Ricardo Lacerda
O
ministro Guido Mantega deve ter respirado aliviado. Na semana que passou foram
publicados indicadores que deram alento ao seu otimismo arraigado. Os dados
sobre emprego e rendimentos referentes ao mês de julho, com base no Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados do MTE, o resultado das vendas no varejo do
IBGE e o Índice de Atividade
Econômica do Banco Central (IBC-Br), referentes a junho, sinalizam que o
mecanismo econômico pode ter começado a operar no sentido de acelerar o
crescimento, depois de meses da baixa rotação que frustrava a esperança de que as
medidas que vinham sendo adotadas tivessem eficácia.
Os resultados de junho e julho podem ser os
primeiros sinais de que o ritmo de crescimento alcançou um patamar sustentado
acima de 3% ao ano, deixando para trás o período de descrença e desânimo dos
agentes econômicos.
Indicadores
A expansão do volume de vendas no varejo atingiu 1,5%
em junho na comparação com maio, livre de efeitos sazonais, no melhor resultado
desde janeiro (ver Gráfico 1). Na
comparação com junho de 2011, o volume de vendas no varejo atingiu 9,5% e nos
últimos doze meses cresceu 7,5%. O mais significativo é que a aceleração do
crescimento nas vendas não se limitou aos setores recentemente incentivados
pela redução de impostos, como alguns analistas apostavam que o resultado de
junho revelaria. A expansão das
vendas no varejo foi abrangente, atingindo nove dos dez setores pesquisados. Aponta-se
que as melhorias nas condições do crédito finalmente superaram os entraves à reaceleração das vendas no
varejo.
O comportamento do mês de junho confirmou que o
consumo das famílias continua sendo uma das forças que empurram para cima o crescimento
econômico, sepultando algumas crenças pouco aderentes com a realidade de que seu
poder de empuxe já teria chegado ao limite.
Muito significativo foi o resultado do emprego formal em julho. Havia o temor de que as incertezas sobre a evolução da economia findassem por contaminar um dos principais esteios do crescimento brasileiro nos últimos anos, os níveis elevados de ocupação e de geração de emprego que proveram as bases para que as famílias se sentissem confiantes em ampliar o consumo, inclusive por meio do acesso ao endividamento.
O saldo do emprego formal em julho ficou acima
das expectativas dos especialistas e um pouco superior ao de julho do ano anterior,
um resultado robusto depois de três meses em que ficou em patamar muito abaixo
dos números de 2011 (ver Gráfico 2).
Finalmente, o Índice de Atividade Econômica do
Banco Central (IBC-Br), indicador antecedente do PIB, apresentou resultado muito
bom, depois de três meses de crescimento em torno de zero. O IBC-BR de junho
atingiu 0,75%, o melhor do ano e somente comparável ao de novembro de 2011 (Gráfico
1).
Perspectivas
Os bons indicadores publicados na semana que
passou são os sinais mais significativos, até o momento, de que a economia pode
de fato ter engrenado em um novo ciclo de crescimento sustentado, que deverá
ser confirmado (ou não) nas próximas semanas, evidentemente se novas
turbulências não advirem.
Caso engrene de fato deixará uma importante lição,
desautorizando certas linhas de análise que por desaviso ou má intenção (ou até
boa intenção, que há em profusão no céu e no inferno), que confundem os
elementos de demanda que explicam a flutuação do nível de atividade no curto
prazo com questões de oferta que determinam a capacidade de crescimento de
longo prazo, e que vinham afirmando que o impulso do gasto não mais sustentaria
a retomada do nível de atividade.
Publicado no Jornal da Cidade em 19/08/2012
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