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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Indústria de transformação recua 1,1% no 4º trimestre de 2016

Ricardo Lacerda
Ansiosos por notícias alvissareiras acompanhamos cada publicação de indicadores do nível de atividade na esperança de que a economia finalmente tenha atingido o fundo do poço e possa a partir de então iniciar uma retomada, ainda que muito modesta.  Tem sido assim desde o segundo semestre de 2015, sem que a tão aguardada retomada do crescimento tenha se confirmado. No segundo trimestre de 2016 disseminou-se a expectativa de que o crescimento da economia finalmente estaria a caminho, o que não se confirmou nos trimestres seguintes.
No momento, nova articulação de governo e mídia se mobiliza na tentativa de elevar os ânimos de empresas e consumidores a respeito das perspectivas de crescimento da economia brasileira em 2017. Na semana que passou, o ministro Meirelles afirmou que a economia já se encontraria em pleno crescimento no 1º trimestre do ano. Para Meirelles, a economia já engrenou o motor de crescimento e no 4º trimestre de 2017 o PIB deverá estar rodando em 2%, na comparação com o mesmo período de 2016. Por enquanto, o governo mantém, afirmou o ministro, a projeção de expansão do PIB de 2017 em 1%, em descompasso com as projeções de mercado, de 0,5%, e do FMI, de 0,2%. Para Meirelles, dessa vez vai ser diferente e a economia vai retomar o crescimento progressiva e sustentadamente.
Cautela
Certamente, o ministro Meirelles apoia suas projeções em indicadores antecedentes, como os índices de confiança, e em resultados parciais, como a evolução da arrecadação e das operações de crédito, além das expectativas em relação aos desempenhos do setor agrícola e do setor externo. Alguns analistas externam a crença de que as quedas em curso da inflação e dos juros nominais deverão promover algum impulso sobre o poder de compra das famílias e das empresas. 
Há, todavia, quem se mantenha precavido em relação a esse novo surto de otimismo oficial, mesmo com projeções de crescimento muito modesto e em relação a uma base de comparação muito rebaixada. Além dos desdobramentos imprevisíveis da crise política, a economia permanece muito fragilizada, com desemprego em alta e com elevados graus de endividamento.



Fonte: IBGE. PIM


Atividade industrial
Na atividade industrial, o volume de produção apresentou evolução positiva em novembro e dezembro, mas o resultado do 4º trimestre de 2016 foi tão ruim ou pior do que o do 3º trimestre; ainda que as taxas de retração tenham sido idênticas, a taxa de difusão da retração foi muito maior no trimestre final. Em ambos os períodos, a produção física da indústria geral recuou 0,7%, mas no último trimestre 16 subsetores apresentaram queda, frente a 13 que se retraíram no 3º trimestre (ver Tabela).
É importante registrar que o crescimento das indústrias extrativas tem impedido uma queda mais acentuada do conjunto da indústria geral, dado que as atividades de transformação recuaram 1,1% em cada um dos últimos dois trimestres de 2016 (ver Gráfico).
Depois de ter despencando 5,9% no 1º trimestre de 2016, o volume de produção das indústrias extrativas registrou recuperação robusta nos três trimestres seguintes. A indústria de transformação teve um grande tropeço nos meses de julho e agosto que fez abortar a retomada que se ensaiava no segundo trimestre.
Subsetores de peso na indústria de transformação, voltaram a cair na segunda metade do ano, sejam atividades mais dependentes do poder de compra das famílias; sejam atividades voltadas para o comércio exterior; sejam aquelas atividades arrastadas pela crise na cadeia de produção da construção civil; sejam atividades mais dependentes do acesso ao crédito e da confiança em relação ao futuro. Assim despencaram no 3º ou no 4º trimestres a fabricação de alimentos, produtos farmacêuticos, produtos de limpeza, higiene e cosméticos, produção de fumo, as atividades têxteis, de couro e calçados, minerais não-metálicos, produtos de madeira, móveis, e máquinas e materiais elétricos (ver Tabela).
Convém, portanto, manter cautela. Indicadores do nível de atividade podem oscilar muito de um mês para outro em função de uma série de fatores, como recomposição de estoques, antecipação de decisão compras etc.  É necessário observar os comportamentos por alguns meses para identificar com mais segurança a reversão de tendências setoriais. 

Tabela. Taxa de crescimento da produção física trimestral das atividades industriais, em relação ao trimestre imediatamente anterior (%)
Setor
1ºT
2ºT
3ºT
4ºT
Indústria geral
-2,4
1,3
-0,7
-0,7
Indústrias extrativas
-5,9
2,8
2,0
2,0
Indústrias de transformação
-2,0
1,2
-1,1
-1,1
Produtos alimentícios
0,2
3,2
-3,8
-1,9
Bebidas
-2,2
3,3
-1,9
-5,7
Produtos do fumo
5,2
-23,8
-22,3
2,3
Produtos têxteis
0,7
5,7
1,9
-2,2
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
-1,0
-0,9
0,3
7,4
Couros e calçados
0,9
2,6
-1,3
-0,3
Produtos de madeira
5,1
2,8
0,2
-1,6
Celulose e papel
1,0
2,1
0,1
0,9
Coque, derivados do petróleo e de biocombustíveis
0,4
-5,5
-4,0
-1,8
Produtos de limpeza e cosméticos
0,2
1,8
-0,4
-4,3
Outros produtos químicos
2,0
0,7
0,0
-1,4
Produtos farmacêuticos
0,0
-5,3
-3,8
-8,3
Borracha e plástico
-4,1
1,4
1,8
-2,7
Minerais não-metálicos
-2,6
-0,1
-3,8
-2,2
Metalurgia
-3,1
0,0
5,0
-3,5
Produtos de metal, exceto máq. e equip.
-0,9
-1,9
1,3
-4,3
Equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos
-8,2
2,7
6,3
9,9
Máquinas e materiais elétricos
0,1
4,5
-2,6
-10,3
Máquinas e equipamentos
-7,7
7,2
-1,7
0,0
Veículos automotores
-1,5
2,7
1,4
5,5
Outros equipamentos de transporte
-8,0
-4,3
-1,7
-10,2
Móveis
4,3
-6,2
-1,5
-0,8
Produtos diversos
1,5
-3,3
-0,6
2,1

Fonte: IBGE. PIM

Publicado no Jornal da Cidade, em 12/02/2017

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