Ricardo Lacerda
A destruição de emprego formal em 2016 foi
generalizada abrangendo todos os setores de atividade e todas as regiões
brasileiras. Ainda assim, a eliminação de vínculos empregatícios diferenciou-se
muito quando são examinadas as atividades e as regiões.
O corte de emprego formal foi
proporcionalmente maior no Norte, Sudeste e Nordeste e relativamente menos
acentuado nas regiões Sul e Centro-Oeste. No ano anterior, 2015, os cortes do emprego
formal nas regiões Norte e Sudeste já haviam sido superiores à média nacional,
enquanto nas regiões Centro-Sul e Sul haviam sido abaixo dessa média; a taxa de
redução do emprego do Nordeste se igualou à média nacional.
Em 2016, diferentemente de 2015, mais do que
o perfil setorial de cada região, contou para as diferenças na redução do
emprego o desempenho dentro de cada um dos setores. Assim, em 2016, a região
Norte registrou taxa de destruição elevada de postos formais de trabalho em
decorrência de atividades como a construção civil, a indústria de transformação
e o comércio eliminarem proporcionalmente mais empregos na região do que na
média do país e menos porque as atividades que mais recuaram no emprego
tivessem um peso maior na ocupação da região do que na média do país, embora
isso também tenha sido verdadeiro.
Talvez esses resultados de 2016 já reflitam a
contaminação no âmbito de cada região do corte do emprego e da renda nos
setores que lideraram as quedas no período anterior sobre as demais atividades.
Outra hipótese é que dentro dos grupos de
atividade da indústria de transformação e de serviços os perfis em termos de
subsetores possam ter explicado uma parcela expressiva do pior desempenho das
três regiões, mas esse recorte não será examinado no presente artigo.
Setores
Em termos de composição setorial, do total de
um milhão, trezentos e vinte e dois mil empregos celetistas que foram cortados no
Brasil em 2016, 96,5% se concentraram nas atividades de serviços (29,5%),
construção civil (27,1%), indústria de transformação (24,4%) e atividades
comerciais (15,5%).
Entre esses setores mais expressivos em
termos de corte do emprego formal, as maiores quedas relativas se deram na
construção civil, em que o emprego recuou 13,48%, e na indústria de
transformação, que perdeu 4,23% dos vínculos empregatícios, e foram
relativamente menores nas atividades comerciais (2,22%) e de serviços (2,28%).
Regiões
A tabela 1 apresenta as taxas de crescimento
do emprego em 2016 de cada região segundo os setores de atividade. Estão
destacadas as células em que o desempenho do setor em uma determinada região
foi pior do que na média do país. As
atividades foram ordenadas segundo o peso que tiveram no saldo negativo do
emprego formal no país em 2016.
Entre os quatro setores de atividade de maior
participação na queda do emprego (serviços, construção civil, indústria de
transformação e comércio), a região Norte teve desempenho pior do que a média
do país em três delas, somente registrando retração menos acentuada no setor de
serviços, com a particularidade de que as desvantagens que apresentou nos
outros três setores foi muito maior do que a queda menos acentuada naquele segmento.
No caso do Sudeste, que ao final de 2015
participava com mais da metade do total de empregos com vínculos celetistas no
país, entre as quatro atividades de maior peso nacional a região somente teve
desempenho relativamente menos ruim do que a média nacional no comércio,
enquanto os cortes do emprego nos setores de serviços, construção civil e na
indústria de transformação foram mais acentuados. A região Sudeste registrou ainda desempenhos
piores do que a média nacional na indústria extrativa mineral e nos empregos
celetistas da administração pública.
Já a região Nordeste, entre as principais
atividades empregadoras, apresentou quedas superiores à média nacional na
construção civil e no comércio e reduções relativamente menores do que a média
na indústria de transformação e no setor de serviços.
Sul e Centro-Oeste
O caso da região Sul é de fato destacado dos
demais. Ainda que a região tenha cortado 146,5 mil empregos formais em 2016, não
poupando nenhum setor de atividade, com exceção do relativamente pouco
expressivo emprego celetista na administração pública, as taxas de redução do
emprego formal foram em geral significativamente bem menores do que a média
nacional (ver tabelas 1 e 2).
Na construção civil, por exemplo, o emprego
formal no Sul caiu 8,69%, quando a média do país foi de corte de 13,48%. No setor de comércio, o emprego formal da
região recuou 0,85% quando na média do país a queda foi de 2,22%. Note-se que a
indústria de transformação tem um peso no emprego formal da região Sul bem
superior à média nacional e a atividade também vem sendo fortemente impactada,
mas a queda do emprego, ainda que muito elevada, foi significativamente
inferior à média do país.
Na região Centro-Oeste, entre as principais
atividades citadas, a retração do emprego foi superior à média do país apenas
no comércio. É digno de nota o fato de que a crise na construção civil do país,
ainda que generalizada nas cinco regiões, levou a um corte de emprego bem
inferior nas regiões Centro-Oeste e Sul.
Nossa hipótese para os resultados piores do
que a média nacional para as regiões Norte, Sudeste e Nordeste em 2016 é de que
a crise mais aguda nos setores mais impactados na região no primeiro momento espraiou-se pelas demais setores, contaminado o conjunto das atividades
de forma mais acentuada do que nas regiões Sul e Centro-Oeste.
Tabela
1. Taxa de evolução do emprego formal das regiões brasileiras em 2016 segundo
setores de atividade (%)
|
||||||
Setores
|
BR
|
N
|
NE
|
SE
|
S
|
CO
|
Total
|
-3,33
|
-4,37
|
-3,63
|
-3,78
|
-2,03
|
-2,11
|
Serviços
|
-2,28
|
-1,99
|
-2,01
|
-2,78
|
-1,19
|
-1,55
|
Construção
civil
|
-13,48
|
-17,00
|
-15,06
|
-14,58
|
-8,69
|
-7,99
|
Indústria
de transformação
|
-4,23
|
-5,47
|
-3,78
|
-4,93
|
-3,26
|
-2,93
|
Comércio
|
-2,22
|
-3,66
|
-2,97
|
-2,17
|
-0,85
|
-2,91
|
Agropecuária
|
-0,84
|
-1,56
|
0,04
|
-2,77
|
-0,28
|
2,88
|
SIUP
|
-3,07
|
-0,68
|
-8,70
|
-2,23
|
-1,10
|
0,89
|
Extrativa
mineral
|
-5,67
|
-0,42
|
-6,88
|
-6,22
|
-5,00
|
-8,00
|
Administração
pública
|
-0,97
|
-0,43
|
0,04
|
-2,19
|
0,67
|
-0,32
|
Fonte: MTPS-CAGED
Tabela 2. Saldo do emprego formal das
regiões brasileiras em 2016 segundo setores de atividade (empregados)
|
||||||
BR
|
N
|
NE
|
SE
|
S
|
CO
|
|
Total
(mil
pessoas)
|
-1.322,0
|
-80,4
|
-239,2
|
-788,6
|
-146,5
|
-67,3
|
Ext.
Mineral
|
-11.888
|
-102
|
-2.423
|
-7.138
|
-1.045
|
-1.180
|
Ind.
De transf.
|
-322.526
|
-14.461
|
-39.593
|
-189.740
|
-64.820
|
-13.912
|
SIUP
|
-12.687
|
-161
|
-7.561
|
-4.476
|
-769
|
280
|
Const.
Civil
|
-358.679
|
-31.908
|
-86.107
|
-190.292
|
-33.536
|
-16.836
|
Comércio
|
-204.373
|
-18.823
|
-48.214
|
-100.869
|
-14.202
|
-22.265
|
Serviços
|
-390.109
|
-13.174
|
-55.546
|
-267.970
|
-32.281
|
-21.138
|
Adm
pública
|
-8.643
|
-293
|
90
|
-9.147
|
868
|
-161
|
Agropecuária
|
-13.089
|
-1.493
|
115
|
-18.926
|
-687
|
7.902
|
Fonte: MTPS-CAGED
Publicado no Jornal da Cidade, em 05/02/2016
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