Ricardo
Lacerda*
O setor
de construção civil vem se apresentando como um dos segmentos produtivos mais
intensamente impactados pela crise econômica nacional. Desde que iniciou sua
trajetória de declínio, no segundo trimestre de 2014, a produção do setor encolheu
21%; no segundo trimestre de 2017, a produção da construção civil se situava em
79% do que apresentava no 1º trimestre de 2014. O dado mais recente de evolução da atividade
informa que a produção do setor recuou 2% entre o primeiro e o segundo
trimestres de 2017.
Ainda
assim, no meses mais recentes, há sinais no mercado de trabalho, mesmo que
tênues, de que o setor pode estar atingido o fundo do poço, próximo a um ponto
de estabilização.
Já
por dois meses (julho e agosto), o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED), do Ministério do Trabalho e Previdência Social, registra que o emprego
formal no setor deixou de cair.
É
importante assinalar que o emprego formal na construção civil vinha despencando
continuamente desde outubro de 2014. A
partir de janeiro de 2017, todavia, o ritmo de queda do emprego formal no setor
vem sendo muito atenuado, em relação à media mensal dos dois anos anteriores,
até voltar a apresentar o saldo positivo de 724 empregos formais em julho e de 1.017,
em agosto (ver Gráfico 1). Em Sergipe, o emprego formal na construção civil
também deixou de cair nos últimos dois meses.
Fonte:
MTPS. CAGED
Os
dados da Pnad Contínua confirmam uma melhoria relativa do mercado de trabalho
na construção civil, abrangendo o conjunto das atividades formais e informais.
Na evolução na margem dos trimestres móveis, a ocupação na construção civil
registrou saldo positivo nos trimestres abril-maio-junho e maio-junho-julho em
relação aos trimestres móveis imediatamente anteriores, ainda que em valores
pouco expressivos.
A derrocada
A construção
civil vem despencando continuamente desde meados de 2014. Na comparação entre o
trimestre maio–julho de 2014 e o mesmo trimestre de 2017, foram eliminadas um
milhão de ocupações no setor, entre atividades formais e informais.
A
perda de ocupações na construção civil foi mais acentuada nas atividades
formais, principalmente na construção habitacional. Na comparação entre agosto
de 2014 e agosto de 2017, o contingente de trabalhadores ocupados na construção
caiu de 3.225.068 para 2.208.008, ou seja, foram eliminados mais de um milhão
de vínculos celetistas, equivalentes a 31,5% do total de trabalhadores do setor.
Nesse intervalo de tempo, quase 1/3 da força de trabalho empregada na atividade
formal construção civil perdeu ocupação.
A
produção do setor também despencou. Na comparação entre o 1º semestre de 2014 e
1º semestre de 2017, a queda da produção da construção civil (de 18,1%) foi
superior à enfrentada pela indústria de transformação (16%), enquanto a
retração do emprego formal entre agosto de 2014 e agosto de 2017 foi mais do
que o dobro na construção, (31,5% e 12,9%, respectivamente).
Perspectivas
Diferentemente
da indústria de transformação, que se encontra em uma encruzilhada, sem perspectivas
de desenvolvimento de longo prazo por falta de competitividade, a crise na
construção civil tem um caráter mais cíclico, associado à exaustão do boom
imobiliário que conheceu entre o final de 2006 e 2013.
Enquanto
a indústria de transformação entrou em um processo de estagnação de difícil
superação desde setembro de 2008, não se recuperando dos impactos advindos com
a eclosão da crise financeira internacional, a construção civil brasileira
retomou e até acelerou a expansão depois de 2008, até ver o crescimento
interrompido bruscamente a partir de meados de 2013 (ver Gráfico 2).
Fonte:
IBGE.CNT
A
crise das finanças públicas e a eclosão das denúncias da Lava Jato complementam
a derrocada do setor, atingindo tanto o segmento habitacional quanto as obras
´de infraestrutura urbana e produtiva.
É
importante ponderar que, caso venha se confirmar a estabilização do nível de
atividade da construção civil nos próximos trimestres, acompanhada por alguma
elevação do emprego, isso não significa que o setor já tenha deixado a crise
para trás e vá passar a exibir uma retomada expressiva. O mais provável é que a
construção civil, com alguma defasagem temporal em relação ao que se verificou
com a indústria de transformação, venha a conhecer nos próximos meses uma
correção para cima do nível de produção, apesar de o setor contar com
especificidades que o distinguem muito da indústria de transformação.
Mais
do que a indústria de transformação, a recuperação da construção civil depende
da normalização das condições de crédito e da melhoria do nível de endividamento
das famílias. Adicionalmente, a recuperação do setor depende do próprio retorno
da confiança sobre as possibilidades de retomada do crescimento da economia
nacional.
Publicado no Jornal da Cidade, em 25/09/2017