Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 26 de março de 2012

Densidade populacional e desenvolvimento

Ricardo Lacerda
É do senso comum que regiões e localidades com melhores recursos naturais atraem mais pessoas, formando maiores aglomerações populacionais e redes de cidades de malha mais estreita, com menores distâncias entre os centros urbanos. Não custa lembrar o contraste entre a elevada densidade populacional na Zona da Mata, com solos mais adequados para a agricultura e menos sujeita a estiagens, e a população relativamente rarefeita do semi-árido nordestino, com características climáticas mais inóspitas. 
Além da geografia, a história também conta. Uma vez criadas as aglomerações humanas, a partir de um evento inicial de motivação econômica, política ou religiosa, operam-se mecanismos de autorreforço que podem as fazer crescer cumulativamente. Novos eventos ao longo da história, como mudanças econômicas, tecnológicas ou institucionais (de caráter endógeno ou exógeno), a exemplo do efeito do surgimento da indústria de pneumáticos na virada para o século XX sobre a extração do látex das seringueiras da Amazônia, abrem possibilidades de mudar a distribuição espacial da população.
A evolução dos meios de transporte e as mudanças nas restrições legais à migração cumprem seu papel, o que deixa a nossa análise referenciada apenas a movimentações internas. Ficando posta a questão, passemos a observar os indicadores de densidade populacional dos estados brasileiros e dos territórios e municípios sergipanos.
Estados
Na tabela a seguir, são apresentadas a população, a área territorial, a densidade populacional de 2010 e a taxa de crescimento populacional, entre 2000 e 2010, das unidades federadas.
Em sua dimensão continental, com vastas áreas de florestas, a densidade populacional brasileira é de 22,4 pessoas por km2. O Distrito Federal e o Rio de Janeiro (que abrange o ex-Distrito Federal) têm densidades demográficas muito mais elevadas do que as demais unidades federadas, 442,92 pessoas/km2 e 365,94 pessoas/km2, respectivamente, o que bem diz do poder de atração de uma capital federal e da ordem de grandeza da transferência de riqueza que se procede dos demais estados para o centro do poder político.
Não é demais lembrar que, entre 2000 e 2010, o Distrito Federal registrou crescimento populacional de 25,3%, o 4º mais elevado entre as unidades federadas, abaixo apenas de estados de populações pequenas da região Norte, enquanto o Rio de Janeiro reduziu sua taxa relativa de crescimento populacional frente à media nacional, desde que deixou de ser capital.
Nordeste
O peso do passado, expresso no povoamento e na criação dos sistemas de produção dos primeiros séculos, muitas vezes ainda tem grande significado. É interessante perceber que estados da região Nordeste Oriental, na área delimitada entre o Rio Grande do Norte e Sergipe, apresentam-se entre os de maiores densidades populacionais, apesar de mais de dois séculos de crescimento em ritmo médio inferior ao chamado Centro-Sul.
É possível associar densidade e extensão territorial no sentido de que estados de menor dimensão, excluídos os de fundação mais recentes da região Norte, teriam maior densidade. Assim, estados como Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Paraíba e Rio Grande do Norte e Santa Catarina têm maior densidade populacional do que estados de maior extensão, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Maranhão, Bahia, entre outros.
A argumentação pode ser aceita, mas apenas parcialmente. Faz sentido para situações como a de Alagoas e Sergipe, que têm as mais elevadas densidades populacionais da região Nordeste, especialmente porque esses estados têm uma menor parcela de suas áreas territoriais no semi-árido.  Mas a relação causal pode estar invertida. De um ponto vista histórico, esses estados se constituíram províncias autônomas exatamente porque contavam com densidades econômicas e populacionais que abriam um espaço para esse tipo de reivindicação. 


Tabela: População, Área Territorial e Densidade Populacional das Unidades da Federação. 2010.
Ranking de densidade
UFs
População 2010
Área
(Km2)
Densidade populacional
2010 (Pop/km2)
Crescimento
Populacional 2000-2010 (%)
DF
2.570.160
5.802
442,98
25,3%
RJ
15.989.929
43.696
365,94
11,1%
SP
41.262.199
248.209
166,24
11,4%
AL
3.120.494
27.768
112,38
10,6%
SE
2.068.017
21.910
94,39
15,9%
PE
8.796.448
98.312
89,48
11,1%
ES
3.514.952
46.078
76,28
13,5%
PB
3.766.528
56.440
66,74
9,4%
SC
6.248.436
95.346
65,53
16,7%
10º
RN
3.168.027
52.797
60,00
14,1%
11º
CE
8.452.381
148.826
56,79
13,8%
12º
PR
10.444.526
199.315
52,40
9,2%
13º
RS
10.693.929
281.749
37,96
5,0%
14º
MG
19.597.330
586.528
33,41
9,5%
15º
BA
14.016.906
564.693
24,82
7,2%
16º
MA
6.574.789
331.983
19,80
16,3%
17º
GO
6.003.788
340.087
17,65
20,0%
18º
PI
3.118.360
251.529
12,40
9,7%
19º
MS
2.449.024
357.125
6,86
17,9%
20º
RD
1.562.409
237.576
6,58
13,2%
21º
PA
7.581.051
1.247.690
6,08
22,4%
22º
TO
1.383.445
277.621
4,98
19,6%
23º
AC
733.559
152.581
4,81
31,6%
24º
AP
669.526
142.815
4,69
40,4%
25º
MT
3.035.122
903.358
3,36
21,2%
26º
AM
3.483.985
1.570.746
2,22
23,9%
27º
RR
450.479
224.299
2,01
38,9%

Fonte. IBGE.
Ciclos
Como regra geral, é de se esperar que as regiões e as localidades com mais oportunidade de trabalho atraiam populações e aquelas menos promissoras expulsem-nas. A associação entre a extensão territorial e a dimensão da população é um resultado formado ao longo dos tempos, com peso maior de processos antigos, em alguns casos, e de processos mais recentes, em outros, pelas diversas camadas de ciclos de crescimento e de estagnação, que geram certa proporção entre elas, a densidade populacional. Deve-se considerar que os mecanismos sociais que atraem e expulsam pessoas operam longe da perfeição, dado que a migração de populações não se dá sem elevados custos econômicos e emocionais e encontra limitações legais.
Mais precisamente, a densidade populacional poderia ser pensada como um indicador do potencial dos recursos do território em receber contingente populacional, em determinadas condições, e não um indicador de desenvolvimento humano, como por fim e ao cabo é mais correto pensar o desenvolvimento. No próximo artigo, será examinada a densidade populacional dos municípios sergipanos, observando-se as áreas que logram acumular maior contingente de pessoas.

Publicado no Jornal da Cidade de 25/03/2012 
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