O anúncio, na semana passada, da retração de 2% na produção física da indústria brasileira em setembro, em relação a agosto, na série sem efeitos sazonais, provocou um grande susto. Tal resultado deixou patente que a desaceleração do nível de atividade da economia brasileira, meta desejada e planejada pelas autoridades econômicas, veio com mais força do que se projetava.
Depois do crescimento de 7,5% do PIB e de 10,4% da produção física da indústria em 2010, cristalizou-se a percepção de que a economia brasileira estava crescendo acima do seu produto potencial, com efeitos perceptíveis e preocupantes sobre a evolução da inflação e sobre o resultado da conta corrente.
Mesmo considerando que retração tão elevada da produção física da indústria em apenas um mês deveu-se, em grande parte, à queda de 11% na produção de automóveis, em função de férias coletivas adotadas por algumas montadoras para reduzir os estoques no pátio, a queda da produção industrial foi abrangente, atingindo 16 dos 27 ramos pesquisados.
Desaceleração industrial
O Gráfico, a seguir, apresenta a taxa de crescimento do produto industrial na série acumulada em doze meses. O que chama atenção é o ritmo da desaceleração.O ano de 2011 deverá fechar com um crescimento pífio da produção industrial, como antecipa a expansão dos últimos doze meses encerrados em setembro, em relação aos doze meses anteriores, que se limitou a 1,6%.
Fonte: IBGE-PIM
Alguns analistas têm atribuído o comportamento ruim da produção industrial nos últimos meses a um conjunto de fatores que abrange a perda de competividade de parcela da nossa produção industrial no mercado interno e no mercado externo, decorrente da valorização cambial, as medidas adotadas para restringir o crédito e a elevação do seu custo, e a corrosão do poder de compra pela aceleração inflacionária.
Um fator novo tem chamado atenção. Com o agravamento da crise europeia, a queda da confiança no futuro, de empresários e consumidores, também vem afetando as decisões de compras. A reversão das expectativas atingiria, particularmente, a produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis, ainda que os resultados desses segmentos possam estar muito influenciados pelo comportamento da indústria automobilística. Mesmo a produção de bens intermediários estaria sendo contaminada pelos efeitos do agravamento do cenário sobre as decisões de empresários e consumidores.
Na série livre de efeitos sazonais, a produção física do setor de bens de capital recuou 5,5% entre agosto e setembro, os bens duráveis se retraíram 9%, enquanto a produção de bens intermediários manteve o patamar do mês anterior e a produção de semiduráveis e não duráveis recuou 1,3%.
Investimentos
Os investimentos industriais vinham retomando fortemente, estimulados pelo crescimento do consumo que impactava positivamente a produção interna de bens de capital. Com a deterioração do quadro econômico externo e a desaceleração da produção industrial interna, a taxa de crescimento do setor vem caindo rapidamente, de forma que, nos doze meses encerrados em setembro de 2011, a expansão da produção física de bens de capital se limitou a 5,5%.
A Tabela, a seguir, mostra como a desaceleração do crescimento da atividade industrial também vem alcançando as demais categorias de uso.
Fonte: IBGE-PIM
No início do ano, o aquecimento excessivo da economia brasileira levou à tomada de medidas restritivas que somadas ao agravamento mais recente do cenário externo estão provocando uma desaceleração muito rápida do nível de atividade da economia brasileira. As autoridades econômicas precisam ficar atentas para não permitir que se instale uma onda de pessimismo, quando a economia brasileira, por tudo que avançou no passado recente, tem respondido de forma positiva às dificuldades do cenário internacional.
Publicado no Jornal da Cidade em 06/11/2011
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