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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 12 de março de 2012

O PIB e os juros

Ricardo Lacerda
O IBGE anunciou durante a semana o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2011. A modesta taxa de crescimento, de 2,7%, na comparação com o ano anterior confirma as piores estimativas de desaceleração do nível de atividade econômica no segundo semestre de 2011. Foram dois trimestres de economia estagnada: retração de 0,07% no 3º trimestre, no dado revisado, e crescimento de 0,34% no 4º trimestre (ver Gráfico 1).
Ainda que alguns analistas tenham assinalado que o resultado de 2011já não refletiria o ritmo de atividade atual e que o país já teria reencontrado a trajetória de recuperação nos primeiros meses de 2012, com projeção de crescimento de até 5% ao longo do ano, as autoridades econômicas não parecem tão confiantes, a julgar pelo conjunto de medidas que vêm sendo adotadas para reanimar o nível de atividade. É importante ter em mente que o crescimento pífio do último trimestre de 2011 resulta em uma taxa anualizada de apenas 1,36%.
Fonte: Contas trimestrais. IBGE

Setores
O Gráfico 2 apresenta os resultados do PIB do 4º trimestre de 2011 e do ano completo segundo os setores de atividades e de acordo com os componentes do dispêndio. Especialmente preocupante tem sido o desempenho do setor industrial, fortemente atingido pelo incremento das importações e, complementarmente, pelo desaquecimento do mercado de consumo. O setor industrial ainda obteve taxa de crescimento positivo no ano (1,6%), mas se retraiu em três das quatro medições, culminando com uma queda de 0,5% no último trimestre. O setor de serviços, de maior peso no PIB, cresceu 2,7%, e a agropecuária liderou com 3,9%.

Dispêndio
As disparidades de desempenho entre as variáveis de dispêndio foram bem maiores do que entre as produções setoriais e a observação delas auxilia no entendimento de como se procedeu a desaceleração.  No último trimestre de 2011, o consumo da administração pública e os investimentos públicos e privados (FBCF) praticamente não cresceram, jogando a média para baixo, ficando ao encargo do consumo das famílias, que apresentou uma boa recuperação, quase todo o crescimento do período.
As importações de bens e serviços, com destaque para os dispêndios com a contratação de serviços externos, cresceram 2,6% no 4º trimestre, e tiveram papel também importante na desaceleração, na medida em que significam vazamento do poder de compra para o setor externo da economia.
Fonte: Contas trimestrais. IBGE
Os juros
O pragmatismo tem sido a marca da gestão macroeconômica, deixando pouco espaço para demarcações mais ideológicas. O governo entende que no cenário em que países centrais adotam políticas monetárias fortemente expansionistas como salvaguarda do sistema financeiro, não é cabível assistir passivamente a valorização da moeda nacional, que retira competitividade da indústria que vê as importações abocanhar uma fatia maior do mercado interno.
A administração Dilma tem priorizado as políticas monetárias frente às políticas fiscais no manejo das políticas macroeconômicas que procuram harmonizar a manutenção do crescimento econômico e o controle inflacionário, operando sobre as condições de crédito e sobre a taxa básica de juros.
A redução de 0,75 pontos percentuais na Selic na semana que passou já não causou estranheza ao mercado que, aparentemente, se ajustou aos novos parâmetros de atuação do Banco Central.
Com a Selic anual abaixo de 10% e em trajetória descendente, levando a juros reais menos atrativos, incentiva-se, de um lado, a expansão do consumo e a retomada do investimento, e de outro, são enfrentados os problemas de perda de competitividade do setor industrial derivados da valorização cambial, no limite que a evolução da inflação e as contas externas permitirem.
O governo tem se mostrado atento à necessidade de manter o crescimento da economia, com os propósitos de assegurar a continuidade da expansão do emprego e ampliar as políticas públicas para os segmentos mais vulneráveis da população, enfrentando, diuturnamente, pressões dos setores da sociedade que são remunerados com base nos juros dos títulos públicos, os chamados rentistas, que mobilizam mundos e fundos contra a redução da taxa de juros, como sendo uma ameaça à estabilização.   
Publicado no Jornal da Cidade em 11/03/2012


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