Ricardo Lacerda
Sob qualquer perspectiva adotada, o Plano Michel Temer-Meirelles fracassou e o
Brasil se encontra órfão de projeto de transição para o novo governo que
assumirá em 2019. O fracasso foi geral: econômico, político e social. A
paralisia de norte ao sul do país durante uma semana, provocada pela
mobilização dos caminhoneiros, apenas cristalizou para a ampla massa da
população a percepção de que nos espera um cenário de débil recuperação da
atividade econômica, insuficiente para encerrar o período já demasiadamente
longo de elevadas taxas de desocupação e de penúria social.
Ainda que a mútua alimentação das causas econômicas e políticas da crise
brasileira sempre suscite a indagação sobre o que surgiu primeiro, atualmente
não restam dúvidas de que a instabilidade política e a insegurança jurídica
constrangem as possibilidades de recuperação econômica. Pairam incertezas até
mesmo sobre as condições e as regras em que serão realizadas as eleições gerais
marcadas para outubro próximo. Se há uma ilusão que se desvaneceu ao longo do
1º semestre de 2018 foi a de que a economia e a política seguiriam descoladas
até o final do atual governo, aguardando o desenlace das eleições.
Pontes em ruína
Para ser justo, o fracasso não é propriamente da dupla Temer-Meirelles e
sim do projeto de transição que respaldou o afastamento da presidente eleita
Dilma Rousseff dois anos atrás e que buscou se legitimar na promessa de
entregar para o novo governo que assumisse em 2019 o país pronto para dar
partida a um novo ciclo de crescimento, que se acreditaria responsável e
sustentável fiscalmente. Era o que pretendia acenar o documento Uma Ponte para
o Futuro. Por circunstâncias diversas, domésticas e externas, não vai entregar
o prometido. O governo que assumir em 2019 vai ter que construir suas próprias
bases de legitimidade e encontrar as forças que possam retirar a economia da
armadilha de baixo crescimento e agravamento do quadro fiscal.
Restou a sensação de que, além dos atropelos causados pelas denúncias de
desvio contra a cúpula do poder federal, o plano de transição engendrado subestimou
os riscos de esgarçamento do tecido social. A apresentação da carta de demissão
de Pedro Parente à presidência da Petrobras, nesta sexta-feira (01/06/2018)
talvez seja a melhor síntese desse momento, de fracasso da transição e da
rejeição por parte da população à falta de sensibilidade política e social com
que ela foi conduzida.
Contraditoriamente, com ela abre-se com uma oportunidade, mesmo que
tênue, de construir um novo pacto para a transição do país, em bases mais
realistas e menos excludente na questão social. Cabe reconhecer, todavia,
considerando a amplitude das diferenças políticas estabelecidas, o imbróglio
jurídico-policial em que se encontra a classe política, além da miopia
prevalecente, que a probabilidade maior é de continuarmos imersos na
pasmaceira, sem falar que o risco de uma solução por cima não está afastado.
PIB e emprego
Os dados mais recentes do nível de atividade econômica e de geração de
emprego confirmaram a desaceleração do ritmo de recuperação da economia,
configurando um cenário de crescimento muito lento do PIB e de baixa capacidade
de geração de postos de trabalho.
Do ponto de vista do emprego, dois pontos chamam a atenção na edição de
abril da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar: o primeiro é que, até o
trimestre fevereiro-abril de 2018, o emprego com carteira de trabalho no setor
privado continuou caindo, ou seja, nem mesmo encontrou seu ponto de
estabilização, na média de doze trimestres móveis; o segundo é que as formas
alternativas de ocupação, como as atividades por conta própria, vêm
apresentando desaceleração na taxa de crescimento.
O resultado do PIB do 1º trimestre confirmou indicadores parciais que
mostravam a retração no ritmo de crescimento do nível de atividade econômica.
Na comparação com o 4º trimestre de 2017, na série livre de efeitos sazonais, o
crescimento do PIB se limitou a 0,4% (ver Gráfico1) atribuído em sua quase
plenitude ao aumento da agropecuária, porquanto as atividades industriais e de
serviços se mantiveram estagnadas.
Do ponto de vista dos dispêndios, o desempenho dos investimentos (FBCF)
foi decepcionante, o consumo do governo continua declinando e o consumo das
famílias vem se apresentando aquém do esperado.
A série que compara com igual trimestre do ano anterior mostra com mais
clareza a inflexão do ritmo de crescimento do PIB trimestral (ver Gráfico 2).
Nessa série, o consumo das famílias confirma-se como o principal sustentáculo
de crescimento, ainda que modesto, da economia.
Fonte: IBGE. CNT
03/06/2018
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