Ricardo
Lacerda*
Apressado
em comemorar os sinais mais consistentes de recuperação da economia, o ministro
Meireles afirmou que os números da atividade econômica nos dois primeiros
trimestres do ano são muito positivos e fortes e sinalizou que pode rever a
projeção de crescimento do PIB de 2017 de 0,5% para 1%. Como assinalamos no
artigo da semana passada, o crescimento da atividade econômica no primeiro
semestre de 2017, apesar de lento, indica que a economia brasileira deixou para
trás o fundo do poço e iniciou uma modesta recuperação, que deverá prosseguir
no próximos trimestres.
No
acumulado dos dois trimestres, o PIB brasileiro apresentou incremento de 1,3%, compensando
no período aquilo que havia perdido no segundo semestre de 2016, ou seja, o PIB
do 1º semestre de 2017 igualou-se ao do 1º semestre de 2016. Em grande parte, a
expansão do nível de atividade da economia em 2017 responde aos mecanismos de recuperação
próprios aos ciclos de negócios, depois de oito trimestres de declínios.
Setores de atividade
Em
termos setoriais, as atividades que mais contribuíram para o crescimento da
economia no 1º semestre de 2017 foram a Agropecuária, a atividade Extrativa
mineral (inclusive petróleo), a Geração de energia, o Comércio, a atividade de Transporte
e armazenagem e o agrupamento de atividades classificadas como Outros
serviços. A Indústria de transformação
também registrou crescimento importante no semestre, apesar de ter desacelerado
na passagem do 1º para o 2º trimestre.
A
tabela apresentada registra nas duas últimas colunas a comparação, por
atividade, do valor da produção do 1º semestre de 2017 em relação aos mesmos
períodos de 2016 e de 2015.
Em
alguns casos, a recuperação no primeiro semestre decorreu de movimentos específicos
dos próprios segmentos e não estão relacionados com os mecanismos do ciclo de
negócios, como a melhoria do regime de chuvas ou nas cotações internacionais do
produto. Tais foram os casos da agropecuária e da extração de minérios,
respectivamente.
A agropecuária
ao longo dos dois primeiros trimestres do ano cresceu 11,5%. Na comparação com
os mesmos semestres de 2016 e 2015, a
atividade agropecuária registrou incremento, respectivamente, de 15% e 6,7%,
indicando que quase a metade da expansão no 1º semestre de 2017 foi na verdade
recuperação do que havia sido perdido em 2016 por conta da estiagem (ver
Tabela).
A
extração mineral, que teve incremento de 2,1% ao longo do 1ºsemestre de 2017,
repôs na verdade o valor da produção que havia perdido em 2016, posto que na
comparação com o 1º semestre de 2015 o valor da produção do segmento registrou
crescimento de apenas 0,1%.
Reversão para cima
Em
outras atividades, os incrementos do valor da produção em 2017 aparentemente
indicam que o ciclo de negócio começou a reverter a trajetória até então descendente
em direção à retomada. A indústria de transformação cresceu 1,2% no 1º semestre
do ano, ainda que se situe 1% abaixo do mesmo período de 2016 e 8,5% inferior a
2015. A atividade de construção, por enquanto, manteve-se em queda.
No
segmento de Serviços, as atividades que mais contribuíram para o crescimento em
2017, até o 1º semestre, como o Comércio, Transporte e armazenagem e Outros
serviços, repuseram parcialmente, mesmo que em ritmos dignos de destaque, as
quedas acentuadas que tiveram em períodos anteriores.
Setor público
É
importante assinalar que o consumo do governo no 2º trimestre de 2017 registrou
a quarta queda consecutiva. Ao longo do 1º semestre de 2017, o agrupamento de
atividades que abrange a Administração, saúde e educação públicas recuou 0,6%,
se situando 1% abaixo do patamar do 1º semestre de 2016. Como se sabe, diante
da aprovação teto dos gastos públicos, as atividades desse agrupamento não
deverão puxar o crescimento do PIB nos próximos anos.
Para
o bem ou para o mal, o crescimento do PIB nos próximos trimestre, que deverá
ser ainda modesto, será impulsionado pelos gastos privados, notadamente das
famílias, à medida em que paulatinamente o mercado de trabalho for retomando,
posto que não há grandes expectativas no curto prazo em relação ao retorno dos
investimentos.
A
recuperação da economia, até o momento, nada tem tem espetacular e tampouco
reflete um suposto acerto das políticas adotadas pela equipe comandada por
Meireles e Ilan Goldfajn. Ela responde basicamente à correção parcial, pelos
mecanismos do ciclo de negócios, da queda excessiva que se seguiu ao ajuste
promovido pelo ministro Joaquim Levy entre o final de 2014 e primeira metade de
2015 e que foram potencializados pela crise política-policial.
Tabela. Taxa de crescimento do PIB no 1º e 2º trimestres de 2017 (%)
|
|||||
Atividades
|
Crescimento em 2017
|
Comparação com 1ºs semestres de 2016 e 2015
|
|||
2017.I
%
|
2017.II
%
|
Acumulado
1º semestre
%
|
1º
semestre de 2017/ 1º semestre de 2016
%
|
1º
semestre de 2017/ 1º semestre de 2015
%
|
|
PIB
|
1,0
|
0,2
|
1,3
|
0,0
|
-4,5
|
Agropecuária
|
11,5
|
0,0
|
11,5
|
15,0
|
6,7
|
Total Industria
|
0,7
|
-0,5
|
0,2
|
-1,6
|
-6,5
|
Ext. Mineral
|
1,8
|
0,4
|
2,1
|
7,8
|
0,1
|
Transformação
|
1,1
|
0,1
|
1,2
|
-1,0
|
-8,5
|
SIUP
|
3,1
|
-1,3
|
1,7
|
1,9
|
8,3
|
Construção
|
-0,5
|
-2,0
|
-2,5
|
-6,6
|
-10,4
|
Total Serv
|
0,2
|
0,6
|
0,8
|
-1,0
|
-4,1
|
Comércio
|
-0,2
|
1,9
|
1,8
|
-0,8
|
-9,3
|
Transporte e armaz.
|
3,1
|
0,6
|
3,7
|
-1,4
|
-7,9
|
Serv. de informação
|
1,9
|
-2,0
|
-0,1
|
-1,4
|
-5,2
|
Interm. Financeira
|
-0,6
|
-0,2
|
-0,8
|
-3,1
|
-5,1
|
Ativ. Imobiliárias
|
0,2
|
0,8
|
1,1
|
0,1
|
0,4
|
Outros Serv.
|
0,9
|
0,8
|
1,7
|
-0,7
|
-4,3
|
APU, educ e saúde
públicas
|
-0,3
|
-0,3
|
-0,6
|
-1,0
|
-0,8
|
Fonte: IBGE.CNT
Publicado no Jornal da Cidade, em 10/09/2017
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