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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A recuperação pelo consumo: compressão do gasto público restringe a retomada

Ricardo Lacerda*
Apressado em comemorar os sinais mais consistentes de recuperação da economia, o ministro Meireles afirmou que os números da atividade econômica nos dois primeiros trimestres do ano são muito positivos e fortes e sinalizou que pode rever a projeção de crescimento do PIB de 2017 de 0,5% para 1%. Como assinalamos no artigo da semana passada, o crescimento da atividade econômica no primeiro semestre de 2017, apesar de lento, indica que a economia brasileira deixou para trás o fundo do poço e iniciou uma modesta recuperação, que deverá prosseguir no próximos trimestres.
No acumulado dos dois trimestres, o PIB brasileiro apresentou incremento de 1,3%, compensando no período aquilo que havia perdido no segundo semestre de 2016, ou seja, o PIB do 1º semestre de 2017 igualou-se ao do 1º semestre de 2016. Em grande parte, a expansão do nível de atividade da economia em 2017 responde aos mecanismos de recuperação próprios aos ciclos de negócios, depois de oito trimestres de declínios.
Setores de atividade
Em termos setoriais, as atividades que mais contribuíram para o crescimento da economia no 1º semestre de 2017 foram a Agropecuária, a atividade Extrativa mineral (inclusive petróleo), a Geração de energia, o Comércio, a atividade de Transporte e armazenagem e o agrupamento de atividades classificadas como Outros serviços.  A Indústria de transformação também registrou crescimento importante no semestre, apesar de ter desacelerado na passagem do 1º para o 2º trimestre.
A tabela apresentada registra nas duas últimas colunas a comparação, por atividade, do valor da produção do 1º semestre de 2017 em relação aos mesmos períodos de 2016 e de 2015.
Em alguns casos, a recuperação no primeiro semestre decorreu de movimentos específicos dos próprios segmentos e não estão relacionados com os mecanismos do ciclo de negócios, como a melhoria do regime de chuvas ou nas cotações internacionais do produto. Tais foram os casos da agropecuária e da extração de minérios, respectivamente.
A agropecuária ao longo dos dois primeiros trimestres do ano cresceu 11,5%. Na comparação com os mesmos semestres de 2016 e 2015,  a atividade agropecuária registrou incremento, respectivamente, de 15% e 6,7%, indicando que quase a metade da expansão no 1º semestre de 2017 foi na verdade recuperação do que havia sido perdido em 2016 por conta da estiagem (ver Tabela).
A extração mineral, que teve incremento de 2,1% ao longo do 1ºsemestre de 2017, repôs na verdade o valor da produção que havia perdido em 2016, posto que na comparação com o 1º semestre de 2015 o valor da produção do segmento registrou crescimento de apenas 0,1%.
Reversão para cima
Em outras atividades, os incrementos do valor da produção em 2017 aparentemente indicam que o ciclo de negócio começou a reverter a trajetória até então descendente em direção à retomada. A indústria de transformação cresceu 1,2% no 1º semestre do ano, ainda que se situe 1% abaixo do mesmo período de 2016 e 8,5% inferior a 2015. A atividade de construção, por enquanto, manteve-se em queda.
No segmento de Serviços, as atividades que mais contribuíram para o crescimento em 2017, até o 1º semestre, como o Comércio, Transporte e armazenagem e Outros serviços, repuseram parcialmente, mesmo que em ritmos dignos de destaque, as quedas acentuadas que tiveram em períodos anteriores. 
Setor público
É importante assinalar que o consumo do governo no 2º trimestre de 2017 registrou a quarta queda consecutiva. Ao longo do 1º semestre de 2017, o agrupamento de atividades que abrange a Administração, saúde e educação públicas recuou 0,6%, se situando 1% abaixo do patamar do 1º semestre de 2016. Como se sabe, diante da aprovação teto dos gastos públicos, as atividades desse agrupamento não deverão puxar o crescimento do PIB nos próximos anos.
Para o bem ou para o mal, o crescimento do PIB nos próximos trimestre, que deverá ser ainda modesto, será impulsionado pelos gastos privados, notadamente das famílias, à medida em que paulatinamente o mercado de trabalho for retomando, posto que não há grandes expectativas no curto prazo em relação ao retorno dos investimentos.
A recuperação da economia, até o momento, nada tem tem espetacular e tampouco reflete um suposto acerto das políticas adotadas pela equipe comandada por Meireles e Ilan Goldfajn. Ela responde basicamente à correção parcial, pelos mecanismos do ciclo de negócios, da queda excessiva que se seguiu ao ajuste promovido pelo ministro Joaquim Levy entre o final de 2014 e primeira metade de 2015 e que foram potencializados pela crise política-policial.


Tabela. Taxa de crescimento do PIB no 1º e 2º trimestres de 2017 (%)
Atividades
Crescimento em 2017
Comparação com 1ºs semestres de 2016 e 2015
2017.I
%
2017.II
%
Acumulado 1º semestre
%
1º semestre de 2017/ 1º semestre de 2016
%
1º semestre de 2017/ 1º semestre de 2015
%
PIB
1,0
0,2
1,3
0,0
-4,5
Agropecuária
11,5
0,0
11,5
15,0
6,7
Total Industria
0,7
-0,5
0,2
-1,6
-6,5
Ext. Mineral
1,8
0,4
2,1
7,8
0,1
Transformação
1,1
0,1
1,2
-1,0
-8,5
SIUP
3,1
-1,3
1,7
1,9
8,3
Construção
-0,5
-2,0
-2,5
-6,6
-10,4
Total Serv
0,2
0,6
0,8
-1,0
-4,1
Comércio
-0,2
1,9
1,8
-0,8
-9,3
Transporte e armaz.
3,1
0,6
3,7
-1,4
-7,9
Serv. de informação
1,9
-2,0
-0,1
-1,4
-5,2
Interm. Financeira
-0,6
-0,2
-0,8
-3,1
-5,1
Ativ. Imobiliárias
0,2
0,8
1,1
0,1
0,4
Outros Serv.
0,9
0,8
1,7
-0,7
-4,3
APU, educ e saúde públicas
-0,3
-0,3
-0,6
-1,0
-0,8

Fonte: IBGE.CNT

Publicado no Jornal da Cidade, em 10/09/2017

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