contavam com mais de 30 mil habitantes nas áreas urbanas, Nossa Senhora do Socorro se destacou dos demais pelo intenso crescimento no período. Em 2000, era o único município com população urbana de mais de cem mil pessoas, além de Aracaju (ver Quadro). Entre 1991 e 2000, a população urbana de Nossa Senhora do Socorro saltou de 67.516 para 131.279 habitantes.

Os municípios de Itabaiana e Largarto, situados no agreste, também registraram crescimento expressivo de população urbana. Mais críticos foram os desempenhos de tradicionais pólos urbanos da mesorregião do Leste Sergipano, Estância e Propriá.  

O município de Estância, após um periodo de intensa expansão urbana na década anterior, desacelerou nos anos noventa, até mesmo como reflexo da crise industrial que enfrentou (ver Quadro). Entre 1991 e 2000, a população urbana de Estância apresentou expansão modesta, de 14,6%. Propriá, por sua vez, apresentou crescimento da população urbana ainda mais débil, 7,4%, quando a média estadual foi de 27%.

A evolução lenta da população urbana em Propriá foi compartilhada com outros municípios da faixa de população urbana entre dez mil e trinta mil habitantes, como Maruím e Capela, refletindo as dificuldades enfrentadas em suas vocações econômicas no período. No caso de Propriá, o baixo dinamismo da população urbana já havia sido registrado no período intercensitário anterior, 1980-1991.

A situação de Neópolis é distinta, frente ao desmembramento territorial que sofreu em 1993 para a criação do município de Santana do São Francisco. Na soma dos dois municípios, a população urbana se expandiu 59% no período.

Nessa faixa de cidades entre dez mil e trinta mil habitantes no meio urbano, Barra dos Coqueiros, localizada na área metropolitana, foi a que registrou crescimento urbano mais elevado.

Pequenos centros urbanos

Alguns centros urbanos de pequeno porte apresentaram taxas de crescimento notáveis no período. Entre as cidades com mais de cinco mil e menos de dez mil habitantes em áreas urbanas, Canindé do São Francisco e Carmopolis apresentaram as maiores taxas de crescimento urbano (ver Quadro). Os dois municípios já vinham apresentando ritmo acelerado de crescimento urbano desde a década anterior, movidos, respectivamente, pela implantação da Usina Hidroelétrica de Xingó e pela exploração de petróleo e gás em campos terrestres.

Entre os municípios com menos de cinco mil habitantes no meio urbano, Areia Branca e Nossa Senhora Aparecida apresentaram as maiores taxas de crescimento urbano, mesmo que Aparecida tenha registrado queda na população total. Dentre esses municípios de população relativamente restrita, Pirambu, Feira Nova, Nossa Senhora de Lourdes e Moita Bonita também apresentaram crescimento urbano muito expressivo.


Fonte IBGE.Censos demográficos. Obs: * O município de Santana do São Francisco foi criado em 1993, desmembrado de Neópolis.


Publicado no Jornal da Cidade em 11/05/2014

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A economia de serviços de Sergipe nos anos noventa



Ricardo Lacerda


A década de noventa ficou marcada pela intensa diversificação e sofisticação das atividades de comércio e serviços no Brasil. Foram diversos os canais pelos quais a abertura comercial, abrupta e acompanhada por forte valorização cambial, e a desregulamentação da atividade econômica impulsionaram o crescimento do setor terciário, enquanto as atividades industriais perdiam espaço na geração de riqueza e ocupação.

Em primeiro lugar, a liberalização das importações abriu as portas do paraíso do consumo, propiciando o acesso a bens produzidos em qualquer lugar do planeta. O consumo de bens importados foi potencializado pelo subsídio implícito na valorização artificial de nossa moeda após a implantação do Plano Real em 1994. O brasileiro médio passou a adquirir a uma diversidade de bens inédita, totalmente impensável de ser imaginada dez anos antes.

De forma acelerada, trocou-se produção interna por consumo de importados, o que estimulou a expansão do comércio interno, mas penalizou fortemente a atividade industrial. Na prática, a ampliação do déficit na conta de transações correntes resultou da troca de produção por consumo, troca essa cujo ônus será cobrado nos últimos anos da década.

Em segundo lugar, a abertura comercial impulsionou a desverticalização da atividade industrial e a expansão da terciarização da força de trabalho. A desverticalização da atividade industrial vai fazer com que um contingente expressivo de trabalhadores, até então contratado diretamente pelas empresas do setor, seja deslocado, com a multiplicação de prestadores de serviços, tanto em atividades subsidiárias, a exemplo da prestação de serviços de informática, consultorias diversas, marketing e manutenção, como em atividades de vigilância e limpeza.

A emergência das tecnologias da informação e da comunicação concorreu para acelerar o redesenho das cadeias produtivas, além de propiciar o crescimento de uma nova atividade especializada na prestação desses serviços a empresas de praticamente todos os setores de atividade. Não custa lembrar que os anos noventa marcaram o surgimento e a primeira etapa de expansão da rede mundial de computadores e também o intenso crescimento da telefonia móvel.

Em terceiro lugar, o encolhimento das oportunidades de emprego nas atividades industriais e a falta de perspectivas para milhões de trabalhadores levaram à multiplicação de ocupações informais no pequeno comércio e na prestação de serviços, como estratégia de sobrevivência das famílias. Há mesmo o ressurgimento das atividades artesanais, como resultado da falta de oportunidades de empregos formais.

Também muito significativa foi a ampliação do peso da administração pública no PIB, em decorrência da ampliação ao longo da década das políticas sociais compromissadas na constituição de 1988.

Participação no valor adicionado

Ao longo dos anos noventa, as atividade de serviços ampliaram fortemente sua participação na riqueza gerada na economia sergipana. Na média da década, o setor de serviços, incluindo comércio e governo, passou a responder por mais da metade do Valor Adicionado Bruto (VAB).

Na comparação entre 1990 e 2000, o setor de serviços ganhou 10,2 pontos de participação, enquanto as atividades agropecuárias recuavam seu peso em 3,1 pp e o setor industrial 7,1% (Ver Tabela).



Tabela. Sergipe. Participação das Atividades de Serviços no Valor Adicionado Bruto a Preço Básico 1990- 2000 (%)
Ítem
1990
2000
Diferença
Total
100
100
Setor Agropecuário
10,7
7,6
-3,1
Setor Secundário
44,4
37,3
-7,1
Setor de Serviços 
44,9
55,1
10,2
Administração pública e seguridade social
19,1
25,6
6,5
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços às empresas
3,8
8,4
4,7
Comércio e reparação de veículos
9,1
7,3
-1,8
Intermediação financeira
3,1
3,8
0,7
Saúde e educação mercantis
2,1
3,0
0,9
Transportes e armazenagem
3,5
2,5
-1,0
Comunicações
0,6
2,1
1,5
Alojamento e alimentação
2,5
1,1
-1,4
Outros serviços
1,3
1,5
0,2
Fonte: IBGE- Contas regionais. Ano base 1985


Nos serviços, duas atividades se destacaram de forma muito intensa, o setor de administração pública (incluindo previdência) e o setor de atividades imobiliárias, aluguéis e serviços às empresas por conta do crescimento dessa última atividade de prestação de serviços às empresas, que contabiliza os serviços prestados pela mão-de-obra terceirizada. O setor público ampliou de 19,1% para 25,6% o peso na riqueza gerada e o setor de serviços às empresas mais do que dobrou a participação, passando de 3,8% para 8,4%.

É interessante observar também a evolução de algumas atividades de menor peso na geração de riqueza mas que apresentaram desempenho bem superior à média no período, aumentando a participação. São os casos das atividades financeiras, de saúde e educação particulares e do setor de comunicações.

De fato, ocorreu na década uma forte ampliação dos planos de saúde, assim como do ensino superior privado. O setor de comunicações, impulsionado pela expansão da telefonia móvel e dos serviços de informática e da internet, mais do que triplicaram seu peso no Valor Adicionado Bruto.

  
Publicado no Jornal da Cidade, em 04 de maio de 2014