Ricardo Lacerda
Em 2018, não se pode esperar contribuições
adicionais significativas da safra agrícola e do setor externo no crescimento
do PIB. Consumo e investimentos, nessa ordem, deverão ser os principais
componentes de aceleração do crescimento da economia.
O PIB brasileiro vem apresentando incremento desde
o 1º trimestre de 2017, depois de completar oito trimestres consecutivos de
queda. Além de lenta, a recuperação do nível de atividade da economia
brasileira tem sido desigual, tanto em termos de setores de atividade, quanto
no que se refere aos componentes da demanda.
Agricultura, indústria de transformação e
comércio e transporte vêm apresentando incrementos mais robustos, enquanto as
atividades de governo, comunicação e informação, atividades financeiras e os
serviços pessoais registraram evoluções menos favoráveis. Crítico mesmo tem
sido o desempenho da construção civil.
Do ponto de vista do dispêndio, o consumo das
famílias e o setor externo foram os componentes que mais contribuíram para o
crescimento no acumulado de três trimestres em 2017. O gasto público apresentou
retração no período e os dispêndios com investimentos ainda não apresentaram retomada
mais significativa.
Perspectivas
Todavia, mais importante do que olhar para o
retrovisor é buscar identificar quais serão os vetores de aceleração do crescimento
da economia brasileira nos próximos trimestres.
A expectativa é de que os impulsos gerados
pela safra agrícola favorável em 2017, pelo impacto do crescimento das
exportações sobre o nível de atividade de importantes cadeias produtivas e, principalmente,
pela expansão gradual do poder de compra da população associada ao incremento
da ocupação, deverão se disseminar progressivamente entre os vários setores de
atividade, sem, contudo, significar que a retomada seja sustentável no médio
prazo.
O crescimento do consumo tem sido associado
ao incremento gradual do poder de compra das famílias derivado do aumento da
ocupação e da melhoria das condições de acesso ao crédito. No relatório da
inflação de setembro último, antes da publicação do PIB do 3º trimestre, o
Banco Central projetava expansão de 0,4% no consumo das famílias em 2017 e de
2,5% em 2018, indicando a continuidade do crescimento do componente nos
próximos trimestres.
Investimento
O investimento na economia brasileira iniciou
sua trajetória declinante no último trimestre de 2013. Aparentemente a queda foi estancada nos dois
últimos trimestres, registrando-se variação de -0,1%, no 2º trimestre, e
incremento de 1,6%, no 3º trimestre. Esses últimos resultados não chegaram a
ser animadores. Esperava-se contribuição mais relevante dos investimentos na
retomada da economia.
O Relatório de Inflação de setembro do Banco
Central projetava que a Formação Brutal de Capital Fixo (FBCF), mesmo crescendo
no segundo semestre, fecharia o ano de 2017 com queda de 3,2%, depois de ter
despencado 10,3% em 2016, e 13,9%, em 2015. Em relação ao final de 2013, o
investimento do 3º trimestre de 2017 se situava 27,6% abaixo (ver Gráfico). Na
mesma comparação, o consumo das famílias se situava 4,1% abaixo. Para 2018, o
relatório da inflação indica crescimento de 3% na FBCF, ritmo ainda muito baixo
frente ao que se poderia esperar depois de retração tão acentuada nos últimos
quatro anos.
Fonte: IBGE.CNT
O crescimento de 2018, é possível inferir,
deverá ter como impulso principal o crescimento do poder de compra das famílias,
que finda gerando algum efeito positivo sobre os investimentos para responder a
estrangulamentos e oportunidades setoriais, dado que no agregado da economia o
nível de ociosidade permanece muito elevado. Não se deve esperar, em 2018, que a
safra agrícola e o setor externo voltem a contribuir significativamente no
crescimento do PIB. Consumo e investimentos, nessa ordem, deverão ser os
principais componentes de aceleração do crescimento da economia.
Parâmetros divulgados na semana passada pela
Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, revê a
projeção do incremento do PIB de 2018 de 2% para 3%. E revela pelo menos dois
dados elucidativos: o primeiro é que o retardo na redução dos juros nominais
teria contribuído para reduzir o PIB de 2017 em 0,8%. Para 2018, a política
monetária impulsionaria o PIB em 1%, enquanto a política fiscal seria
neutra. A estimativa da SPE é que o
Hiato de Produto atual seria de 3%, mais um indicador de que, pelo lado da
oferta, no agregado há espaço para crescer sem investimento líquido.
Publicado no Jornal da Cidade, em 17/12/2017
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