Os candidatos à presidente da república, e seus
conselheiros e assessores, têm sido procurados quase que freneticamente por
representantes do mercado financeiro e do chamado setor produtivo para
apresentarem suas propostas para o quadriênio 2019-2022.
Os relatos desses encontros, publicados na grande
imprensa, revelam certa ansiedade dos presidenciáveis em se mostrarem
confiáveis a tais segmentos, especialmente interessados em conhecer as propostas
dos candidatos em relação às reformas (previdenciária, tributária e da máquina
pública) e de adoção de outras medidas voltadas para buscar a sustentabilidade
fiscal, mesmo que em um horizonte bastante largo, dado que nenhum candidato ou
assessor se arvorou até o momento em apresentar soluções radicais de ajuste.
Garantias
A recente intensificação das turbulências nos
mercados globais e seus efeitos nas moedas das economias emergentes e nas suas condições
de acesso ao capital externo aumentaram a urgência com que o empresariado e
detentores de riqueza financeira buscam se acercar de âncoras políticas que
possam atenuar as incertezas no cenário interno.
Nenhum dos candidatos e assessores, entre
aqueles procurados pelos representantes do mercado, me pareceu ter manifestado
desconhecimento em relação à urgência que tem o enfrentamento da questão fiscal
para que a economia brasileira possa voltar a crescer e gerar empregos em ritmo
robusto; as diferenças entre eles, que não são triviais, dizem respeito à
velocidade e tamanho do ajuste e, principalmente, à distribuição dos seus custos
entre os diversos segmentos sociais. É sempre assim, quem pode mais, chora
menos.
Persiste pouca dúvida entre as equipes
econômicas dos candidatos de que a questão fiscal não é apenas a mais central como
também a mais premente. Isso não justifica, todavia, o silêncio dos candidatos
e conselheiros em relação à questão social, principalmente sobre as suas
propostas para atenuar a penúria atual do mercado de trabalho que insiste em
retardar a emissão de sinais mais fortes de melhoria.
Pacto
pelo emprego
Não necessariamente, e aqui apresento meu
ponto, perseguir a sustentabilidade fiscal e atenuar a crise de desemprego são objetivos
antagônicos, ainda que reconheça que, para algumas perspectivas em debate, eles são
vistos como conflitantes.
Entre as propostas que estão emergindo, uma
das que me parecem mais promissoras é a de excluir os gastos de investimentos
do limite do teto de gastos públicos. Com criatividade, mas sem deixar de lado
as quatro operações algébricas, seria possível compatibilizar no tempo redução
dos déficits primários e nominais e constituição de fundos para financiar um
conjunto de políticas de geração de emprego, abrangendo desde a retomada de
obras públicas e da construção residencial até a geração massiva de ocupação
por meio de frentes de serviços civis e de ampliação de políticas de proteção
social.
Sim, caso se decida pela ampliação de
investimentos em obras públicas e nas políticas sociais será necessário cortar
mais incisivamente em outras áreas; é essa construção social, o pacto pelo
emprego e pela redução da penúria social sobre o qual o Brasil deveria se
mobilizar nesse momento.
Debilidade
Os resultados do mercado de trabalho no 1º
semestre do ano têm revelado o amortecimento do ensaio de recuperação que se
apresentava no segundo semestre de 2017, quando se disseminou a percepção de
que, depois de um primeiro estágio em que o emprego informal apresentasse forte
expansão, o crescimento da ocupação se estenderia ao setor formal da economia. Infelizmente,
a realidade não seguiu o script antevisto.
Foram publicados na última sexta-feira (29 de
junho) os resultados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Contínua
referentes ao trimestre março-maio de 2018, revelando que a situação do mercado
de trabalho permanece muito ruim. O contingente de pessoas desocupadas somou 13,2
milhões de pessoas, equivalentes a 12,6% do total de pessoas que estão ocupadas
ou estão em busca de trabalho no período.
Além do fato de a taxa de desocupação permanecer
muito elevada, é preocupante que o mercado de trabalho não demonstre ter encontrado
o caminho da recuperação: de um lado, as ocupações com carteira de trabalho no
setor privado continuam declinando, na comparação com igual trimestre do ano
anterior, e a taxa de retração das ocupações formais vem caindo muito
lentamente nessa comparação, com corte de cerca de meio milhão de vínculos
formais nos últimos três resultados (ver Gráfico); de outro lado, as ocupações
no setor privado sem carteira de trabalho, se se mantiveram em crescimento
acelerado, reduziram o ritmo de expansão no primeiro semestre de 2018, em
relação aos resultados que vinham apresentando no segundo semestre de 2017. O
crescimento das ocupações por conta própria, também registrando taxas muito elevadas,
apresenta clara tendência de desaceleração.
A questão do emprego é grave, não dá para
esperar pela recuperação fiscal. É urgente enfrentá-la.
Fonte: IBGE. PNADCM
https://osdivergentes.com.br/outras-palavras/e-urgente-um-pacto-pela-geracao-de-emprego/
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