Ricardo Lacerda
A publicação recente dos principais
indicadores de evolução da atividade econômica trouxe preocupação sobre os
riscos de que a retomada da economia brasileira tenha esfriado nesse início de
2018. Os desempenhos setoriais ruins nos dois primeiros meses do ano parecem mesmo
sinalizar uma atenuação do crescimento que se apresentava com perspectivas mais
robustas no segundo semestre de 2017. As consultorias especializadas se
apressaram para rever para baixo as projeções para o crescimento do PIB de
2018, mas a mediana das estimativas permaneceu relativamente alta, de 2,76%,
para 2018, mantendo-se a taxa de 3% para 2019.
Os dados sobre a evolução do mercado de
trabalho têm se apresentado relativamente piores do que os de volumes de
atividades setoriais, com a continuidade da queda no contingente de pessoas
ocupadas com vínculos formais (nos resultados da Pnad Contínua) e a desaceleração
de certa intensidade na expansão dos vínculos informais.
A desaceleração do ritmo de crescimento do
nível de atividade fez acender o sinal de alerta sobre a possibilidade, mesmo
relativamente remota, de que a retomada da economia se revele muito mais frágil
do que a prevista anteriormente. Ainda mais quando aumentaram a instabilidade e
a imprevisibilidade do cenário político interno e, no cenário externo, apesar de
o ritmo de crescimento econômico se manter robusto, o ambiente político
apresentou forte deterioração e a espiral do protecionismo ensaia seus
primeiros episódios.
Voo de galinha
Para os analistas menos otimistas, parte
expressiva do crescimento de 2017 foi causada por fatores não recorrentes, que
não deverão voltar a se repetir em 2018 e anos seguintes, como a liberação de recursos
do FGTS e os fortes incrementos da produção agrícola e das vendas externas.
A continuidade do crescimento da economia
brasileira em 2018 estaria basicamente assentada na expansão do consumo, mas a manutenção
do incremento desse componente da demanda estaria sob risco. Diante do súbito esfriamento do mercado de
trabalho, a sustentação do ritmo de incremento do consumo, e assim, do conjunto
da economia brasileira, estaria à mercê dos impactos positivos da redução dos
juros nominais, impulso quase solitário sobre o nível de atividade nesse
momento.
Moderação
A
perspectiva mais pessimista sobre a evolução de nossa economia não é a dominante,
pelo menos não é ainda. A avaliação mais aceita até o momento é de que a desaceleração na evolução dos
indicadores nos meses de janeiro e fevereiro pode simplesmente refletir uma
correção em relação aos resultados acima dos esperados no período imediatamente
anterior. O ritmo do crescimento tendencial nem seria aquele mais elevado do
final do ano passado, nem tampouco a quase estagnação desse início de 2018. Nessa
perspectiva, deverá prevalecer um resultado intermediário. Vai ser necessário aguardar; somente a publicação dos resultados setoriais dos próximos meses deverá apontar
o cenário que deverá prevalecer.
Indústria, serviços e varejo
No acumulado de janeiro e fevereiro, a produção
física da indústria de transformação recuou 2,6%, em relação a dezembro de
2017, e as atividades de serviços recuaram 3,29%. Mesmo os índices de confiança
setoriais sobre o futuro passaram a apresentar maiores oscilações. O volume de
vendas no varejo, até o momento, manteve a trajetória de crescimento.
No acumulado de janeiro e fevereiro, o Índice
de Atividade Econômica do Banco Central do Banco Central (IBC-BR) recuou 0,56%,
em relação dezembro de 2017. A linha continua dupla no Gráfico mostra a
evolução do IBC-BR no acumulado de dois meses, na série livre de efeitos
sazonais. Nessa série fica evidente a desaceleração do ritmo de crescimento nos
resultados de janeiro e fevereiro, depois da aceleração entre outubro e
dezembro de 2017. A linha pontilhada, por sua vez, mostra a comparação com os
mesmos bimestres do ano anterior: depois de acelerar até outubro de 2017, o
IBC-BR na média bimestral manteve até janeiro taxas de crescimento em patamar
superior a 2%, e em fevereiro recuou para 1,8%.
Finalmente a linha contínua simples apresenta
uma perspectiva de prazo mais largo, com a taxa do crescimento acumulado em
doze meses, em comparação aos dozes meses anteriores. Essa série sinaliza que o
ritmo de aceleração de crescimento do IBC-BR perdeu ímpeto nos últimos
resultados, mas se mantém relativamente elevado.
Em síntese, constatou-se um esfriamento do
crescimento do nível de atividade econômica nesse início de 2018.
Aparentemente, houve uma correção em relação ao crescimento mais robusto do
último trimestre de 2017; mas pode não ter sido apenas isso.
Fonte. BCB