Ricardo Lacerda
Ansiosos por notícias alvissareiras
acompanhamos cada publicação de indicadores do nível de atividade na esperança
de que a economia finalmente tenha atingido o fundo do poço e possa a partir de
então iniciar uma retomada, ainda que muito modesta. Tem sido assim desde o segundo semestre de
2015, sem que a tão aguardada retomada do crescimento tenha se confirmado. No
segundo trimestre de 2016 disseminou-se a expectativa de que o crescimento da
economia finalmente estaria a caminho, o que não se confirmou nos trimestres
seguintes.
No momento, nova articulação de governo e
mídia se mobiliza na tentativa de elevar os ânimos de empresas e consumidores a
respeito das perspectivas de crescimento da economia brasileira em 2017. Na
semana que passou, o ministro Meirelles afirmou que a economia já se
encontraria em pleno crescimento no 1º trimestre do ano. Para Meirelles, a
economia já engrenou o motor de crescimento e no 4º trimestre de 2017 o PIB
deverá estar rodando em 2%, na comparação com o mesmo período de 2016. Por
enquanto, o governo mantém, afirmou o ministro, a projeção de expansão do PIB
de 2017 em 1%, em descompasso com as projeções de mercado, de 0,5%, e do FMI,
de 0,2%. Para Meirelles, dessa vez vai ser diferente e a economia vai retomar o
crescimento progressiva e sustentadamente.
Cautela
Certamente, o ministro Meirelles apoia suas
projeções em indicadores antecedentes, como os índices de confiança, e em
resultados parciais, como a evolução da arrecadação e das operações de crédito,
além das expectativas em relação aos desempenhos do setor agrícola e do setor
externo. Alguns analistas externam a crença de que as quedas em curso da
inflação e dos juros nominais deverão promover algum impulso sobre o poder de
compra das famílias e das empresas.
Há, todavia, quem se mantenha precavido em
relação a esse novo surto de otimismo oficial, mesmo com projeções de
crescimento muito modesto e em relação a uma base de comparação muito
rebaixada. Além dos desdobramentos imprevisíveis da crise política, a economia permanece
muito fragilizada, com desemprego em alta e com elevados graus de endividamento.
Fonte: IBGE. PIM
Atividade industrial
Na atividade industrial, o volume de produção
apresentou evolução positiva em novembro e dezembro, mas o resultado do 4º trimestre
de 2016 foi tão ruim ou pior do que o do 3º trimestre; ainda que as taxas de
retração tenham sido idênticas, a taxa de difusão da retração foi muito maior
no trimestre final. Em ambos os períodos, a produção física da indústria geral
recuou 0,7%, mas no último trimestre 16 subsetores apresentaram queda, frente a
13 que se retraíram no 3º trimestre (ver Tabela).
É importante registrar que o crescimento das
indústrias extrativas tem impedido uma queda mais acentuada do conjunto da
indústria geral, dado que as atividades de transformação recuaram 1,1% em cada
um dos últimos dois trimestres de 2016 (ver Gráfico).
Depois de ter despencando 5,9% no 1º
trimestre de 2016, o volume de produção das indústrias extrativas registrou
recuperação robusta nos três trimestres seguintes. A indústria de transformação
teve um grande tropeço nos meses de julho e agosto que fez abortar a retomada
que se ensaiava no segundo trimestre.
Subsetores de peso na indústria de
transformação, voltaram a cair na segunda metade do ano, sejam atividades mais
dependentes do poder de compra das famílias; sejam atividades voltadas para o
comércio exterior; sejam aquelas atividades arrastadas pela crise na cadeia de
produção da construção civil; sejam atividades mais dependentes do acesso ao
crédito e da confiança em relação ao futuro. Assim despencaram no 3º ou no 4º
trimestres a fabricação de alimentos, produtos farmacêuticos, produtos de
limpeza, higiene e cosméticos, produção de fumo, as atividades têxteis, de couro
e calçados, minerais não-metálicos, produtos de madeira, móveis, e máquinas e
materiais elétricos (ver Tabela).
Convém, portanto, manter cautela. Indicadores
do nível de atividade podem oscilar muito de um mês para outro em função de uma
série de fatores, como recomposição de estoques, antecipação de decisão compras
etc. É necessário observar os
comportamentos por alguns meses para identificar com mais segurança a reversão de
tendências setoriais.
Tabela.
Taxa de crescimento da produção física trimestral das atividades industriais,
em relação ao trimestre imediatamente anterior (%)
|
||||
Setor
|
1ºT
|
2ºT
|
3ºT
|
4ºT
|
Indústria
geral
|
-2,4
|
1,3
|
-0,7
|
-0,7
|
Indústrias
extrativas
|
-5,9
|
2,8
|
2,0
|
2,0
|
Indústrias
de transformação
|
-2,0
|
1,2
|
-1,1
|
-1,1
|
Produtos
alimentícios
|
0,2
|
3,2
|
-3,8
|
-1,9
|
Bebidas
|
-2,2
|
3,3
|
-1,9
|
-5,7
|
Produtos do fumo
|
5,2
|
-23,8
|
-22,3
|
2,3
|
Produtos têxteis
|
0,7
|
5,7
|
1,9
|
-2,2
|
Confecção de artigos
do vestuário e acessórios
|
-1,0
|
-0,9
|
0,3
|
7,4
|
Couros e calçados
|
0,9
|
2,6
|
-1,3
|
-0,3
|
Produtos de madeira
|
5,1
|
2,8
|
0,2
|
-1,6
|
Celulose e papel
|
1,0
|
2,1
|
0,1
|
0,9
|
Coque, derivados do
petróleo e de biocombustíveis
|
0,4
|
-5,5
|
-4,0
|
-1,8
|
Produtos de limpeza
e cosméticos
|
0,2
|
1,8
|
-0,4
|
-4,3
|
Outros produtos
químicos
|
2,0
|
0,7
|
0,0
|
-1,4
|
Produtos
farmacêuticos
|
0,0
|
-5,3
|
-3,8
|
-8,3
|
Borracha e plástico
|
-4,1
|
1,4
|
1,8
|
-2,7
|
Minerais
não-metálicos
|
-2,6
|
-0,1
|
-3,8
|
-2,2
|
Metalurgia
|
-3,1
|
0,0
|
5,0
|
-3,5
|
Produtos de metal,
exceto máq. e equip.
|
-0,9
|
-1,9
|
1,3
|
-4,3
|
Equipamentos de
informática, eletrônicos e ópticos
|
-8,2
|
2,7
|
6,3
|
9,9
|
Máquinas e
materiais elétricos
|
0,1
|
4,5
|
-2,6
|
-10,3
|
Máquinas e
equipamentos
|
-7,7
|
7,2
|
-1,7
|
0,0
|
Veículos automotores
|
-1,5
|
2,7
|
1,4
|
5,5
|
Outros equipamentos
de transporte
|
-8,0
|
-4,3
|
-1,7
|
-10,2
|
Móveis
|
4,3
|
-6,2
|
-1,5
|
-0,8
|
Produtos diversos
|
1,5
|
-3,3
|
-0,6
|
2,1
|
Fonte: IBGE. PIM
Publicado no Jornal da Cidade, em 12/02/2017
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