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terça-feira, 5 de abril de 2011

O IPCA e as expectativas de mercado

Ricardo Lacerda


Nas últimas semanas predomina certo mal estar na relação do Banco Central com o chamado mercado, que vem a ser essencialmente constituído por operadores no mercado financeiro, como corretoras, bancos e gestoras de recursos. O principal ponto da discórdia diz respeito às avaliações feitas pelo Copom (Comitê Política Monetária do Banco Central) sobre a trajetória do IPCA nos próximos meses e a defesa da instituição de uma estratégia de combate gradual à inflação, aguardando que surtam os efeitos das medidas de políticas macroprudenciais recentes que buscaram desacelerar o ritmo do nível de atividade por meio da restrição ao crédito, além das medidas de corte do gasto público e dos últimos aumentos da taxa básica de juros, antes de adotar novas medidas restritivas que findem por abortar continuidade do ciclo de expansão econômica.

O mercado avalia que a ata da última reunião do Copom, corroborada pelo relatório de inflação de março do Banco Central, reflete uma mudança do entendimento da autoridade monetária em relação ao sistema de meta de inflação. O Banco Central teria reduzido o seu compromisso em repor o IPCA ao centro da meta inflacionária (4,5%). Mais grave, o Copom estaria sendo leniente com o combate à inflação quando indica aceitar com naturalidade que a inflação somente se aproxime do centro da meta em meados do próximo ano.

Trocando em miúdos, os agentes mercado entendem que fazia parte da regra do jogo, do jogo deles, o Banco Central manter, dentro do ano, a inflação no nível contratado e que os desvios da inflação do centro da meta devem ser respondidos com elevações na taxa básica de juros.


IPCA


A partir de setembro do ano passado, o IPCA acumulado em doze meses iniciou uma trajetória de crescimento, passando de 4,70%, naquele mês, para 5,20% em outubro, 5,64%, em novembro, e encostou os 6% em dezembro e janeiro, atingindo 6,01% no mês de fevereiro. Ainda que o ímpeto de elevação do índice tenha se dissipado nos últimos meses, o mercado considera o patamar muito elevado. (Ver gráfico 1)

Fonte: IBGE


O ponto de vista do Banco Central é o de que a aceleração dos preços ao consumidor nos últimos meses se deveu, em parte, a pressões sazonais, seja nos preços de alimentos in natura, por conta das recentes inundações na região Sudeste, seja nas tarifas, especialmente de transportes públicos. A elevação nas cotações das commodities no mercado internacional seria um fator adicional. Aumentos na taxa de juros pouco poderiam atuar no sentido de combater tais pressões, [a não ser que em doses cavalares].

Reconhece, todavia, a persistência de descompasso entre a oferta e a demanda agregadas, ou seja, que a economia estaria excessivamente aquecida, fato evidenciado na evolução dos preços de serviços, mas que este desequilíbrio estaria sendo combatido pelas medidas adotadas e que, no segundo semestre, o IPCA acumulado de doze meses começará a refluir, até voltar a convergir ao centro da meta em 2012. As análises do Banco Central destacam ainda que o crescimento do nível de atividade vem desacelerando já há meses e que isso se refletirá, com alguma defasagem temporal, na evolução do IPCA.

A exposição desses argumentos foi entendida pelo mercado como uma sinalização de que o ciclo recente de elevação das taxas de juros não teria continuidade nas próximas reuniões do Copom e o mercado quer mais altas nos juros.

O gráfico 2 a seguir resume a expectativa de mercado desde agosto do ano passado em relação ao IPCA de dezembro de 2011. As projeções mais recentes apontam para a mediana de 6% para o índice no final do ano.


Fonte: Banco Central. Focus- Relatório de Mercado


Termômetro


O Banco Central tem emitido enfáticos sinais de que não tem visto com bons olhos as projeções do mercado. Para alguns analistas, a piora nas expectativas poderia refletir as insatisfações dos agentes do mercado com a mudança na postura do Banco Central, que diferentemente de situações pretéritas, não deverá responder à pressão inflacionária com novas rodadas de elevação da taxa Selic, contrariando as apostas que estas instituições fizeram em suas aplicações financeiras.

Há no momento uma tensão entre Banco Central e o mercado que somente será dissipada nas próximas semanas, à medida que os dados da inflação mostrarão quem está certo sobre a projeção do índice de inflação, o Banco Central ou o mercado. Eu aposto que o Banco Central dobra o mercado. Os agentes reelaborarão suas expectativas, convergindo com as projeções da autoridade financeira e ficarão felizes com os resultados alcançados.


Publicado no Jornal da Cidade em 03/04/2011.


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